Gustavo Chacra
Passei uma semana sem publicar porque eu estava no Brasil para dar uma palestra sobre a cobertura jornalística no mundo árabe para estudantes e profissionais de jornalismo, em evento organizado pela CONIB (Confederação Israelita do Brasil).
Na aula, disse aos participantes que a imprensa algumas vezes é acusada de ser pró-Israel e, em outras, de ser pró-Palestinos. Na minha opinião, não é nenhuma coisa nem outra. Hoje, os principais jornais, TVs e revistas do Brasil e do mundo são a favor de uma solução de dois Estados. Basta ler editoriais do New York Times, da The Economist, do Estadão e da Folha. As ações palestinas que saem desta linha são criticadas. Já as que estão de acordo são elogiadas. O mesmo vale para Israel.
Basicamente, tudo que for contra a existência de um Estado palestino em fronteiras próximas às linhas pré-1967 será alvo de duros ataques da mídia. Se um premiê de Israel disser que a Cisjordânia (ou Judéia e Samaria) deve ser território israelense, certamente o New York Times e mesmo o mais conservador Wall Street Journal publicarão editoriais com críticas ao governo. Caso a Autoridade Palestina decida reivindicar Jaffa e Haifa, no dia seguinte sairão artigos condenando os palestinos. Esta postura é compartilhada também pelos principais governos do mundo. Barack Obama, Ângela Merkel, Nicolas Sarkozy, Lula (FHC também) defendem a solução de dois Estados.
O discurso hoje pró-paz envolve a defesa de um Estado palestino ao lado de Israel. O politicamente correto é apoiar dois Estados. Benjamin Netanyahu e o Hamas sabem disso e, por este motivo, sabem que não há como defender uma outra solução diante da opinião pública internacional. Dizer que Israel não pode existir é um desastre para quem busca conquistar apoio em Londres, Nova York, Buenos Aires ou São Paulo. Serve apenas para aumentar o isolamento do grupo. Dizer que os palestinos não possuem direito a um Estado também eleva a antipatia por Israel em Oslo, Chicago, Moscou ou Tóquio.
No mundo acadêmico, cresce cada vez mais a defesa da solução de um Estado. Neste caso, todos os moradores de Israel, Cisjordânia e Faixa de Gaza fariam parte de um mesmo país, com os mesmos direitos. Cada pessoa, um voto. Independentemente da religião. Um colono judeu poderia morar em Nablus e Jenin. Um palestino cristão de Gaza poderia comprar um apartamento em Tel Aviv. O problema é que cerca de três quartos dos palestinos e também dos israelenses preferem uma saída com dois Estados lado a lado - e isso não significa que o restante queira um Estado binacional, pelo contrário. Não há o por que de ir contra uma das poucas coisas que a maioria de palestinos e israelense concorda.
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