Um aparelho de ilusão artificial que faz um objeto parecer outro pode ajudar a camuflar aviões militares ou criar "buracos" em paredes. A ideia é baseada nas propriedades ópticas dos chamados metamateriais, que conseguem "entortar" a luz em praticamente todas as direções.
Metamateriais são produzidos artificialmente e são dotadas de propriedades que não existem na natureza. Eles podem ser usados para formar diversas estruturas de camuflagem, por conseguirem "dobrar" as ondas eletromagnéticas, como as da luz, fazendo com que contornem um objeto. Esse efeito torna objetos invisíveis.
Em 2006, pesquisadores usaram essa ideia para criar um "manto da invisibilidade" que fez com que ondas fizessem uma espécie de curva em torno de uma cavidade central, como uma corrente de água que corre ao redor de uma rocha. Qualquer objeto nessa cavidade é efetivamente invisível.
Agora, um grupo de pesquisadores deu um passo adiante. "A invisibilidade é apenas uma ilusão de espaço livre, de ar", afirma Che Ting Chan, físico da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, coautor do estudo. "Nós estamos estendendo esse conceito. Podemos fazer com que objetos fiquem parecidos não só com o ar, mas com qualquer coisa que desejemos."
Em vez de fazer com que a luz se dobre em torno de uma cavidade central, a equipe trabalhou com os metamateriais para que os raios se comportassem de outra forma. Por exemplo, um material poderia ser desenvolvido para refletir a luz do mesmo modo que uma colher o faria --os raios que incidissem sobre o material seriam distorcidos para parecer que ali existe mesmo o talher.
Também deve ser possível desenvolver um material complementar que tenha o efeito oposto: cancelar exatamente o efeito que um objeto tem sobre a luz. Então os raios distorcidos pela colher passariam por um outro material, para eliminar esse efeito.
A ideia
O novo aparelho usa essas duas ideias juntas. Para fazer com que uma caneca de pareça com uma colher, por exemplo, a luz incide sobre o primeiro objeto e é distorcida. Depois, os raios passam por um segundo material, que elimina essas distorções e faz com que a caneca fique invisível. A luz passa, então, por uma região do metamaterial que simula a distorção, como se a colher estivesse presente. O resultado, dizem os pesquisadores, é que o observador que olha a caneca veria a colher.
Chan diz que a técnica pode ser usada para alterar propriedades ópticas de um material opaco. Isso pode levar a um sistema que, acoplado a uma parede, cria um "buraco" para que os observadores vejam o outro lado.
Apesar disso, ainda há obstáculos a transpor. Os metamateriais são difíceis de fabricar, por exemplo. Seus componentes precisam ser muito menores que a extensão das ondas de luz que eles distorcem. Além disso, é complicado impedir que as duas partes do aparelho gerem interferências entre si.
John Pendry, físico da Imperial College em Londres, que concebeu a ideia de como deveria ser o tipo de material usado em um objeto capaz de desviar a radiação de maneira controlada, considera que esses desafios podem ser vencidos. "Eu não vejo obstáculos para que esse objeto seja construído", diz.
Fontes: FOLHA - THE NEW SCIENTIST
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