O ex-guerrilheiro Wilson Bueno Largo, conhecido como "Isaza" ou "Isaías", que fugiu com um seqüestrado das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) no último final de semana, afirmou nesta terça-feira que o grupo armado perdeu a orientação política e está a ponto de "desaparecer".
"As Farc nesse momento são um grupo já muito reduzido, uma guerrilha sem orientação política, que vai desaparecer. São uns guerrilheiros sem moral e com uma decomposição interna", afirmou o ex-guerrilheiro, em entrevista coletiva concedida no ministério de Defesa colombiano.
"Isaza" escapou neste final de semana de um acampamento da guerrilha com o ex-congressista Óscar Tulio Lizcano, seqüestrado havia oito anos, e se entregou às autoridades colombianas.
Em troca, o governo prometeu ao ex-guerrilheiro uma recompensa de cerca de US$ 420 mil, liberdade condicional e a possibilidade de asilo na França, cujo trâmite ainda está sendo avaliado pelo governo francês.
O ex-guerrilheiro de 28 anos, combatente das FARC há 12 anos, disse ter perdido seu tempo na luta armada e pediu que seus companheiros abandonem as armas.
"De todo coração, digo que a desmobilização é o melhor caminho que qualquer guerrilheiro pode tomar. Dêem-se essa oportunidade de se reencontrarem com suas famílias, voltar à sociedade e voltar a viver", disse.
Segundo dados do Ministério de Defesa, somente neste ano, 2.901 guerrilheiros se entregaram às autoridades colombianas, dos quais 63% pertenciam às FARC.
Sobre o futuro, "Isaza" disse que ainda não sabe se viajará à França ou a outro país, "por questões de segurança", mas adiantou que pretende utilizar parte da recompensa prometida para comprar uma casa para sua família.
Antes do asilo, o governo terá de solucionar a situação jurídica do ex-guerrilheiro. Ainda não está claro se a Justiça poderá anistiá-lo dos crimes de seqüestro e rebelião.
Uma das possibilidades, de acordo com o procurador público Mario Iguaran, é que o ex-guerrilheiro tenha o benefício de redução da pena, mas ele não se livraria da prisão.
Acordo humanitário
Depois de um período de silêncio, as Farc afirmaram, por meio de uma carta divulgada nesta terça-feira, que estão dispostas a reativar as negociações para um acordo humanitário e, para isso, solicitou o apoio da "grande maioria dos presidentes latino-americanos".
"Nossa disposição em explorar possibilidades em busca de troca humanitária e da paz com justiça social – que é hoje o clamor e a necessidade mais urgente e sentida em toda a nação – continua invariável", afirma o comando central das Farc no comunicado.
Com a fuga do ex-congressista Óscar Tulio Lizcano, ainda permanecem em poder das Farc 28 sequestrados considerados como moeda de troca em um eventual acordo para a libertação de rebeldes presos.
No documento, as Farc afirmam que a carta é o começo do intercâmbio para iniciar a discussão de "uma saída política ao conflito, de acordo humanitário e paz".
A carta foi dirigida à senadora de oposição Piedad Córdoba, ex-facilitadora do acordo humanitário, e a mais 150 intelectuais e políticos que em setembro enviaram um documento à guerrilha solicitando a reabertura do diálogo para a solução do conflito que já dura mais de meio século.
"Participaremos, em frente ao povo, de um diálogo com amplitude e franqueza, sem dogmatismos, sem sectarismos e sem desqualificações sobre os temas que sugerem", afirma o documento.
O documento é datado no dia 16 de outubro, antes da fuga, neste fim de semana, do ex-congressista colombiano.
A guerrilha não menciona na carta a exigência da desmilitarização de um território onde deveriam ocorrer as negociações com membros do governo.
Esse era um dos obstáculos nas tentativas de diálogo anteriores, já que o governo de Álvaro Uribe se nega a conceder a retirada militar.
Essa é a primeira vez desde julho, quando foi resgatada a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt e mais 14 reféns, que a cúpula das Farc volta a mencionar um acordo humanitário.
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