OTAN contrária à nova doutrina russa de segurança
A Otan afirmou neste sábado que a nova doutrina militar russa, que identifica sua expansão como uma ameaça, não reflete o mundo real e mina os esforços para melhorar as relações entre Moscou e a aliança militar ocidental.
A Rússia se irritou com a expansão da Otan (Organização do tratado do Atlântico Norte) para incluir antigos países do Pacto de Varsóvia, depois do colapso da União Soviética e enfureceu-se particularmente com a promessa da aliança de uma eventual adesão da Geórgia e da Ucrânia, ex-repúblicas soviéticas que Moscou considera ainda parte da sua esfera de influência.
A Otan foi criada por nações ocidentais em 1949, como meio de bloquear o avanço do bloco comunista liderado pela União Soviética, que, em resposta, lançou o agora extinto Pacto de Varsóvia, que unia a defesa da União Soviética com a dos países socialistas da Europa do Leste.
O presidente russo, Dmitri Medvedev, aprovou a nova doutrina militar nesta sexta-feira.
"Eu tenho que dizer que essa nova doutrina não reflete o mundo real [...] A Otan não é um inimigo da Rússia", disse o secretário-geral da organização, Anders Fogh Rasmussen, à agência de notícias Reuters em uma entrevista durante a 46ª Conferência de Segurança em Munique, na Alemanha.
"Ela não reflete as realidades e está em clara contradição com todos os nossos esforços para melhorar o relacionamento entre a Otan e a Rússia."
A doutrina identifica como uma das "principais ameaças externas de guerra" a expansão da Otan para o leste, até as fronteiras da Rússia, e vê os planos americanos de criar um escudo antimísseis na Europa como uma preocupação para a segurança nacional.
Rasmussen disse que a Otan estava interessada em desenvolver uma parceria estratégica com a Rússia e em ampliar a cooperação no Afeganistão, onde os dois lados compartilham preocupações de segurança.
Ele disse que gostaria de salientar estas questões em uma reunião em Munique com o chanceler russo, Sergei Lavrov.
"Eu tenho exortado a Rússia a reforçar o seu envolvimento no Afeganistão. Apresentei propostas para os russos quando visitei Moscou em dezembro, sobre como eles poderiam aumentar o seu envolvimento", disse Rasmussen. "Eu penso que a Rússia e nós partilhamos os mesmos interesses no sucesso no Afeganistão."
No entanto, analistas disseram que o movimento russo foi outro revés para a prioridade de Rasmussen de melhorar as relações com Moscou, tendo herdado um relacionamento extremamente tenso de seu predecessor, Jaap de Hoop Scheffer, no ano passado.
A Otan congelou os laços com Moscou após a guerra entre a Rússia e a Geórgia em 2008, e apenas gradualmente os contatos formais foram retomados.
Thomas Valasek, do think tank Centro para Reforma Europeia disse que a Otan continuaria tentando forjar uma maior cooperação em questões comuns de segurança, embora os progressos tenham sido limitados.
Ele disse que a Rússia tinha sido coerente na sua visão da Otan como uma ameaça e na busca de caminhos para dividir a aliança e deter a sua expansão, enquanto a Otan estava "dividida entre ver a Rússia como ela é, e vê-la como nós gostaríamos que ela fosse".
A Rússia concordou em permitir o transporte por terra de suprimentos não letais da Otan para o Afeganistão e se comprometeu a fazer todo o possível para ajudar o esforço da aliança no Afeganistão, sem envio de tropas, mas Valasek disse que houve pouca cooperação significativa.
Em sua visita a Moscou em dezembro, Rasmussen não conseguiu obter compromissos firmes imediatos de assistência adicional para o Afeganistão, incluindo opções extras de tráfego, helicópteros e mais apoio para a formação das forças de segurança afegãs.
"Mesmo o alardeado corredor norte [de abastecimento], realmente não chegou a lugar algum", disse Valasek. "Houve um carregamento que chegou através dele, e isso é tudo. A razão é que os russos estão insistindo em pagamentos substanciais pelo serviço. A Otan pensou que era uma parceria, eles [os russos] veem como um negócio. "
Em Moscou, Rasmussen recusou um convite do Kremlin por um novo sistema de defesa na Europa, dizendo que não via necessidade de um novo tratado de segurança proposto pela Rússia.
Medvedev aprovou um projeto de pacto de segurança pós-Guerra Fria em 29 de novembro, dizendo que poderia substituir a Otan e outras instituições e restringir a capacidade de qualquer país de usar a força unilateralmente.
Os países da Otan reagiram com ceticismo e viram o plano russo como uma tentativa de dividir a aliança, dizendo que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa é o lugar certo para discutir questões de segurança.
Fontes: FOLHA - Reuters
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