Hamas ataca radicais que declararam Estado islâmico em Gaza


Membros do Khund Ansar Allah protegem o líder do grupo, Abdel Latif Moussa, após a oração que deu origem a confrontos em Gaza

Militantes islâmicos radicais de um grupo pan-árabe desafiaram o domínio do grupo islâmico Hamas sobre a faixa de Gaza ao declarar nesta sexta-feira um "emirado islâmico" no território, levando a confrontos que mataram ao menos oito pessoas.

Pelo menos 40 pessoas ficaram feridas nos confrontos registrados na faixa de Gaza entre a polícia do grupo radical islâmico Hamas e do grupo radical sunita Khund Ansar Allah ("Os Guerreiros de Deus"), inspirado na rede terrorista Al Qaeda. Entre os feridos, há pelo menos três crianças, segundo fontes policiais.

O incidente aconteceu na tarde desta sexta-feira nos arredores da mesquita de Iben Taymeya, na cidade de Rafah, no sul da faixa de Gaza, na fronteira com o Egito. Os confrontos começaram logo após o fim das orações da sexta-feira (dia sagrado muçulmano), quando policiais do Hamas cercaram a mesquita depois que o xeque Abdelatif Moussa, líder espiritual do grupo islâmico radical sunita, declarou o estabelecimento de um emirado islâmico em Gaza, disseram testemunhas.

Moussa --conhecido pelos seguidores pelo nome de guerra ao estilo da Al Qaeda Abu al Nour al Maqdessi-- criticou durante as orações na mesquita o Hamas por não implementar a sharia (lei islâmica) e anunciou que seu grupo está realizando esforços para impô-la.

"Após confiar em Alá (Deus) e levando em conta as razões para a vitória e a consolidação, declaramos o nascimento de um novo emirado islâmico ao lado da santa Jerusalém", disse Moussa, um clérigo de meia idade com uma barba longa, que estava vestindo um manto vermelho. Ele fez a declaração cercado por quatro homens mascarados, armados com fuzis que usavam o que pareciam ser cintos com explosivos.

"Faço um apelo aos milicianos das Brigadas Qassam para que se unam a nós", disse o clérigo, advertindo que se o Hamas e seu governo não implementarem a sharia no território palestino "se transformarão em um partido islâmico fraco". O Hamas, que vencera a eleição parlamentar de 2006, tomou à força o controle de Gaza em 2007, em meio a conflitos com o grupo palestino laico Fatah, do presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, que desde então controla apenas a Cisjordânia.

Embora o Khund Ansar Allah ("Guerreiros de Deus') tenha reunido apenas algumas centenas de homens para o evento no qual o emirado foi declarado, a iniciativa foi vista como mais um desafio à visão do Hamas de um estado islâmico palestino por parte de grupos militantes pan-árabes alinhados à rede terrorista Al Qaeda.

O Hamas informou que suas forças de seguranças invadiram as fortalezas do movimento, incluindo a mesquita onde Moussa tinha anunciado a criação de um Estado teocrático.

Segundo as testemunhas, a polícia do Hamas rodeou a mesquita e deteve durante um tempo Moussa e seus seguidores. Mais tarde começou um confronto armado entre a polícia e os milicianos da Jihadi Salafi, ao qual se seguiu uma troca de tiros no qual foram lançadas várias bombas no bairro de Al Barazil, no oeste da cidade.

Segundo fontes policiais, as forças do Hamas demoliram à tarde a casa do xeque Moussa, atualmente em paradeiro desconhecido.

Na manhã desta sexta-feira, o líder do Hamas e ex-primeiro-ministro da ANP Ismail Haniyeh negou as acusações de Israel de que grupos extremistas islâmicos estrangeiros operam na faixa de Gaza.

"Não há nenhuma organização fanática estrangeira em Gaza que atue contra os americanos", assegurou Haniyeh, acrescentando: "Gaza não precisa de homens, temos os nossos".

Radicais

O Khund Ansar Allah e uma série de outros grupos pequenos e clandestinos tentam impor uma versão mais rigorosa da lei islâmica em Gaza e criticam o Hamas por não fazê-lo. Eles também se enfureceram com o Hamas por respeitar um cessar-fogo com Israel durante os últimos sete meses.

Os líderes do Hamas têm dito que pretendem dar o exemplo e não impor as suas opiniões sobre os outros. Dizem também que sua luta violenta é contra Israel, e não contra o mundo ocidental. Os apelos dos grupos mais radicais por uma guerra santa global minam as tentativas do Hamas de parecer mais moderado aos olhos ocidentais --mas podem servir a esse propósito caso os grupos sejam reprimidos.

O Khund Ansar Allah chamou a atenção pública em junho após ter reivindicado a responsabilidade por uma tentativa fracassada de atacar Israel a partir de Gaza.

O grupo alega inspirar-se na Al Qaeda, mas nenhum vínculo foi confirmado com a rede liderada pelo saudita Osama bin Laden.

Em julho, três extremistas muçulmanos do grupo refugiaram-se em um edifício no sul de Gaza, entregando-se ao à polícia do Hamas só após um longo confronto.

Não há dados precisos sobre o número de membros do Khund Ansar Allah e dos outros grupos extremistas semelhantes em Gaza.

Atualização: 06;57 BRT

Gaza, 15 ago (EFE).- O xeque Abdel-Latif Moussa, líder espiritual do grupo radical pró-Al Qaeda Ansar Jund Alá (Guerreros de Deus), morreu hoje em confrontos entre seus seguidores e as forças do Hamas na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza.

Além de Moussa, outras 19 pessoas morreram e cerca de 120 ficaram feridas nos choques armados, que começaram na tarde de ontem e se estenderam ao longo da noite, segundo informou o chefe dos serviços de emergência na Faixa, Muawiya Hassanein.

Fonte: FOLHA - Efe - AP

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