Micheletti revoga sítio e fala em pacto

Presidente de facto cogita de aceitar Zelaya no poder após as eleições e promete punição para quem o expulsou

Sob forte pressão da comunidade internacional, o governo de facto de Honduras revogou ontem o decreto que instaurou o estado de sítio no país, dia 26. "Quero dar a notícia ao mundo inteiro de que revogamos completamente o decreto", afirmou o presidente de facto, Roberto Micheletti. Manuel Zelaya, presidente deposto em 28 de junho e abrigado na embaixada do Brasil há 16 dias, exigia o levantamento do sítio como condição para aceitar negociações.



Em uma semana considerada crucial para a solução da crise no país - às vésperas da chegada ao país, amanhã, de uma missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) para forçar a abertura de um diálogo -, Micheletti mais uma vez deu sinais de avanço na direção de um acordo.

Pela manhã, em entrevista a uma TV local, afirmou que aceitaria o retorno de Zelaya à presidência, mas apenas depois das eleições presidenciais de 29 de novembro. No início da tarde, porém, durante a entrevista na qual anunciou o levantamento do estado de sítio, Micheletti evitou reiterar sua posição. Declarou apenas que "essa é uma questão para o diálogo".

O presidente de facto, entretanto, deixou claro que a revogação não levará à reabertura imediata do Canal 36 de televisão e da Rádio Globo - considerados pró-Zelaya. Valendo-se do decreto, que aboliu liberdades individuais e coletivas, o governo de facto invadiu os prédios onde funcionam esses meios de comunicação e confiscou equipamentos essenciais para a transmissão de programas. "Se a lei permitir, (a Rádio Globo e o Canal 36) terão de ir ao tribunal para retomar o direito de voltar ao ar", disse Micheletti.

Em conversa com o Estado, por telefone, Zelaya afirmou que a proposta de que ele retorne após a eleição é um desafio à comunidade internacional, que exige seu retorno ao poder para que considere legítima a votação. Quanto ao recuo de Micheletti no início da tarde, o presidente apenas lamentou. "É costume dele se contradizer. Uma pena, porque nos dá uma ideia de instabilidade."

Na entrevista, Micheletti afirmou ainda que não pretende ampliar o escopo da anistia a Zelaya e seus colaboradores, para incluir crimes comuns além dos políticos.

O presidente de facto agregou que os responsáveis pela detenção e expulsão de Zelaya serão igualmente "castigados". "Estou certo de que os responsáveis (pelo embarque de Zelaya para a Costa Rica) serão levados ao tribunal", disse. "Ninguém deve ficar impune."



Fonte: O ESTADO/Denise Chrispim Marin - TV Globo

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