Conflitos em Moçambique fazem brasileiros se sentirem 'aprisionados'

'Ouvimos tiroteio das 8h até a hora em que fomos dormir', contou brasileira. Confrontos em protestos já deixaram sete mortos em Maputo.

Mapa mostra a localização de Maputo, em Moçambique, onde ocorrem os conflitos (Foto: Ilustração/G1)

A primeira mensagem de alerta chegou no celular da voluntária brasileira em Maputo logo na manhã de quarta-feira (1º). A empregada da jornalista Bibiana Gomes, de Santo André (SP), dizia para ela não sair de casa, avisando sobre os protestos que tomariam conta da cidade pelos três dias seguintes, deixando um saldo de dez mortos e centenas de feridos.

Desde então, Gomes e seu marido ficaram trancados em casa quase o tempo todo, sempre alertados por mensagens de amigos a respeito dos riscos. Eles saíram de casa apenas rapidamente na manhã de sexta-feira (3) para comprar comida e voltar para casa.

"Da minha janela, vemos incêndios, tumultos. A gente se sente aprisionado porque nunca tínhamos tido esta sensação de não poder sair de casa porque a qualquer momento pode ter uma explosão de violência. Sentimos esta tensão", contou Gomes ao G1, por telefone, desde Maputo, para onde se mudou há seis meses para trabalhar como missionária. Ela disse que mora numa zona limite de segurança, o bairro da Coop, uma área mais segura perto do centro de Maputo, mas que fica próxima de bairros em que há confrontos. Da varanda de casa, ela gravou imagens que mostram a tensão nas ruas e que deixam ouvir barulhos de tiro. Assista ao vídeo, abaixo:




Visão da janela da casa da brasileira Bibiana Gomes, em Maputo, com focos de incêndios causados por protestos que deixaram 7 mortos (Foto: Reprodução/arquivo pessoal)

"A gente não sai na rua para conferir se corremos risco", disse. Segundo ela, a sexta-feira (3) foi um dia um pouco mais tranquilo, e não foi possível ouvir tantos tiros como nos dois dias anteriores, mas ainda muitas sirenes de polícia e ambulância. Segundo Gomes, apenas algumas lojas e postos de gasolina abriram as portas, mas tudo está sendo racionado e a cidade está com problemas de abastecimento.

"Sabemos que em alguns locais da cidade a situação continua complicada, mas dia primeiro foi o pior dia, o ápice da violência”, disse. “Ouvimos tiroteio das 8h da manhã até a hora em que fomos dormir à noite”, contou.

Ela disse que tentou sair à rua para sacar dinheiro e ter alguma garantia, mas também não foi possível porque os bancos não abriram. Maputo, segundo ela, em geral é muito pacífica, e estes confrontos não são comuns. Depois de três dias de conflitos nas ruas, ela disse que, segundo boatos divulgados pela imprensa, a greve deve continuar até terça-feira (7). "O povo está muito revoltado e está havendo muita violência."

Protestos contra alta nos preços geraram três dias de conflito e deixaram sete mortos em Maputo (Foto: AP)

Violência

As mortes nos conflitos que começaram na quarta-feira incluíram duas crianças que morreram quando a polícia abriu fogo contra manifestantes que bloquearam ruas, incendiaram pneus e saquearam lojas nos mais violentos confrontos desde 2008 no país africano, que tem 23 milhões de habitantes.

O ministro da Indústria e do Comércio de Moçambique, Antonio Fernandes, calculou prejuízo de 3,3 milhões de dólares no país do sul da África, onde 70% da população está abaixo da linha da pobreza.

Partidos de oposição e grupos de direitos humanos criticaram o governo, dizendo que ele falhou ao medir a indignação que causaria o aumento de 30 por cento no preço do pão, além de elevações nas tarifas da água e da eletricidade.

Polícia de moçambique patrulha as ruas de Maputo em meio à onda de protestos que deixou sete mortos (Foto: Reuters)

Fontes: G1- Agências

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