Exército dos EUA nega que faça avaliação de jornalistas no Afeganistão

Militares americanos rejeitam acusação de rotular jornalistas

Os militares dos Estados Unidos no Afeganistão se defenderam nesta quinta-feira das acusações de que uma empresa de comunicação esteja avaliando o trabalho de jornalistas e sugerindo formas de obter uma cobertura mais positiva no noticiário.

O "Stars and Stripes" (estrelas e listras, em referência à bandeira americana), jornal voltado para as tropas dos EUA, disse ter obtido documentos preparados para os militares pela empresa Rendon Group, de Washington, que qualificava o trabalho dos jornalistas como "positivo", "neutro" ou "negativo".

O jornal, parcialmente financiado pelo Pentágono, mas editorialmente independente, disse que os perfis dos jornalistas incluíam sugestões sobre como "neutralizar" reportagens negativas e obter uma cobertura favorável.

Um gráfico publicado pelo jornal reproduz o que seria um relatório da Rendon sobre a cobertura de um repórter para um grande jornal não identificado dos EUA até meados de maio. O trabalho desse repórter era considerado 83,3% neutro e 16,67% negativo a respeito das metas dos militares.

O comando militar dos Estados Unidos no Afeganistão disse que o Rendon Group presta vários serviços sob um contrato de um ano, avaliado em US$ 1,5 milhão, e que inclui uma cobertura do noticiário, mas não abrangeria a atribuição de notas aos jornalistas.

"Estou aqui desde junho e nunca usamos nenhum produto da Rendon para qualificar jornalistas específicos ou tentar influenciar suas reportagens", disse o contra-almirante Gregory Smith, diretor de comunicações das forças dos EUA no Afeganistão.

O comando disse que o Rendon Group compilava o histórico dos jornalistas, inclusive detalhes biográficos e tópicos recentes que eles cobriram, para preparar os líderes militares para entrevistas. Isso incluía resumos sob títulos como "Histórico", "Cobertura" e "Perspectiva, Estilo e Tom".

No entanto, o comando militar disse que jamais usou tais informações para determinar se um repórter merecia a oportunidade de acompanhar uma unidade militar ou entrevistar um oficial.

A reportagem do Stars and Stripes, publicada na quarta-feira, gerou condenação de organizações que representam jornalistas nos EUA e no mundo.

"Esta realização de perfis de jornalistas compromete ainda mais a independência da mídia", disse Aidan White, secretário-geral da Federação Internacional dos Jornalistas, com sede em Bruxelas.

"Isso tira qualquer pretensão de que o Exército está interessado em ajudar os jornalistas a trabalharem livremente. Sugere que eles estão mais interessados em propaganda do que em uma reportagem honesta."

Segundo o Rendon Group, as menções a textos positivos, negativos e neutros se referiam a como o conteúdo afetava os objetivos militares. Coberturas "neutras para negativas" se referiam, por exemplo, a relatos sobre seqüestros e atentados suicidas.

"A informação e análise que geramos está desenvolvida pela quantificação desses temas e tópicos, e não pela classificação dos repórteres", disse nota divulgada no site da empresa.

Fontes: FOLHA - Reuters

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