Ataques terroristas de 11 de setembro completam nove anos

Na manhã de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos viram ícones de sua supremacia econômica e militar serem alvejados por aviões guiados por terroristas.

O segundo avião mergulha para se espatifar na torre sul,enquanto o outro prédio do Wolrd Trade Center já está em chamas/Ftoto:Carmen Taylor/AP

Bolas de fogo e destroços saem da torre sul do World Trade Center após o choque do segundo avião. Os EUA sofriam um golpe nunca antes visto./Foto: Kristen Brochmann/The New York Times.

Com uma gigantesca nuvem de poeira ao fundo,centenas de pedestres correm para fugir da área proxima às torres gêmeas/Foto: Amy Sancetta/AP

Bombeiros cobertos de poeira levam um homem na maca. Mais de 400 pessoas das equipes de resgate morreram na tentativa de salvar vítimas/Foto: Shannon Stapleton/Reuters.

Foi um dia daqueles que dividem o mundo em “antes” e “depois”. Muito do que aconteceria nos oito anos seguintes seria definido por ele.

Até 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos impunham sem grandes sobressaltos sua soberania político-militar em escala global.

Às 8h46 daquela terça-feira em Nova York, um avião chocou-se contra a torre norte do World Trade Center. Dezoito minutos depois, antes que os espectadores do mundo inteiro pudessem entender o que estava acontecendo, a torre sul foi atingida por outra aeronave. Um terceiro avião despencou sobre o Pentágono, em Washington. Um quarto, a caminho da Casa Branca ou do Capitólio, espatifou-se em campo aberto na Pensilvânia, depois que passageiros enfrentaram os sequestradores.

As torres gêmeas do World Trade Center foram construídas para resistir ao impacto de um Boeing, mas ruíram. O maior atentado terrorista da história, orquestrado pelo saudita Osama Bin Laden, líder da rede Al Qaeda, deixou mais de 3 mil mortos naquele dia.

Sob a justificativa de que deveriam evitar fatos semelhantes, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão e o Iraque. Iniciaram guerras que marcariam a primeira década do século XXI.

ÉPOCA montou uma edição especial de O Filtro para você relembrar o 11 de setembro. São fotos, infográficos e textos que ajudam a entender os impactos dos ataques que completam nove anos.

Inferno

O maior atentado terrorista da História espalha pavor pelo mundo e põe em risco a paz

O World Trade Center, símbolo da cidade mais conhecida do mundo, cospe fumaça momentos antes de ir abaixo/Foto: Hubert Michael Boesl/AFP


O espetáculo da barbárie

O Pentágono em chamas/Foto: Heesoon Yim/AP

A História já registrou explosões e atentados impressionantes, com milhares de vítimas, mas nunca se viu nada parecido ao ataque da terçafeira 11 a duas das principais cidades dos Estados Unidos. Em pleno período de paz, aviões de passageiros seqüestrados de aeroportos americanos foram desviados de suas rotas e dirigidos, em ataque suicida, contra as torres gêmeas do World Trade Center (WTC), em Nova York, e o prédio do Pentágono, na periferia de Washington, a capital do país.

Depois de atingidas, cada uma por um Boeing, as torres pegaram fogo e desabaram, levantando enormes rolos de fumaça e espalhando detritos num raio de cinco quarteirões. Um pedaço do Pentágono (sede do Departamento de Defesa) também ruiu com o impacto de outra aeronave e, horas depois, ainda ardia em chamas. No final da tarde, possivelmente alcançado pelos destroços do WTC, o edifício da Salomon Brothers, que fica ao lado, desmoronou. A Salomon é uma das principais corretoras de Wall Street.

Os terroristas - até a noite da terça ainda sem identificação - escolheram seus alvos para causar o máximo de destruição física e, simultaneamente, infligir dano moral aos Estados Unidos. As torres gêmeas e o Pentágono são símbolos, respectivamente, do poderio financeiro e militar americano. "Foi o pior ataque contra os Estados Unidos desde Pearl Harbor", declarou o ex-secretário de Estado Henry Kissinger, referindo-se ao bombardeio da base militar americana no Havaí pelas forças japonesas, que determinou a entrada do país na Segunda Guerra Mundial, no século passado.


Até 12 horas depois do atentado não se conhecia o número de mortes. Fontes da polícia de Nova York, no entanto, estimam "em milhares, possivelmente em dezenas de milhares". Apenas nos quatro aviões que explodiram (dois da American Airlines e os demais da United Airlines) havia 266 pessoas, entre passageiros e tripulantes. Os cálculos da polícia nova-iorquina fazem sentido: somente no World Trade Center trabalhavam diariamente 50 mil pessoas. Já o Pentágono abriga 28 mil funcionários. Antes da catástrofe de terça-feira, o pior desastre de Nova York em número de vítimas fora um incêndio no bairro do Harlem, em 1886. Morreram, na ocasião, 150 mulheres que trabalhavam numa tecelagem.

Dois minutos depois do ataque ao Pentágono (que tem esse nome por causa de seu formato arquitetônico), o governo americano decretou o mais radical estado de alerta da história recente americana. A Casa Branca, sede da Presidência, em Washington, foi evacuada. Aos poucos, a polícia isolou os demais prédios federais e despachou os servidores de volta para casa. Até o Congresso interrompeu suas atividades e os principais líderes parlamentares foram levados a local secreto.


Desesperado, um dos ocupantes da torre se atira para a morte/Foto: Richard Drew/AP

Ao longo do território americano, por medida de segurança, foram fechados lugares famosos e atrações turísticas - da sede das Nações Unidas, em Nova York, por exemplo, aos parques da Disney, na Flórida e na Califórnia, incluindo a Sears Tower, em Chicago, o prédio mais alto dos EUA. O alerta estendeu-se às usinas geradoras de eletricidade e aos dutos que transportam petróleo e gás.

Para além dos alertas de segurança, o luto pelos mortos ocasionou o cancelamento de vários eventos. A entrega do Emmy, o mais festejado prêmio para televisão nos Estados Unidos, teve sua cerimônia cancelada. A festa ocorreria em Los Angeles, na Califórnia, no próximo domingo. As primárias dos partidos para a escolha dos candidatos a prefeito de Nova York também foram suspensas. As eleições estão previstas para novembro.

A medida de maior impacto na vida dos americanos, contudo, foi anunciada ainda de manhã, na Costa Leste, pela agência governamental responsável pelo tráfego aéreo. Todos os vôos - naquele momento, 4 mil - receberam ordens para pousar e em seguida os 14 mil aeroportos americanos foram fechados, causando atrasos e tumultos no transporte aéreo mundial. Aviões provenientes de outros países voltaram para os locais de origem ou tiveram de pousar no Canadá, no México e em países do Caribe. Foi a primeira vez na história da aviação que os Estados Unidos ficaram sem nenhum vôo comercial.

Por precaução, o presidente George Bush, que estava na Flórida na terça-feira, foi levado a uma base aérea do Estado de Nebraska, no meio-oeste americano, e depois a Washington. Antes, em pronunciamento feito em Barksdale, Louisiana, Bush, visivelmente abalado, declarou que a "liberdade era o alvo do ataque" e que os responsáveis por "essas ações covardes" seriam perseguidos e punidos. Chocados e enfurecidos, muitos americanos batizaram a terça-feira de "dia da infâmia" e exigiram retaliações. Os ataques, proclamaram, equivaliam a uma "declaração de guerra". "Os Estados Unidos pararam", protestou, por exemplo, Linda Bosfield, uma executiva que trabalha em Manhattan. "Isso é guerra e não pode ser tolerado." Já Robert Kagan, colunista do jornal The Washington Post, um dos principais do país, pediu simplesmente que o governo declare guerra aos terroristas e aos "países que os apóiam".

O ataque provou que os EUA, apesar de ostentarem o título de única superpotência do planeta, são vulneráveis a ações de organizações terroristas. O atentado exigiu uma elevada dose de organização de seus executores. Os terroristas desencadearam a ação de três aeroportos diferentes. Dois dos jatos seqüestrados deixaram o aeroporto de Boston, a uma hora de vôo de Nova York. Viajavam para Los Angeles, na Califórnia. Um vôo da American Airlines, também para Los Angeles, foi desviado do aeroporto de Dulles, em Washington. O aparelho caído em Pittsburgh decolara de Newark rumo a San Francisco, também na Califórnia. Os terroristas devem ter assumido o comando dos aviões seqüestrados, já que seu objetivo era colidir com prédios. Nenhum piloto seria convencido a fazer isso mesmo com uma arma na cabeça. Diante da morte certa, teria optado por jogar o avião em local deserto, sem a presença de civis. É necessário um conhecimento razoável de aviação para levar aparelhos comerciais exatamente até os alvos desejados, como foi o caso dos dois Boeings que alvejaram o WTC e do jato que se espatifou no Pentágono.

Planejamento

Em meio a fumaça e poeira, os escombros dos edifícios destruídos/Foto: Doug Kanter/AFP

O planejamento foi necessariamente cuidadoso. Avner Semesh, ex-oficial de inteligência da polícia antiterror de Israel, apontou alguns detalhes reveladores para Época. Para produzir grandes explosões, foram escolhidos aviões no início de longas viagens. Eram aparelhos de grande autonomia de vôo, portanto com os tanques cheios. Semesh observou ainda que, embora tenham sido atingidas lateralmente, as duas torres do WTC caíram na vertical. Isso indica que poderia haver explosivos previamente colocados dentro dos prédios. José Chacon de Assis, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro, defende tese semelhante. "O modo como o prédio caiu, principalmente a segunda torre, de forma tão vertical, dá a idéia de uma perfeita implosão, conseqüência de explosivos colocados na base do edifício", supõe Chacon de Assis.

Para se ter uma idéia do impacto, a explosão de um Boeing 767, com 24 mil galões de combustível, é proporcional a 1.000 toneladas de dinamite, comparou Steven Block, professor de física aplicada da Universidade Stanford, na Califórnia. Block estimou que a explosão "derreteu" o núcleo de aço de cada uma das torres, tornando a queda inevitável - e maculando o célebre skyline, a silhueta dos arranhacéus da ilha de Manhattan, cartão postal da cidade.

Foi mesmo um dia de cão para os 8 milhões de nova-iorquinos. Logo após as primeiras explosões, os túneis e pontes que dão acesso a Manhattan foram fechados. O metrô e o serviço de ônibus pararam. Dezenas de milhares de pessoas que já estavam nos locais de trabalho tiveram de abandonar os escritórios. Nas ruas, muitos entraram em pânico e começaram a correr. "Pensei que fosse uma bomba, uma guerra começando", contou o corretor brasileiro Guilherme Castro, que trabalhava no 25o andar de uma das torres do WTC. Castro é um dos 300 mil brasileiros que moram na região.

Coberta de fuligem, uma sobrevivente do atentado busca refúgio em prédio ao lado do World Trade Center/AP

Histórias tristes e de alívio emergiram dos destroços e da névoa de poeira que tomou o sul de Manhattan, onde estavam plantadas as torres do WTC. Christian Duran, por exemplo, estudante e morador da vizinha New Jersey, escapou da morte porque acordou tarde na terça-feira. Ele é funcionário do serviço de entrega de um restaurante ao lado de uma das torres. "É o dia mais feliz e ao mesmo tempo mais triste de minha vida", disse. "Conheço muita gente que trabalhava naquelas torres."

A tragédia americana desencadeou uma onda de revolta e condenação do terrorismo ao redor do globo. "O mundo tem de se organizar porque o terror pode atacar em qualquer lugar, além de fronteiras e acima dos mais poderosos exércitos do mundo", declarou um assustado primeiro-ministro israelense Ariel Sharon.

O líder palestino, Iasser Arafat, e o governo da Arábia Saudita apressaram-se em condenar os atentados e oferecer condolências aos americanos. Grupos radicais palestinos e o saudita Osama Bin Laden estão entre os principais suspeitos pelo ataque.

"Esse terrorismo de massa é o novo mal no mundo", resumiu o primeiro-ministro britânico, Tony Blair. Para o chefe do governo alemão, Gerhard Schröder, o ataque não foi apenas contra os Estados Unidos. Atingiu todo o mundo civilizado, acrescentou, ao mesmo tempo em que emprestou total apoio ao governo em Washington nas medidas a serem tomadas. Mas uma respeitada organização pacifista alemã está preocupada. Em declaração divulgada pouco depois da tragédia, a organização internacional Médicos para a Prevenção da Guerra Nuclear solicitou ao presidente Bush que mantenha a calma. O grupo, que recebeu o Nobel da Paz em 1985, quer que o governo americano se abstenha de ataques contra algum país eventualmente envolvido na ação terrorista.

Os Estados Unidos já atacaram, em diferentes ocasiões, o Sudão, o Afeganistão e a Líbia por apoio ou proteção dada a terroristas nesses países. Um ataque como esse, dizem os pacifistas, vai levar a uma espiral de violência. "Bush, fique calmo. Não à Terceira Guerra" dizia uma faixa mostrada por manifestantes diante da sede do governo alemão. O chefe de Relações Exteriores da União Européia, Chris Patten, expressou bem o espanto de todo o mundo depois do atentado. "Esse é um daqueles raríssimos dias na vida dos quais se pode dizer que mudaram tudo."

Reflexos no Brasil

FHC solidariza-se com americanos e o governo aumenta a vigilância nos aeroportos do país

"Parece uma guerra", exclamou o presidente Fernando Henrique, incrédulo na frente da TV, no Palácio do Planalto, depois de enviar mensagem de apoio ao colega americano, George Bush. Tal perplexidade expressa o sentimento dos brasileiros diante dos atentados nos Estados Unidos. "Ações terroristas suicidas são a maior ameaça à segurança mundial", sintetizou o ministro da Defesa, Geraldo Quintão, depois de se reunir com comandantes das Forças Armadas. Ele determinou à Aeronáutica maior rigor na fiscalização dos aeroportos. O ministro da Justiça, José Gregori, mobilizou a Polícia Federal para reforçar a proteção à embaixada e aos consulados americanos. Quer atenção redobrada para as bagagens de passageiros de vôos internacionais.

O país parou para acompanhar o drama americano. As ligações telefônicas para os EUA aumentaram 40 vezes. Dos 30 vôos que partiriam para lá, 28 foram cancelados. Os outros dois chegaram a decolar, mas voltaram. O Airbus 330 da TAM decolou às 10h23 de Cumbica para Miami. Retornou 1h40 depois com 57 pessoas a bordo. O comandante Luiz Francisco Postigo soube do atentado aos 40 minutos de vôo. "Teremos de retornar porque há um ataque terrorista em larga escala ocorrendo nos Estados Unidos", informou aos passageiros. Em terra, Vincent, de 39 anos, americano de Michigan, parecia zonzo. "Espero que encontrem quem fez o ataque e retaliem."

Em Brasília, Rio, São Paulo e Recife, a embaixada e os consulados cancelaram o expediente, mas mantiveram plantão para atender às centenas de telefonemas de americanos que residem no Brasil ou visitam o país - cerca de 10 mil. O governo dos EUA recomendou aos que moram aqui que variem horários e rotas de viagens e suspeitem de cartas e pacotes estranhos.

"Quero notícias de meu marido e meu cunhado, que estão nos EUA", gritava Heloisa Fonseca, de 48 anos, na porta da representação americana no Recife. Judia, ela teme ações terroristas nas três sinagogas da cidade. Consulados e a embaixada de Israel cerraram as portas. Em Foz do Iguaçu, o empresário árabe Kamal Osman há três semanas espalhou pela cidade outdoors com as palavras Salam, Shalom e Paz. A maioria dos árabes e descendentes moradores em Foz vem do Vale do Bekaa, no Sul do Líbano, uma das regiões em conflito com Israel.


Infográficos do New York Times e galerias da Neswweek e Magnum

Icones de uma cidade
A experiência da imigração
Como as torres ficaram de pé e cairam
Luta pela sobrevivência
Uma cidade ferida
102 minutos dentro das torres
Fotos da Agência Magnum
As páginas dos jornais e revistas




Vídeos






Fonte: Época - The New York Times - Newsweek - AP - REUTERS

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