Troca de governo no Japão não afetará comunidade brasileira, dizem analistas

Não haverá 'guinada' em politica migratória, diz professor de Tóquio.
Para especialista, acomodação da crise deve manter brasileiros no país.

Yukio Hatoyama, presidente do Partido Democrático, comemora o resultado das eleições parlamentares no Japão. (Foto: Reuters)

Tema que ficou de fora da campanha eleitoral no Japão, a política com relação aos imigrantes – e à numerosa comunidade brasileira no país - não deve sofrer grandes alterações com a mudança de governo, segundo analistas ouvidos pelo G1. Líder do Partido Democrata, o próximo primeiro-minstro, Yukio Hatoyama, deve anunciar nesta semana a composição do novo Parlamento, após a vitória que pôs fim a quase 54 anos do conservador Partido Liberal Democrata (PLD) no poder.

“O PD e o PLD não são dois partidos com ideologias opostas. Na verdade, os políticos que integram ambos os partidos no fundo são muito mais parecidos do que se imagina. (...) O que nos faz dizer que não há diferença substancial ideológica entre o que pensam os políticos com relação à política migratória”, afirma o professor de Sociologia da Musashi University, de Tóquio, Angelo Ishi.

Para Ishi, embora o Partido Democrata japonês tenha “mais políticos favoráveis a dar aos estrangeiros com visto permanente o direito ao voto nas eleições locais”, por exemplo, isto não é suficiente para dar “uma guinada” na política migratória.

“Não há como só a classe política confortavelmente falar que vai fazer política amigável beneficiando os direitos dos imigrantes. O fato é que a opinião pública japonesa é muito ressabiada em relação aos estrangeiros. Uma grande parcela da população ainda tem pouco conhecimento com relação aos imigrantes e tem medo do seu aumento e influência política”, diz o professor brasileiro, que vive no Japão desde 1990.

Professor de relações internacionais das Faculdades Rio Branco, Alexandre Uehara concorda. Segundo ele, a questão do imigrante, que não ocupou espaço nas eleições japonesas, particularmente em relação aos brasileiros não deve ter “uma mudança significativa em relação ao que já foi feito”.

“Houve uma apreensão de tentar diminuir o desemprego oferecendo subsídio para os que queriam voltar. Agora, com certa acomodação da crise, o governo deve esperar”, diz, em relação à medida adotada pelo atual governo, em abril, de pagar cerca de R$ 7 mil para incentivar que os imigrantes retornassem aos seus países de origem.

A medida, que exigia como condição que o trabalhador só pudesse retornar ao Japão após três anos, provocou protestos no Brasil, terceira maior comunidade estrangeira no país, e o governo japonês recuou. Para Uehara, com o arrefecimento da crise, “não é interessante que [os dekasseguis] voltem ao Brasil, porque isso levaria à necessidade do governo de recrutá-los novamente no futuro.”

Crise

Na opinião da pesquisadora Lili Kawamura, da Unicamp, se a crise voltar a cortar empregos no Japão, é possível que o recém-eleito premiê desenvolva políticas para dificultar a entrada de novos imigrantes. Isso porque, segundo ela, a maioria dos brasileiros vai ao país de olho no mercado de trabalho.

“Nos anos 90, houve um período de recessão em que o mercado ficou restrito para os japoneses inclusive e os brasileiros e outros estrangeiros foram os primeiros a serem mandados embora. Existe uma certa pressão da própria população, não como a Europa, mas uma restrição até das prefeituras que começam a se incomodar com aqueles que ficam andando pelas ruas sem trabalho, e cria-se uma pressão para dificultar a entrada dos novos”, diz a autora de “Para onde vão os brasileiros?” (Ed. Unicamp), sobre o fenômeno dos dekasseguis.

Ela ressalva, no entanto, que é preciso observar os vários tipos de imigrantes brasileiros atualmente no país, pois vem ocorrendo uma diferenciação ao longo dos anos. “Se antes o imigrante brasileiro poderia ser forte, trabalhador, independente de falar a língua ou não, hoje as empresas exigem conhecimento da língua e costumes culturais. Quem está abrindo mais vagas é o setor de serviços e não as indústrias, o que exige maior qualificação.”

Fontes: G1/Amauri Arrais - Reuters

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