Cúpula das Américas

Economia, segurança e narcotráfico devem dominar a agenda do presidente americano em Trinidad e Tobago

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, faz sua primeira visita à América Latina nesta semana, passando pelo México e Trinidad e Tobago, para a 5ª Cúpula das Américas. A edição ganhou destaque com sua participação, por ser a primeira vez que um chefe de Estado americano vai à reunião. Conheça a seguir os principais objetivos dos EUA na cúpula:

ECONOMIA: A crise financeira global promete ser o principal tema, mais uma vez abordado por Obama. O G-20 aprovou, em sua última reunião, um pacote de US$ 1 trilhão para ajudar os países em desenvolvimento, com a América Latina encabeçando a lista de beneficiários.

SEGURANÇA: O aumento na violência na fronteira dos EUA com o México preocupa o governo americano. A administração Obama já anunciou uma série de medidas para tentar combater o tráfico de drogas e a imigração ilegal. O presidente deve buscar uma resolução com compromissos dos governos locais para aumentar a segurança.

IMIGRAÇÃO: Cerca de 12 milhões de imigrantes ilegais vivem nos EUA, a maioria do México e da América Central. Os esforços para reformar o sistema e a busca de mais direitos para os imigrantes ficarem no país falharam em 2006 e 2007. Obama prometeu trabalhar nesta questão, e deve iniciar a reforma imigratória ainda neste ano. O embaixador do México, Arturo Sarukhan, revelou que seu país fará parte do programa.

NARCOTRÁFICO: Um informe do Departamento de Justiça americano, divulgado no ano passado, afirmou que os traficantes de drogas mexicanos representam a pior ameaça de crime organizado para os EUA. Em visita recente ao México, a secretária de Estado Hillary Clinton reconheceu que os americanos têm "apetite" insaciável por drogas. Para analistas, a declaração de Hillary ajudou para a credibilidade de Obama no México, e o presidente também deve ressaltar a questão na cúpula.

TRÁFICO DE ARMAS: As armas americanas estão ajudando a aumentar os níveis de violência no México. Segundo especialistas, Washington pode tentar impulsionar a ratificação da Convenção Inter-Americana contra o tráfico e fabricação de armas.

TRANSPORTE FRONTEIRIÇO DE CARGA: Washington permitiu, pelo Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte, na sigla em inglês), que caminhões mexicanos utilizassem as rodovias americanas. Mas um projeto aprovado pelo Congresso e assinado por Obama eliminou o financiamento de um programa que permitia que um pequeno número de mexicanos entrassem no país com cargas. Depois, o México impôs tarifas maiores aos bens americanos. O governo americano busca agora um acordo alternativo para solucionar o impasse.

Os principais temas em discussão na Cúpula das Américas

Os presidentes da América se reúnem em Trinidad e Tobago entre os dias 17 e 19 de abril para a 5ª cúpula continental, edição que marca a primeira participação do presidente americano, Barack Obama. Por conta disso, o encontro tem sido visto como uma oportunidade de estabelecer um novo tom nas relações entre os EUA e a América Latina.

Planos de luta contra a pobreza, garantir a educação e o saneamento básico, fomentar uma energia segura e limpa e reativar a união regional diante da crise financeira são os pilares da discussão, afirmam os organizadores segundo a AFP. Além disso, a Cúpula das Américas se concentrará em "desenvolver soluções factíveis que respondam aos desafios que o hemisfério atravessa e proporcionar resultados tangíveis para todos os cidadãos". A intenção de alguns países é abrir o diálogo sobre a situação de Cuba na Organização dos Estados Americanos (OEA) e o fim do embargo que sofre por parte dos EUA, ainda que os temas não façam parte da agenda. Desde 1962, por causa da revolução castrista, Cuba está suspensa da OEA - consequentemente, não faz parte da Cúpula das Américas.

A discussão das duas questões mais explosivas estampará o tipo e o grau de relacionamento que os EUA, sob o governo do democrata Barack Obama, pretendem manter com a América Latina. Nos últimos três meses, Obama manteve encontros bilaterais com três líderes da região - os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Felipe Calderón, do México, e o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper. Mas o governo americano ainda atravessa areia movediça quando se trata de contato com Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia. Ambos os líderes expulsaram os embaixadores americanos, no ano passado, embora tenham mantido abertas as relações diplomáticas com Washington. Não se espera um encontro bilateral de Obama com Chávez, mas certamente os dois devem se falar durante algum dos muitos encontros da cúpula, indica o governo americano.

Esta é a primeira vez que todos os presidentes e primeiros-ministros participantes foram eleitos democraticamente. Na primeira reunião, em 1994, o principal objetivo foi propor aos países latino-americanos a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Em 2001, a cúpula foi dominada pelas tensões em torno da criação da Alca. O então presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, reagiu à pressão americana e estabeleceu critérios para que o Brasil aceitasse uma eventual participação no bloco. A edição de 2005 aprofundou o impasse entre Brasil e EUA. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, com apoio da Argentina e da Venezuela, bloqueou definitivamente a criação da Alca. Em 2009, com o fim do debate sobre a Alca, há espaço para nova agenda, com temas ambientais, energéticos, sociais e de direitos humanos. É nesse cenário que o debate sobre o embargo a Cuba pode ganhar espaço em Trinidad e Tobago.

Conheça os principais temas da Cúpula, segundo o documento prévio disponibilizado pelos organizadores:

- Prosperidade humana: incluir políticas para reduzir a pobreza, garantir o acesso à saúde, alimentação e serviços básicos, reduzir a exposição à violência e ao crime e proteger os mais vulneráveis, incluindo mulheres, crianças e povos indígenas. A cúpula deve insistir na necessidade de se investir em educação de qualidade como fator de inclusão social e avanços para a sociedade e incentivar o crédito para as micro, pequenas e médias empresas como fator fundamental de desenvolvimento.

- Segurança energética: assinalar a importância do desenvolvimento de sistemas "limpos, acessíveis e sustentáveis" para suprir, até 2050, a metade das demandas do mundo com energia renovável e diminuir as emissões de carbono.

- Sustentabilidade ambiental: trabalhar pela estabilização das concentrações de gás estufa na atmosfera e fortalecer os mecanismos de intercâmbio de informação para alertas de desastres naturais e prevenção dos mesmos.

- Segurança pública: continuar os esforços para prevenir e combater o terrorismo e o crime organizado, em cumprimento das leis internacionais.

- Reforçar a governabilidade democrática: reiterar o compromisso com a Carta Democrática Interamericana e assinalar o empenho na luta contra a corrupção, o racismo, a violência em favor dos direitos humanos.

- Reforçar a continuidade da cúpula e a efetividade da implementação: a proposta é que a Cúpula das Américas seja realizada pelo menos a cada três anos e que seja feito um informe anual sobre as ações e progressos que se realizarem durante as respectivas cúpulas ministeriais.

Cúpula em Trinidad e Tobago sofre com estrutura precária

PORT OF SPAIN - Com um território do tamanho do Distrito Federal brasileiro e população equivalente à de Brasília, Trinidad e Tobago foi escolhido em 2005 para ser a sede da 5ª Reunião de Cúpula das Américas por uma razão inusitada. Em meio ao colapso desse fórum, em Mar del Plata, nenhum outro país se candidatou.

ntre esta sexta-feira, 17, e domingo, sua capital, Port of Spain, receberá os chefes de Estado e governo de 34 países do Hemisfério e celebrará o primeiro encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com os líderes da América Latina e do Caribe. Mas, nos últimos dias, às vésperas do início do encontro, as delegações estrangeiras puderam sentir os atropelos causados pela organização precária de um evento internacional dessa magnitude.

O governo de Trinidad e Tobago estava ciente, desde o início, do desafio imposto pelo evento. Diante da rede hoteleira insuficiente, contratou dois navios de cruzeiro - Carnival Victoria e Caribbean Princess - para acomodar a imprensa estrangeira, representantes de organizações não governamentais e empresários.

A cúpula, além de promover o encontro dos líderes governamentais, abrange outros três fóruns de discussão - do setor privado, de jovens e da sociedade civil.

Assim mesmo, na terça-feira, diplomatas mexicanos demoraram quase duas horas para ingressar no navio onde estavam hospedados por causa de empecilhos criados pela organização.

No aeroporto, a sala onde as credenciais eram emitidas converteu-se num calvário para as delegações e os jornalistas. Muitos passaram o dia sentados ali, à espera do documento. Até mesmo funcionários do Itamaraty e do Palácio do Planalto foram expostos a essa situação. A razão desse transtorno foi simples - o escritório deu prioridade à emissão das credenciais dos mais de 1.000 membros da delegação americana, tarefa que levou ao colapso o sistema de informática. Nesta semana, o sistema de energia do centro de imprensa montado num edifício do governo sofreu uma pane.

Todos os presentes foram retirados do local, por temor de um incêndio. Em seguida, os jornalistas foram agraciados com uma bizarra orientação do governo de Trinidad e Tobago para a cobertura - não "tocar" nos chefes de Estado nem fotografá-los em situações que possam constrangê-los.

Embaraços

Para os chefes de Estado, a partir desta sexta, outros embaraços devem surgir. A organização do evento reservou apenas quatro salas no Hotel Hyatt, onde se dará a Cúpula das Américas, para os encontros bilaterais. Para utilizá-las, será aplicado o critério de quem pediu primeiro.

A segurança do evento não divulga quantos funcionários estarão envolvidos. Mas, Trinidad e Tobago recorreu a cada país vizinho de língua inglesa para que fornecessem pelo menos 20 soldados para ajudar na tarefa.

Trinidad e Tobago nada tem a ver com a imagem de república pré-industrial do Caribe. Trata-se de um arquipélago de 5.128 quilômetros quadrados que, sustentado pela produção e exportação de petróleo e gás natural, registrou significativas taxas de crescimento econômico nos últimos anos - 3,5%, em 2008, e 5,5%, em 2007. Seu Produto Interno Bruto (PIB), no ano passado, atingiu US$ 15 bilhões.

No ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), estava na 57ª posição, atrás somente do Chile, da Argentina, do Uruguai, das Bahamas, de Costa Rica e do México, entre os latino-americanos e caribenhos. O país tem apenas 1,3 milhão de habitantes.

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