Documento mostra movimentações da Igreja Universal. Parlamentares comentaram investigação no Congresso.
Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostra que dirigentes da Igreja Universal desviaram dinheiro do dízimo para comprar imóveis para empresas comerciais. O documento é a base da denúncia do Ministério Público de São Paulo contra Edir Macedo.
O jornal "Estado de S.Paulo" desta quinta-feira (13) mostra uma reportagem com detalhes sobre o relatório. O conselho descobriu que entre 1996 e 2007, o grupo Record movimentou de forma considerada atípica R$ 25 milhões para comprar imóveis acima de R$ 1
Os técnicos registraram cinco transações imobiliárias supostamente feitas pela empresa. A primeira delas teria ocorrido em 28 de junho de 1999, quando um prédio foi comprado em Salvador, por R$ 8 milhões.
Outro exemplo de movimentação atípica nas contas da emissora, segundo o Coaf, foram saques e depósitos em dinheiro de até R$ 300 mil. Este dinheiro, segundo o Ministério Público, teria como origem as doações de fiéis. Igrejas não pagam imposto, mas devem aplicar seus recursos somente em obras assistenciais e na reforma de templos.
Parlamentares
Os políticos disseram que a denúncia é grave e que precisa ser investigada. Alguns defenderam até que o Congresso também investigue. Já o senador Marcelo Crivella, do PRB, e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, criticou a ação criminal.
“A denúncia é grave. Tem várias empresas envolvidas na questão. Então, é óbvio que é um impacto muito grande. Não se trata de prejulgar, se trata de dizer a Justiça tem que tomar uma decisão que é apurar e decidir”, disse o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP).
“É uma denúncia, sem dúvida, séria, importante. O Ministério Público está cumprindo a sua função constitucional de acompanhamento, de fiscalização, mas os esclarecimentos têm que ser dados, é o que todos nós no Brasil queremos em termo de qualquer iniciativa seja pública, particular, do Senado Federal, onde quer que seja”, afirmou o senador Flavio Arns (PT-PR).
“Essa apuração que é feita pelo Ministério Público tem que chegar até o Congresso também, o Poder Legislativo, porque existe essa discussão. A questão da justificativa de se dar isenção de impostos para trabalhos sociais, seja de qualquer igreja, de qualquer religião não justifica os gastos abusivos em outros setores”, apontou o vice-líder do PSB, deputado Julio Delgado.
“A denúncia é importante. Essa mistura da fé das pessoas com televisão, com política, isso não tinha como terminar bem. Não vai terminar bem até porque eu fico muito preocupado porque, como eu disse já, a base da democracia é a liberdade de imprensa”, comentou o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia.
“Essa tese de que pastores tenham pego dinheiro de ofertas, mandado para o exterior e assim financiado recursos para enriquecer, isso não é novo, isso já foi denunciado em 1993, com denúncia apócrifa, de lá pra cá a Polícia Federal, a Interpol, o FBI, a Receita Federal e, finalmente, o Supremo Tribunal Federal concluíram que as denúncias não tinham fundamento”, defendeu o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ).
O senador Marcelo Crivella é sobrinho de Edir Macedo.
MP vai pedir ajuda internacional na investigação contra Edir Macedo e mais 9
O Ministério Público de São Paulo vai pedir ajuda internacional para rastrear movimentações financeiras na investigação de lavagem de dinheiro contra Edir Macedo e mais nove pessoas.
A Promotoria concluiu que empresas de comunicação estão entre as que receberam ilegalmente dinheiro de doações de fiéis da Igreja Universal que deveriam ter sido usadas em obras de caridade.
O jornal “O Estado de S. Paulo” teve acesso a documentos que fazem parte da investigação sobre o fundador da Igreja Universal, Edir Macedo, e outras pessoas ligadas a ele e à igreja. As informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) revelam que o dinheiro dos fiéis, arrecadado para a manutenção da igreja e obras sociais, era desviado para a compra de empresas de comunicação.
O relatório faz parte da investigação de dois anos do Ministério Público de São Paulo que culminou na denúncia contra Edir Macedo e nove pessoas ligadas a ele por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
Segundo a promotoria, em vez de aplicar o dinheiro dos fiéis em obras de assistenciais ou na manutenção dos templos, Edir Macedo e os outros acusados usaram os recursos em beneficio próprio.
Todos agora são réus no processo que apura desvio de dinheiro de fiéis para a compra de bens e empresas em nome de particulares próximos a Edir Macedo, inclusive emissoras de TV e de rádio.
A reportagem afirma que "oito empresas de comunicação, entre elas a Rádio e Televisão Record, estão entre as dez principais beneficiárias de transferências eletrônicas ou depósitos bancários que saíram da Igreja Universal do Reino de Deus".
Outras beneficiárias são Edminas SA, Rede Mulher de Televisão, Editora Gráfica Universal e Rede Família de Comunicação Ltda, todas ligadas ao grupo. Ainda de acordo com “O Estado de S. Paulo”, dos R$ 8 bilhões que passaram pela igreja e por empresas ligadas a ela em sete anos, R$ 300 milhões foram movimentados em cinco países: México, Venezuela, Estados Unidos, África do Sul e Chile.
Durante a fase de inquérito, a maior parte dos acusados foi intimada e se apresentou na delegacia, mas, por orientação do advogado, eles disseram que falariam apenas diante do juiz. Segundo a policia, Edir Macedo não compareceu. A intimação dele foi entregue à defesa já que o bispo mora nos Estados Unidos.
Segundo a promotoria, a investigação vai prosseguir agora, com um novo pedido de ajuda internacional para localizar valores que possam ter sido movimentados ilegalmente no exterior.
Fonte: G1 - Globo
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