Testemunhas dizem que Itamaraty "faz vista grossa" ao não reconhecer mortes em ataque
Brasileiros chegam em Belém em avião da FAB; para os que ficaram no Suriname, clima é de medo e hostilidade/Divulgação/FAB
Uma semana após os ataques de quilombolas no Suriname, os brasileiros que continuam no país vizinho relatam um clima de medo e apreensão. Segundo pessoas ouvidas pelo R7, a grande repercussão do conflito fez aumentar a tensão com os chamados "marrons", que passaram a tratar os brasileiros com maior hostilidade e até a fazer ameaças.
Os entrevistados ressaltam, no entanto, que essa hostilidade vem dos chamados "djucas", os "marrons" quilombolas que vivem em regiões isoladas do interior do país, com os quais a relação nunca teria sido amistosa. No último dia 24, na véspera do Natal, cerca de 300 quilombolas atacaram uma comunidade de 200 brasileiros na cidade de Albina, a 150 km de Paramaribo.
A agressão teria sido uma retaliação à morte de um morador local, assassinado a faca por um brasileiro. Até 20 mulheres foram estupradas e há relatos de mortos e desaparecidos, embora o Itamaraty não confirme até o momento a existência de nenhuma vítima fatal.
Segundo o maranhense José Dionísio Gonçalves Coelho, 40 anos, dez deles vivendo no país vizinho, "os marrons ficaram mais cismados com os brasileiros".
- Eles ficaram assustados (com a repercussão do conflito). Olham com muita desconfiança. Eles ficaram com rixa.
Coelho trabalha num garimpo na região de Afobacar, a 180 km de Paramaribo, na divisa com a República da Guiana (Guiana inglesa), distante do local do conflito, na divisa com a Guiana Francesa. Ele diz que tem acompanhado o caso porque tinha conhecidos na região de Albina.
Segundo o maranhense, a relação entre os brasileiros e os quilombolas, que vivem em várias partes do país, " nunca muito boa". Ele conta que outras comunidades estrangeiras como a dos chineses enfrentam problemas semelhantes com os locais.
Brasileiros dizem que Itamaraty faz vista grossa
Após testemunhar o conflito em Albina, onde vivia com o marido, a paraense J. A., 40 anos, diz que não vai sair do Suriname "enquanto a verdade não aparecer". Ela diz que houve mortes no conflito e acusa a Embaixada do Brasil de fazer vista grossa:
- Existe cadáver, existe corpo, eu não estou doida. Ninguém está acreditando na gente. Será que todo mundo está mentindo? Onde é que foram essas pessoas que foram golpeadas? Nós falamos desde o início que mulheres tinha sido estupradas, mas a Embaixada só reconheceu isso há dois dias (na terça, 29).
Hospedada na casa de uma amiga em Paramaribo, ela diz que não dorme traumatizada pelo que viu. Também teme pela vida do marido, que cruzou a fronteira e foi para a Guiana Francesa, em busca de corpos. J. A. conta que ele agora não consegue voltar para a capital surinamesa porque teria de passar pela área do conflito e teme vingança.
Ela relata que os brasileiros tem sofrido ameaças por parte de quilombolas e ela mesmo teria sido advertida para que "tomasse cuidado com as palavras".
Itamaraty não confirma mortes
Nesta quinta, o embaixador José Luiz Machado e Costa descartou a possibilidade de motivação política na violência contra os brasileiros. Segundo ele, foi um ato de “vandalismo e criminalidade comum”.
No dia anterior, na quarta-feira (30), um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) buscou um grupo de 32 brasileiros - 22 homens, nove mulheres e uma criança - que estava no Suriname. Os brasileiros desembarcaram em Belém (PA). A atenção foi dada principalmente para os cinco feridos. Um deles pode ter o braço amputado e o outro teve a mandíbula fraturada.
O diplomata reiterou o esforço do governo surinamês em apurar o caso e punir os responsáveis.
A embaixada informou que os brasileiros que estavam em Albina foram transferidos para quatro hotéis de Paramaribo, com as despesas pagas pelo Ministério das Relações Exteriores. A principal dificuldade para identificar os brasileiros é que a maioria que vive ilegalmente no Suriname.
Fonte: R7
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