Promotor-chefe do TPI, Luis Moreno-Ocampo, define presidente sudanês, Omar Al Bashir, como "exterminador" da nação
O governo brasileiro cumpriria a ordem de prisão expedida pelo TPI (Tribunal Penal Internacional) contra o presidente sudanês, Omar al Bashir se ele viesse ao país, disse o promotor-chefe do tribunal, Luis Moreno-Ocampo, em entrevista , por telefone, da Argentina.
A hipótese de Bashir vir à América Latina foi levantada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, durante a 21ª Cúpula da Liga Árabe, realizada em Doha, em março deste ano. Na ocasião, o líder venezuelano convidou o sudanês a visitar seu país --que é signatário do TPI e teoricamente teria que prender o presidente. A única a manifestar apoio à ordem do TPI foi Michelle Bachelet, presidente do Chile, país sul-americano que não é membro.
O Brasil, que é signatário, se esquivou da discussão, apesar da organização do evento ter posicionado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado de Bashir no banquete. Lula se limitou a cumprimentar rapidamente o presidente sudanês e saiu da sala.
De olho em uma vaga no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), o país já dá sinais de que a ordem do tribunal será prevalecida e Bashir pode ser preso por autoridades brasileiras se vier ao país. Decretada em 4 de março passado, o pedido de prisão inclui diversas acusações, entre elas, as de crimes de guerra e contra a humanidade pelos conflitos em Darfur.
"O Brasil não enviará tropas [ao Sudão], mas irá colaborar com a decisão da Corte. Alguns dias atrás, o chanceler brasileiro [Celso Amorim] esteve na Corte [Internacional] e o Brasil garantiu que irá dar suporte a prisão de Bashir. Isso é um demonstrativo que a América Latina está contra ele, sendo ótimo nesse momento onde ele tenta se mostrar como uma vítima da [América do] Norte", afirma Ocampo.
Fontes do Itamaraty informaram sob condição de anonimato que o Brasil não hesitaria em cumprir a ordem de prisão do TPI. De acordo com o órgão, as relações entre os dois países são exclusivamente econômicas, restritas ao interesse do Sudão pela tecnologia brasileira na produção de etanol.
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Segundo Eric Reeves, professor da Universidade Smith em Northampton, Massachusetts (EUA), especialista em assuntos relacionados ao Sudão há dez anos, o distanciamento de Lula já é um sinal do posicionamento do país.
"Não há dúvida que o Brasil prenderá Bashir, se ele ousar viajar ao país. A discussão também é um grande facilitador nas negociações futuras de um assento permanente junto ao Conselho [de Segurança da ONU], o qual o Brasil pleiteia", analisa Reeves. Segundo o especialista, a recusa de Lula no evento pode ser considerada um sinal de que o país está ao lado do TPI. "O fato de Lula ter se negado a sentar ao lado de Bashir já é um sinal de que o país respeita o TPI e reconhece a legitimidade das acusações", afirma o analista.
Extermínio
Desde a ordem de detenção, em março, Bashir ordenou a saída de 13 ONGs, tendo colocado em risco a sobrevivência de 4,7 milhões de pessoas que dependem de ajuda para sobreviver em Darfur. Segundo o TPI, o Brasil reconhece a necessidade no retorno das entidades humanitárias expulsas da região --em retaliação do governo à ordem de prisão.
Para Ocampo, a prisão de Bashir é emergencial, tendo em vista a limpeza étnica que o presidente tenta promover no país. "Ele é um exterminador e todos sabem disso. O destino dele é ir para atrás das grades. Pode demorar seis meses, dois anos, mas ele será preso. Nesse meio tempo ele continua exterminando as pessoas, de fome, de sede, sem assistência. Isso é um grande demonstrativo que os crimes precisam parar agora", disse.
Desespero
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Desde a ordem de prisão, Bashir já fez seis viagens internacionais, quase todas ao redor da África. Essas viagens e as manifestações de sátira à ordem de prisão, são interpretadas pelo promotor do TPI como um "ato de desespero".
Segundo o promotor-chefe, Bashir está atrás de proteção política e sabe que irá ser preso. "Esse homem está desesperado querendo mostrar que ele está livre. Ele escolhe sempre viagens curtas, em países que não são signatários do TPI, volta rápido e elimina qualquer possibilidade de ser preso", afirma OCampo.
Para Reeves, a possível suspensão da ordem de prisão por um ano --pedida pelos países do Ocidente-- não retira as acusações contra Bashir e não impede que ele seja detido no futuro. "Ela apenas prolonga, mas não elimina o fato. Recentemente, a política interna tem dado demonstrações de que está mudando, pela própria saída das ONGs que causam controvérsia entre os membros do governo".
O analista afirma ainda ser "impossível" uma viagem de Bashir à países signatários do TPI, como os Estados Unidos, Japão e Europa. Segundo Reeves, a própria Interpol (polícia internacional) estaria encarregada de cumprir o mandado.
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