Senadora ruralista reagiu a argumentação do ministro Guilherme Cassel, que defendeu agricultura familiar
O ministro Cassel, durante audiência no Senado/CELSO JUNIOR/AE
BRASÍLIA - Dias após o impacto negativo das imagens de destruição por militantes do MST numa fazenda de São Paulo, a divulgação de uma pesquisa encomendada por ruralistas e declarações do ministro do Desenvolvimento Agrário no Senado deram o tom da escalada de tensão que atingiu o campo nas últimas semanas.
Ao divulgar os dados da pesquisa feita pelo Ibope sobre os assentamos agrários consolidados no Brasil, a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), não poupou de críticas os ministérios do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Agrário, da Educação e do Trabalho. Ela também criticou a metodologia usada pelo IBGE para realizar estudo semelhante ao divulgado por sua entidade, alegando que a instituição buscou criar intrigas entre os grandes e pequenos produtores rurais.
"O IBGE demorou mais de um ano para divulgar uma pesquisa, que retratou a grande propriedade como se fosse a vilã", afirmou, em referência aos números divulgados mais cedo pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel.
Chefe da pasta responsável pela política de distribuição de terras do governo federal, Cassel se antecipou à divulgação dos números da CNA e, em audiência pública no Senado na manhã desta terça-feira, apresentou dados que demonstram que as modalidades agropecuárias voltadas para o plantio de alimentos por famílias em pequenas propriedades têm demonstrado mais eficiência que outros tipos de culturas existentes no campo.
Para a senadora, no entanto, o ganho de escala no campo é tão importante quanto ao da indústria e do comércio, daí o fato de a concentração de terras dever ser encarada como algo natural. "Quando vejo o (a rede de supermercados) Carrefour chegar a uma cidade, sei, infelizmente, que os pequenos mercados vão acabar", comparou.
Números
Na audiência desta terça-feira, Cassel argumentou que, do ponto de vista econômico, o Censo Agropecuário de 2006 comprovou a eficiência da agricultura familiar, que responde atualmente pela maioria dos alimentos que abastecem o país, apesar de ocupar menos de 25% da área agricultável.
Segundo dados do IBGE, a produção familiar lidera a produção de mandioca, feijão, leite, aves e suínos. Para além disso, disse Cassel, essa modelo de produção agrícola responde por 74,4% do pessoal ocupado no meio rural, o que significa mais de 12 milhões de trabalhadores.
A presidente da CNA, por sua vez, alegou que a instituição, ao contrário do que se pensa, também representa os pequenos produtores. "O IBGE cometeu um erro e criou uma disputa boba. Chega a ser ridículo. Criaram uma competição imbecil, desnecessária. Não sei o que quiseram provar com tudo isso", disparou.
"Aqui na CNA temos 1,2 milhão de associados e 56% são pequenos, que hoje estão na contagem do IBGE como agricultura familiar", continuou. Ela também criticou o fato de haver duas pastas para tratar do assunto. "Só no Brasil existem dois ministérios da Agricultura", disse, referindo-se aos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário.
Pesquisa feita pelo Ibope a pedido da CNA demonstra que 72,3% dos assentados afirmam não gerar renda na propriedade adquirida através de instrumentos de reforma agrária. Desses, 47,7% disseram não produzir nem o suficiente para sustentar suas famílias. Um número menor, mas significativo (37%), afirma não produzir nada em suas terras. Outros 24,6% dizem produzir somente o necessário para subsistência.
Alfinetadas
Para o Meio Ambiente, sobraram alfinetadas da senadora a respeito da impossibilidade de se construir banheiros em áreas de assentamento por conta da questão ambiental. "Há assentamentos em que 100% não têm banheiro. Há problemas de caráter ambiental, que não liberam a sua construção. É um problema grave", comentou.
Kátia Abreu também criticou a atuação do Ministério da Educação, alegando que as escolas da área rural não fazem parte do levantamento nacional sobre o rendimento dos alunos e qualidade das instituições. "A nossa impressão é a de que os índices nacionais podem ficar prejudicados. Situação é de quase calamidade", avaliou, acrescentando que os professores não querem trabalhar na zona rural.
A presidente da CNA reclamou também da falta de qualificação dada pelo governo aos assentados. "De toda a arrecadação da CNA, 20% obrigatoriamente vai para o Ministério do Trabalho e não há cursos de qualificação voltados a esse setor", disse.
Fonte: O ESTADO/Célia Froufe
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