Crise no Equador não é golpe, afirma jornalista

Governo estaria mistificando os acontecimentos visando ganho político

Policiais protestam contra o governo de Rafael Correa no quartel do Regimento Quito, na capital equatoriana/Rodrigo Buendia/AFP

Apesar do presidente de o país, Rafael Correa, denunciar tentativa de golpe "por aqueles que não conseguem chegar ao poder pelas urnas" nesta quinta-feira (30), em Quito, o presidente da Associação Equatoriana de Rádio, Otto Sonnenholzner Sper, afirmou, em entrevista ao UOL Notícias, que a ação de hoje não é tentativa de golpe


“A declaração do presidente afirmando que a oposição quer dar um golpe de Estado não é correta. Na minha visão isso não é um golpe de Estado, pelo menos, não articulado pela oposição política. É uma reclamação da polícia, que pela importância de sua função, colocou todo o país em perigo”, disse.

Segundo Sper, várias cidades no país estão em estado de perigo por causa da paralisação da polícia. “Um número incontrolável de delinquentes agora estão nas ruas assaltando bancos, saqueando supermercados já que a polícia está paralisada. Isso está ocorrendo em Quito, em Guayaquil, em todo o Equador”, disse.

Sper, que mora em Guayaquil, segunda mais importante cidade do país, contou que os meios de comunicação estão pedindo para que as pessoas fiquem em suas casas para evitar assaltos e agressões e para os comerciantes, para fechar as portas. “Aqui os policiais estão protestando nas ruas e já fecharam diversas vias importantes”, contou.

“A população fez um apelo aos militares para que assumissem a segurança pública do país, mas eles não apareceram. Parece que eles também apoiam a paralisação da polícia, porque também são servidores públicos. Os únicos que apareceram foram para proteger o palácio do governo, mas as cidades estão abandonadas. Não há ninguém controlando as cidades”, disse.

Segundo Sper, os equatorianos esperam que o presidente Rafael Correa encontre uma solução pacífica para a situação. “Correa já disse publicamente que não vai alterar a lei e que ela vai ficar como está, mas queremos uma solução”.

Alguns setores policiais se rebelaram contra uma reforma salarial proposta pelo governo do Equador. O presidente se pronunciou mais cedo afirmando que não iria derrubar a lei que reduz parte dos benefícios de carreira dos policiais.

Entenda o caso

O governo do Equador anunciou estado de exceção no país na tarde desta quinta-feira (30), pelo período de cinco dias, após setores policiais se rebelarem contra uma reforma salarial. O presidente do país, Rafael Correa, denunciou tentativa de golpe "por aqueles que não conseguem chegar no poder pelas urnas".

Forças policiais tomaram hoje o controle do aeroporto e de uma base aérea na capital, Quito, e detém o avião presidencial, segundo informações da rede TeleSur. O presidente se pronunciou mais cedo afirmando que não iria derrubar a lei que reduz parte dos benefícios de carreira dos policiais, e acabou agredido por manifestantes.

Hospitalizado, Correa afirmou que o motim é "uma conspiração da oposição, daqueles que não conseguem ganhar nas urnas", e disse temer por sua vida. De sua parte, o vide-presidente, Lenín Moreno, negou que vá assumir o cargo máximo do país neste momento.

Em resposta à rebelião dos policiais, centenas de pessoas se reuniram diante do palácio presidencial para manifestar apoio ao governo e prometeram "resgatar" Correa no hospital, que está cercado por policiais rebeldes.

Apesar dos distúrbios, o chefe das Forças Armadas, Ernesto González, afirmou que as tropas militares estão subordinadas à autoridade do presidente equatoriano. Outras autoridades disseram à rede TeleSur que as cúpulas militares e da polícia apoiam o governo.

Segundo o ministro da Segurança, Miguel Carvajal, forças militares vão assumir tarefas de polícia enquanto vigorar o estado de exceção.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) realiza uma reunião de emergência em Washington para discutir o caso, mas até o momento não emitiram uma posição.

Saiba mais sobre o governo do presidente Rafael Correa no Equador


Rafael Vicente Correa Delgado, "humanista cristão de esquerda", como ele mesmo se considera, nasceu em 6 de abril de 1963 numa família de classe média de Guayaquil. Conseguiu bolsas para estudar nos Estados Unidos, onde se formou economista. Foi vice-presidente e Ministro da Economia e Finanças de Alfredo Palácio, que substituiu Lucio Gutiérrez, deposto do poder pelo Congresso. Foi eleito presidente em 2006, após derrotar o magnata Álvaro Noboa.

Diferente da postura dos governantes anteriores a Alfredo Palácio, Correa procurou reduzir a dependência econômica do Equador em relação aos Estados Unidos e alinhou o país à Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), da qual fazem parte Venezuela, Bolívia --dos seus aliados Hugo Chávez e Evo Morales--, entre outros países.

Na presidência, adotou uma política nacionalista, de fortalecimento do desenvolvimento interno. Reviu contratos com multinacionais do petróleo, renegociou a dívida externa e se posicionou contrariamente à assinatura de tratado de livre-comércio com os Estados Unidos.

Com maioria no Congresso, convocou uma Assembleia Constituinte, que promulgou uma nova Constituição em setembro de 2008. Entre as principais mudanças estão a possibilidade da reeleição do presidente, valorização dos direitos dos povos indígenas, aumento da independência do Judiciário e maior preocupação com o meio ambiente. Seu mandato termina em janeiro de 2011.

Fontes: UOL - Agências

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