Mundo está na iminência de uma pandemia, segundo a OMS. Planeta pode enfrentar pandemia severa, branda, ou escapar.
Mapa da Gripe
O novo vírus H1N1, da gripe suína, já se espalhou para 11 países e pode ter contaminado mais de 2.500 pessoas. A doença matou sete no México, e um bebê mexicano que estava de passagem pelo Texas se tornou a primeira vítima fatal em território norte-americano.
A Organização Mundial da Saúde diz que não há como conter a epidemia, e que o melhor a fazer é mitigar seus efeitos.
Embora ainda não seja uma pandemia (epidemia global de uma doença nova e grave), pode rapidamente passar para esse estágio. A seguir, três possíveis cenários:
Pandemia grave
É o pior cenário. A cada 30-40 anos, o mundo sofre uma epidemia de "influenza", na qual uma nova cepa do vírus da gripe se propaga rapidamente, matando centenas de milhares de pessoas em poucas semanas.
A pandemia de 1918 (dita "gripe espanhola") é considerada modelo para o cenário mais grave. Naquela ocasião, pelo menos 40 milhões de pessoas morreram num período de 18 meses, e a epidemia passava de uma comunidade a outra em ondas.
Mas isso foi na era pré-antibióticos, quando as pessoas morriam por causa de infecções simples, não havia respiradores mecânicos e as vacinas eram primitivas. A população em geral não tinha ideia de como as doenças eram transmitidas.
Mesmo assim, os especialistas preveem que uma gripe como a de 1918 manteria 40% da força de trabalho afastada, seja porque as pessoas estariam doentes, ou cuidando de parentes doentes, ou simplesmente recolhidas. Isso levaria à escassez de gêneros e até de energia.
Nas circunstâncias atuais, milhões de pessoas poderiam morrer, o comércio global iria se desacelerar e muitos países entrariam em crise econômica.
Pandemia branda
A última aconteceu em 1968, quando o vírus H3N2 ("gripe de Hong Kong") matou pelo menos 1 milhão de pessoas no mundo. Os especialistas acreditam que uma cepa desse tipo hoje teria efeitos muito menos graves, já que existem antivirais que não estavam no mercado há 40 anos.
Mesmo com mais vacinas, mais remédios e uma população mais informada, as gripes sazonais comuns matam entre 250-500 mil pessoas por ano, em geral bebês, idosos e pessoas com imunidade comprometida. No caso de uma pandemia, adultos saudáveis são mais suscetíveis, e, ao contrário da gripe comum, não há uma vacina imediatamente disponível.
Uma pandemia branda já seria suficiente para afetar o comércio e as viagens, provocar flutuações cambiais e escassez de medicamentos antivirais e antibióticos destinados a combater as "infecções paralelas" que costumam acompanhar a gripe. Há quem preveja também a falta de equipamentos como respiradores mecânicos, pois hospitais de muitos países, especialmente os Estados Unidos, já operam no limite.
Sem pandemia
O mundo inteiro torce para que esta cepa da gripe simplesmente suma. A "influenza" é um vírus promíscuo, trocando genes o tempo todo com outros vírus de gripe dentro de organismos humanos e animais. Além disso, sofre mutações constantes. Ambos esses fatores implicam que o H1N1 de repente pode se tornar pior, ou mais brando. A qualquer momento ele poderia perder sua capacidade de passar facilmente de pessoa para pessoa, ou poderia se tornar brando como uma gripe sazonal comum.
Mas levará meses para que se saiba se isso aconteceu. Cepas de gripe costumam desaparecer durante os meses de verão (meados do ano no Hemisfério Norte, origem da epidemia), voltando no final da estação ou no começo do outono. A cepa de 1918 voltou vingativa.
Por enquanto, a Organização Mundial da Saúde diz apenas que uma pandemia é possível. "É provavelmente prematuro pensar nisso como uma pandemia branda ou como uma pandemia grave", disse na quarta-feira Keiji Fukuda, dirigente da OMS. "Está claríssimo que não podemos prever qual será o rumo disso."
Tire suas dúvidas sobre o risco e a prevenção da gripe suína
A gripe suína é uma doença respiratória de porcos causada por um vírus influenza tipo A que causa regularmente crises de gripe em porcos. Ocasionalmente, o vírus vence a barreira entre espécies e afeta humanos. O vírus da gripe suína clássico foi isolado pela primeira vez num porco em 1930. Saiba o que conhecemos desta doença.
Como a gripe suína mata?
Na verdade, qualquer tipo de gripe pode matar, em especial pessoas com sistema imune (de defesa do organismo) enfraquecido. A gripe suína parece ser capaz de afetar gravemente pessoas com sistema imune mais forte, e seu mecanismo de ação ainda precisa ser estudado em detalhes. No entanto, o principal risco associado à doença é uma inflamação severa dos pulmões, que pode levar à insuficiência respiratória, ou seja, incapacidade de respirar direito. Outras complicações sérias têm a ver com lesões severas nos músculos, que podem levar a problemas nos rins e no coração, e mesmo, mais raramente, meningites e outros problemas no sistema nervoso central. Em todos esses casos, pode ocorrer a morte.
Quantos vírus de gripe suína existem?
Como todos os vírus de gripe, os suínos também mudam constantemente. Os porcos podem ser infectados por vírus de gripe aviária e humana. Quando todos contaminam o mesmo porco, pode haver mistura genética e novos vírus que são uma mistura de suíno, humano e aviário podem aparecer. No momento, há quatro classes principais de vírus de gripe suína do tipo A são H1N1, H1N2, H3N2 e H3N1.
Qual é o vírus que está causando a crise atual?
É uma versão nova do H1N1
Como os seres humanos pegam gripe suína?
Normalmente, esses vírus não infectam humanos. Entretanto, vez por outra, mutações no vírus permitem que eles contaminem pessoas. Na maioria das vezes, os contágios acontecem quando há contato direto de humanos com porcos. Mas também já houve casos em que, após a transmissão inicial do porco para o homem, a partir dali o vírus passou a circular de pessoa para pessoa. Foi o caso de uma série de casos ocorridas em Wisconsin, EUA, em 1988. Nesses casos, a transmissão ocorre como a gripe tradicional, pela tosse ou pelo espirro de pessoas infectadas.
Consumir carne de porco pode causar gripe suína?
Não. Ao cozinhar a carne de porco a 70 graus Celsius, os vírus da gripe são completamente destruídos, impedindo qualquer contaminação.
O que significa a palavra "pandemia" e os níveis de perigo da OMS?
O termo "pandemia" se refere a uma epidemia de proporções globais, no qual há surtos de uma dada doença de forma "sustentável" (ou seja, sem interrupção da cadeia de transmissão no horizonte) em vários países e em mais de um continente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) usa uma escala de seis fases para caracterizar a transmissão dos vírus influenza (da gripe) pelo planeta.
Na fase 1, a transmissão só ocorre entre animais.
A fase 2 se caracteriza pelos primeiros relatos de transmissão do vírus de animais para seres humanos.
Pequenos grupos de casos entre humanos definem a fase 3. Nela, no entanto, a transmissão de pessoa para pessoa ainda não é eficiente no grau necessário para que a comunidade inteira onde vivem os infectados esteja em risco.
Agora estamos na fase 4, na qual a dinâmica da infecção é sustentável o suficiente para causar surtos afetando comunidades inteiras. O risco de pandemia é grande, mas não 100% certo.
A fase 5 corresponde à transmissão de pessoa para pessoa em mais de um país, indicando uma pandemia iminente.
Finalmente, na fase 6, a pandemia está caracterizada.
O que fazer para evitar o contágio?
O CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA) fez algumas recomendações para evitar a doença.
- Cubra seu nariz e boca com um lenço quando tossir ou espirrar. Jogue no lixo o lenço após o uso.
- Lave suas mãos constantemente com água e sabão, especialmente depois de tossir ou espirrar. Produtos à base de álcool para limpar as mãos também são efetivos.
- Evite tocar seus olhos, nariz ou boca. Os germes se espalham deste modo.
- Evite contato próximo com pessoas doentes.
- Se você ficar doente, fique em casa e limite o contato com outros, para evitar infectá-los.
A gripe suína é transmitida para animais domésticos, como canarinhos, cães, papagaios e gatos?
Muito provavelmente, não. É cedo para dizer que outros animais estão imunes, mas a característica desse vírus é de transmissão entre suínos -- e agora entre humanos. Normalmente, aves domésticas são contaminadas por outros tipos de vírus. Já cães se infectam por outro tipo de influenza.
Quais são os sintomas da gripe suína?
Os sintomas são normalmente similares aos da gripe comum e incluem febre, letargia, falta de apetite e tosse. Algumas pessoas com gripe suína também tiveram coriza, garganta seca, náusea, vômito e diarreia.
Qual o índice de mortalidade dessa forma da doença?
Ainda é cedo para ter estatísticas precisas, mas cerca de um em cada 15 a 20 casos da doença até agora diagnosticados resultou em morte -- taxa considerada alta.
Como se faz o diagnóstico de gripe suína?
Para identificar uma infecção por um vírus influenza do tipo A, é preciso analisar amostras respiratórias do paciente durante os primeiros 4 ou 5 dias da doença -- quando uma pessoa infectada tem mais chance de estar espalhando o vírus. Entretanto, algumas pessoas, especialmente crianças, podem manter o vírus presente por dez dias ou mais. A identificação do vírus é então feita em teste de laboratório.
O consumo de vitamina C ou outras medidas para melhorar a resistência do organismo podem ajudar na prevenção?
Provavelmente não muito, diz o biólogo Atila Iamarino, da USP, que faz doutorado sobre a evolução de vírus como o HIV. "A verdade é que não se sabe se o consumo de vitamina C realmente aumenta a resistência ao vírus. O organismo da pessoa pode estar bem preparado, mas, se as características do vírus nunca tiverem sido encontradas pelo sistema imune, existe o risco de infecção", afirma.
Como é feito o tratamento?
"Existem duas linhas de medicamentos. Uma delas, a amantadina, impede a entrada do vírus nas células humanas. A outra, de medicamentos como o Tamiflu [oseltamivir], tenta barrar a saída do vírus de uma célula quando ele tenta infectar outras", explica o biólogo da USP.
A má notícia, diz Iamarino, é que o H1N1 já se mostrou resistente à primeira classe de remédios. Por enquanto, o oseltamivir ainda parece ser capaz de agir contra ele.
Você pode tomar as atuais vacinas contra a gripe?
Sim. A recomendação é sempre essa, pois essas vacinas ajudam a combater a gripe tradicional.
As vacinas contra a gripe têm alguma influência na proteção contra a gripe suína?
De acordo com o pesquisador da USP, existe a possibilidade de essas vacinas oferecerem proteção parcial contra o vírus proveniente de porcos. No entanto, mesmo que isso aconteça, certamente a formulação delas não será a ideal. "Não sabemos, por exemplo, para que lado vai caminhar a variabilidade genética do vírus suíno. Normalmente, ao produzir uma vacina, você já leva em conta o conhecimento que tem do vírus para tentar cobrir a variação futura dele e alcançar o máximo possível de proteção", diz Iamarino.
Há vacinas específicas para a gripe suína?
No momento, somente para porcos, que são mais constantemente afetados por esse tipo de vírus. Mas as autoridades já anunciaram estar trabalhando numa versão humana da vacina, que deve ficar pronta em seis meses.
O que estão fazendo com estas máscaras descartáveis que vemos nos passageiros de aeroportos? Não seria necessária uma coleta especial para evitar contaminação?
O material de doentes internados em hospitais tem o descarte especial no local. Mas, no caso da maior parte dessas pessoas que estão usando máscaras, o material é para proteção. O pessoal dos voos que vêm com máscara a usam por precaução. Elas podem ser dispensadas num lixo de ambiente, num saco de lixo normal. Dos casos suspeitos, há orientação de jogar o material no hospital, devidamente acondicionado.
O que os cruzeiros marítimos estão fazendo para não terem surtos de gripe suína dentro dos navios?
Normalmente, o pessoal nos cruzeiros, a tripulação e os passageiros, entram em um determinado ponto e têm um trajeto definido. Se estão saindo do Brasil e vão para a Europa, em locais onde não há gripe suína, não tem como ter a transmissão. Se vão para lagum local de risco, devem evitar e cancelar o passeio. A bordo do navio, os cuidados são simples: lavagem de mãos, cuidado com pessoas com doenças respiratórias.
E os portos?
O pessoal de portos, aeroporto e fronteira, há dois anos, participam de treinamentos para situações de pandemia. Na época, a preocupação era com gripe aviária. Eles receberam treinamento específico desde então.
Fontes: CDC, Datasus, OMS, Atila Iamarino (biólogo, doutorando em evolução de vírus, USP, do blog Rainha Vermelha), e Nacy Junqueira Bellei, médica infectologista, coordenadora do setor de pesquisa em vírus respiratórios da Unifesp
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