Banco Panamericano, do Grupo Silvio Santos, recebe R$ 2,5 bi para cobrir fraude

Empréstimo para salvar banco foi obtido no Fundo Garantidor de Crédito e tem como respaldo o patrimônio do empresário e apresentador de TV

David Friedlander e Leandro Modé - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - A descoberta de uma fraude contábil bilionária levou o Grupo Silvio Santos a fazer um aporte de R$ 2,5 bilhões no Banco Panamericano, que tem como sócia minoritária a Caixa Econômica Federal. O dinheiro foi obtido por meio de um empréstimo ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC), criado em 1995 com objetivo de proteger os depósitos dos clientes do sistema financeiro no País.

Segundo o Estado apurou, o rombo é resultado de ativos e créditos fictícios registrados por diretores do Panamericano supostamente para inflar os resultados da instituição e, suspeita-se, melhorar os bônus dos executivos. Até agora, não foram encontrados indícios de desvio, mas o Banco Central (BC) vai encaminhar representações à Polícia Federal e ao Ministério Público para investigar as suspeitas.

Segundo apurou a reportagem, o rombo foi descoberto há cerca de um mês pelo Banco Central. Tinha passado despercebido pelos controles internos do Panamericano, seus auditores independentes e pelo pente-fino feito pela Caixa quando comprou uma participação de 49% do capital votante do banco, no fim de 2009. O patrimônio do empresário Silvio Santos foi colocado como garantia para o empréstimo concedido pelo FGC.

O Panamericano abre as portas nesta quarta-feira com nova diretoria, nomeada em conjunto pelo Grupo Silvio Santos e pela Caixa. Os antigos executivos foram demitidos ontem. O diretor superintendente passa a ser Celso Antunes da Costa, ex-diretor de Integração do Banco Nossa Caixa.

O Conselho de Administração será escolhido na próxima semana, também por meio de acordo entre os acionistas.

Em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o próprio Panamericano afirma que "inconsistências contábeis não permitem que as demonstrações financeiras reflitam a real situação patrimonial da entidade".

Durante esta terça-feira, circularam rumores no mercado, dando conta de que o Banco Central interviria em alguma instituição financeira após o encerramento dos negócios, como antecipou a colunista do Estado Sonia Racy.

Nas mesas de operação, o principal "candidato" era o Panamericano. Por isso, os papéis preferenciais (PN) do banco desabaram. Caíram 6,75% e, no ano, já acumulam perdas de 35%. No chamado pós-mercado, as ações recuaram ainda mais: 8,54%.

Segundo o fato relevante, o dinheiro "destina-se a restabelecer o pleno equilíbrio patrimonial e ampliar a liquidez operacional da instituição, de modo a preservar o atual nível de capitalização".

Inédito. 

O crédito para o Panamericano equivale a cerca de 10% do patrimônio do FGC, que somava R$ 25,8 bilhões no fim de setembro. É uma saída inédita no País. Um especialista explicou que o banco provavelmente não encontrou no mercado um interessado (nem mesmo a Caixa) justamente por causa do rombo recém-descoberto.

Os R$ 2,5 bilhões que estão sendo aportados superam o atual patrimônio líquido da instituição, de R$ 1,6 bilhão. O Panamericano é o 21.º do ranking nacional, com ativos de R$ 11,9 bilhões ao fim de junho. Em dezembro de 2009, a Caixa comprou 35% do capital total do banco. Pagou R$ 740 milhões.

Um analista explicou que, caso o aporte não fosse feito, o Panamericano ficaria fora das regras do BC e teria de sofrer uma intervenção. Apesar do aporte, o BC, segundo apurou o jornal, não descarta intervir no banco.

Setor financeiro era maior aposta do Grupo Silvio Santos

O banco Panamericano faz parte de um grupo que faturou R$ 4,7 bilhões no ano passado e que projetava para este ano um crescimento de 26%, que levaria essa receita para R$ 5,8 bilhões. Além do banco, o Grupo Silvio Santos também é dono de empresas como a rede de lojas Baú da Felicidade Crediário, a fabricante de cosméticos Jequiti, a Liderança Capitalização e, a mais visível de todas, a rede de televisão SBT, entre várias outras - no total, são 30 empresas.

Em entrevista recente ao Estado, Luiz Sandoval, presidente do grupo há 26 anos, disse que, para atingir esse crescimento, as apostas seriam nas áreas cosmética e imobiliária, mas que o foco seria mesmo o setor financeiro, com o Panamericano, que responde pela metade das receitas do grupo.

Sandoval mostrava-se entusiasmado com o setor financeiro depois do acordo fechado com a Caixa Econômica Federal, que comprou 35% do Panamericano por R$ 740 milhões no final do ano passado. Para o executivo, esse acordo representava um passo estratégico para o banco, pois permitiu equacionar uma dívida de cerca de R$ 450 milhões.

Além disso, segundo o executivo, o acordo permitiu à instituição acesso a linhas de crédito mais baratas e a entrada em novas modalidades de financiamento, como o crédito a automóveis novos. Antes, o banco financiava apenas carros usados.

O Grupo Silvio Santos fechou o ano passado com um prejuízo líquido de R$ 7,9 milhões, depois de um lucro de R$ 73,6 milhões em 2008. Para este ano, o grupo projetava um lucro de R$ 100 milhões. A perda do ano passado foi atribuída, em grande parte, ao processo de maturação de unidades como a Sisan, de investimento imobiliário, e na própria Jequiti, empresas consideradas, no início do ano, ainda grandes demandadoras de investimentos.

O grupo também fez investimentos no ano passado na expansão da rede de lojas Baú da Felicidade Crediário. Comprou a endividada rede Dudony, do Paraná, com 110 lojas - sendo 99 no Paraná e 11 em São Paulo -, por R$ 33 milhões. Com a aquisição, a rede saltou, de uma só vez, para 130 lojas. Os planos do grupo eram de chegar a 150 lojas até dezembro e a 250 até o final do ano que vem. No ano passado, o grupo havia desativado as operações do Carnê do Baú, um sucesso de vendas criado há 50 anos, mas que vinha perdendo espaço.

No caso da Jequiti, criada em 2006, a aposta do grupo era de quase dobrar as vendas este ano, chegando a R$ 380 milhões, e com um exército de 160 mil vendedoras. Os planos para essa área incluem o investimento em duas fábricas próprias, uma em Osasco (SP) e outra em lugar ainda a ser definido - até agora, a produção é terceirizada - e em dois novos centros de distribuição, um em Porto Alegre e outro no Nordeste.

Estranha, a vida

Dúvida pelo mercado financeiro depois que o Grupo Silvio Santos anunciou o aporte de R$ 2,5 bilhões no seu Banco Panamericano.

O que aconteceu na due dillegence feita pela Caixa Econômica Federal antes de comprar parte minoritária do banco em 2009?

O exame das contas realizado pela CEF não detectou o buraco gigante?

Com a a palavra, a Caixa.

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