Inglesas suspeitas de golpe relatam 'terror' em prisão brasileira

Shanti Andrews e Rebecca Turner ficaram seis dias presas no Rio.
Turistas relatam 'cheiro horrível' e celas superlotadas.



As inglesas Shanti Andrews e Rebecca Turner, ambas de 23 anos, contaram ao jornal britânico "Daily Mail" sobre as condições da prisão em que ficaram durante seis dias no Brasil. Elas são suspeitas de tentar aplicar um golpe contra a seguradora de suas bagagens.

Shanti disse que as duas não conseguiam parar de tremer de ansiedade, apesar do calor, e que a carceragem era tão cheia que não era possível virar ao se deitar no chão.

Para Rebecca, a primeira prisão em que as duas ficaram, em Mesquita, foi um "pesadelo". "Foi a coisa mais amedrontadora que já aconteceu na minha vida. Eles só falavam português e nós só inglês e houve momentos em que nós pensamos se algum dia sairíamos de lá."

Rebecca disse ao jornal que elas ficaram em uma cela de aproximadamente 3m por 3m com cerca de 25 mulheres. "Todas dormiam no chão de concreto. Eles só nos deram um cobertor fino para cada uma."

Segundo Shanti, só havia um chuveiro na prisão do qual saía um fio de água e uma privada que não dava descarga. "O cheiro era horrível. Era horrível no calor, pior do que qualquer coisa que você possa imagina."

Shanti diz que uma presa que dormia entre as duas garotas era acusada de matar alguém, mas que as todas as prisioneiras foram gentis com elas.

Rebecca relatou ainda ao jornal que as duas não comeram a comida do presídio porque "nós sabíamos que eles lavavam tudo [os alimentos] na água da torneira local". Segundo ela, as duas tomaram apenas água mineral trazida por seus advogados.

Na sexta-feira, elas foram transferidas ao conjunto penitenciário de Bangu, onde, segundo elas, ficaram esperando três horas em um pátio na chuva antes de entrarem na prisão. Além disso, outras presas as provocaram e elas tiveram medo de serem abusadas sexualmente. Segundo as jovens, elas passaram por revista íntima quatro vezes nos seis dias em que ficaram presas.

Soltura

Shanti e Rebecca deixaram por volta das 16h45 deste sábado (1º) o presídio Nelson Hungria, no conjunto penitenciário de Bangu, na Zona Oeste do Rio. A informação é da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap). Elas vão responder em liberdade ao processo no qual são acusadas de tentativa de golpe no Rio.

Segundo o advogado Renato Tonini, as jovens permanecerão na cidade até o julgamento.

"Acreditamos que o julgamento possa ocorrer dentro de quatro semanas, vamos colaborar para que isso se concretize", disse o advogado neste sábado.

Habeas corpus

O advogado entrou com pedido de habeas corpus na quinta-feira (30), mesmo dia em que o juiz Flávio Itabaiana de Oliveira Nicolau, da 27ª Vara Criminal do Rio, decidiu manter a prisão das britânicas. Uma liminar foi concedida na última sexta-feira (31) pelo desembargador Sérgio Verani, da 5ª Câmara Criminal.

A liminar é uma medida antecipada do pedido feito pelo advogado das acusadas. O julgamento definitivo do habeas corpus ainda não tem data.

Segundo o Tribunal de Justiça, o juiz deverá intimar as turistas para uma audiência, que deverá ser realizada na próxima semana. As inglesas podem cumprir pena de 1 a 5 anos de prisão pelo crime de estelionato.

Promotor quer punições severas

Na quarta-feira (29), o promotor Juan Luiz Souza Vazquez ofereceu denúncia contra as jovens. Segundo o promotor, a punição para Shanti e Rebecca deve ser rígida para que se evite a fuga delas para a Inglaterra. Vazquez ressaltou que, apesar do advogado das jovens entregar os passaportes, as inglesas podem recorrer ao consulado do Reino Unido pedindo a emissão de um documento que autorize a viagem de retorno.

“A prisão é necessária, até porque não existe um acordo entre o Brasil e a Inglaterra que possibilite o cumprimento da pena no país de origem das turistas”, informou o promotor.

Como aconteceu a prisão

Shanti e Rebecca foram presas após procurarem, na madrugada de segunda-feira (27), a Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat) para relatar o furto de objetos pessoais. Os policiais desconfiaram da versão das inglesas e foram até ao albergue onde elas estavam hospedadas, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, e constataram que todos os itens estavam no local.

De acordo com o promotor, os documentos apresentados na delegacia mostraram que as jovens quiseram aplicar um golpe contra a seguradora das bagagens. Segundo ele, o valor dos bens declarados pelas jovens como furtados era compatível com o que elas iriam receber do seguro, uma quantia de um pouco mais de mil libras, o que representa cerca de R$ 4 mil.

O advogado das inglesas alegou que houve um “mal-entendido” e que elas teriam se confundido ao relatar os itens furtados.

Fonte: G1

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