Obama dedica primeiro dia na Sala Oval para discutir solução para crise

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, entrará nesta quarta-feira na Sala Oval da Casa Branca para se reunir com seus assessores e conselheiros econômicos e discutir os primeiros passos de seu governo para recuperar a economia.


Barack Obama entra na Sala Oval e conversa com Rahm Emanuel, chefe-de-gabinete, para discutir agenda de reuniões

Uma das primeiras medidas de Obama, contudo, foi pedir a suspensão por 120 dias dos julgamentos dos detidos na prisão de Guantánamo. O ato já foi acatado pelo juiz militar Patrick Parrish e agora precisa ser apoiado pelo juiz Stephen Henley.

Embora a decisão tenha sido comemorada pela União Europeia, é consenso que a prioridade do governo Obama será a economia. Afinal, o democrata assume a Presidência de um país que, como ele mesmo já disse, terá de enfrentar desafios que "serão os maiores de nossos tempos", incluindo "a pior crise financeira em um século", e uma recessão que cabe a ele reverter.

Segundo a imprensa americana, assim que chegar à Casa Branca, após culto na tradicional National Cathedral, a crise que os bancos atravessam poderia concentrar as discussões na reunião. Obama deve debater ainda sobre os esforços de seus assessores para aprovar no Congresso o plano de resgate financeiro proposto por Obama de US$800 bilhões.

O objetivo a curto prazo é retomar o fluxo de crédito da economia, para que as empresas e consumidores possam ter acesso a empréstimos.

No seu discurso de posse, o primeiro como presidente, Obama pediu aos americanos que tenham esperança, mas alertou que a solução para a crise econômica não será fácil ou rápida.

"Hoje eu digo a vocês que os desafios que enfrentamos são reais. Eles são sérios e muitos. Eles não serão encontrados de maneira fácil ou em um curto período de tempo", disse Obama, que assumiu a Casa Branca sob grandes expectativas para solucionar a crise financeira americana e retomar o crescimento econômico.

Desafio

A crise financeira, de fato, promete ser das piores que o país já enfrentou, tenha ou não um século --a Grande Depressão de 1929 completa 80 anos neste ano.

O CBO (Escritório Orçamentário do Congresso, na sigla em inglês) informou neste mês, com base em dados do Departamento do Tesouro, que "o acentuado declínio no mercado imobiliário doméstico no país [...] levou os EUA a uma recessão que provavelmente será a maior e mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial". Para o CBO, a recessão irá prosseguir ao longo deste ano. Uma lenta recuperação --com um crescimento de apenas 1,5%-- só deve começar a se fazer sentir em 2010.

Antes dessa fraca recuperação, o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA deverá ter neste ano uma contração de 2,2%.

A economia americana comporta atualmente um contingente de 2,6 milhões de desempregados, o pior número desde 1945. O país atravessa uma recessão iniciada em dezembro de 2007 --naquele mês, a economia atingiu um pico e, a partir dali, passou a declinar, segundo o Nber (Escritório Nacional de Pesquisa Econômica, na sigla em inglês).

O Federal Reserve (Fed, o BC americano) está 'ficando sem a munição que é usada normalmente em períodos de recessão [reduções de juros]', segundo o próprio Obama (os juros do BC americano estão agora entre zero a 0,25%).

Pacote

Prevendo que os primeiros movimentos como presidente não serão fáceis, Bush pediu ao Congresso, em colaboração com Obama, a liberação dos US$ 350 bilhões que restam no pacote de US$ 700 bilhões aprovado em outubro passado para ajudar bancos com papéis "podres" (de alto risco de calote) em suas carteiras, principalmente ligados a hipotecas "subprime" (de alto risco).

O pacote, no entanto, virou uma espécie de "cola tudo", uma panacéia para todos os males financeiros do país: o Departamento do Tesouro, em novembro, mudou o foco do pacote e informou que irá aplicar os recursos, por exemplo, em companhias de cartões de crédito e de financiamento automobilístico e estudantil. Até duas das três grandes montadoras do país --GM e Chrysler-- obtiveram uma fatia do bolo, de US$ 17,4 bilhões.

O presidente do Fed, Ben Bernanke, já disse que a recuperação do país não vai ocorrer a não ser que outras medidas sejam tomadas para estabilizar o abalado sistema financeiro. "Na minha visão, ações fiscais são incapazes de promover uma recuperação durável a menos que sejam acompanhadas por fortes medidas no sentido de estabilizar e fortalecer o sistema financeiro", disse. "A história demonstra conclusivamente que a economia moderna não pode crescer se o seu sistema financeiro não está operando eficientemente."

Está em gestação, em negociações de Obama com o Congresso, um plano de recuperação que poderá chegar a US$ 800 bilhões em dois anos, com meta ambiciosa de criar 4 milhões de empregos. Obama ainda prometeu um corte de US$ 1.000 em impostos para 95% das famílias de trabalhadores de classe média americanos.

No último dia 13, o governo informou que o déficit orçamentário federal no primeiro trimestre do ano fiscal de 2009 (de outubro a dezembro) ficou em US$ 485,2 bilhões, superando o déficit de todo o período fiscal anterior, US$ 455 bilhões. No exercício fiscal de 2007 foi de US$ 161 bilhões. O CBO projeta para o ano fiscal de 2009, que termina em setembro que vem, um déficit orçamentário de US$ 1,2 trilhão.

Origem da crise

A crise em que a economia americana se encontra foi deflagrada pelo colapso do mercado de hipotecas "subprime" (de maior risco de calote). Em 2003, os EUA, que se recuperavam do período de recessão em que caíram em 2001, ganharam impulso: os juros do Fed chegaram a 1% --os mais baixos desde 1958, até então. Foi o estímulo que contribuiu para o crescimento do mercado imobiliário residencial que prosseguiria até seu pico em 2006.

Mas a raiz do problema ia mais fundo que isso. Roger Altman, ex-subsecretário do Tesouro dos EUA entre 1993 e 1994, destaca, além dos juros baixos, o excesso de liquidez (oferta de dinheiro) gerado pelos superávits financeiros construídos por países, como China, Cingapura e os Estados produtores de petróleo do golfo Pérsico.

Segundo ele, em artigo na revista "Foreign Affairs" de janeiro deste ano, os superávits financeiros na Ásia cresceram depois das crises de 1997 e 1998 "e, então, voltaram firmemente para o Ocidente na forma de investimentos".

Os clientes classificados como de maior risco aproveitaram a junção de juros baixos com oferta de dinheiro para financiar ou hipotecar a casa própria. Altman destaca que o volume anual de hipotecas "subprime" e de outros títulos cresceu de uma média de longo prazo de cerca de US$ 100 bilhões para mais de US$ 600 bilhões em 2005 e 2006.

Guantánamo

Em seu primeiro dia como presidente, Obama pediu a suspensão até 20 de maio de todos os julgamentos dos detidos na prisão de Guantánamo. O ato é o primeiro sinal de Obama para mostrar aos americanos --e a comunidade internacional- que está disposto a encerrar o legado impopular de George W. Bush.

A solicitação formal neste sentido foi apresentada na noite desta terça-feira (20), às 20h51 (23h51 no horário de Brasília) aos juízes militares responsáveis pelos casos de Guantánamo, em cumprimento a uma ordem de Obama, transmitida oralmente através do secretário da Defesa, Robert Gates --que já estava no cargo durante o governo Bush.

Um dos procuradores, Stephen Henley, é responsável pelo processo de cinco homens acusados de ajudar a organizar os atentados de 11 de setembro de 2001 e ainda não deu sua resposta. O segundo, Patrick Parrish, examina o caso de Omar Khadr, um canadense detido quando tinha apenas 15 anos no Afeganistão, acusado de matar um soldado americano. Ele já afirmou que apoia o pedido de Obama.

O democrata Obama já havia se comprometido, ao longo da campanha pela Casa Branca, a fechar a prisão de Guantánamo, onde um "buraco negro" legal permite que os prisioneiros sejam mantidos sem julgamento ou acusação formal por anos.

Segurança nacional

Nesta quarta-feira, Obama deve se reunir ainda com a cúpula do Pentágono, para discutir temas de segurança nacional e militares. Na sala, estarão o secretário da Defesa, Robert Gates, o chefe do Estado-Maior, almirante Mike Mullen, e o comandante do Comando Central, general David Petraeus.

Por meio de videoconferência, estarão ainda o general Ray Odierno, responsável pelas tropas americanas no Iraque, e seu colega no Afeganistão, David McKiernan.

Na pauta, estará as duas guerras que Obama herdou do governo de George W. Bush. O democrata se comprometeu, durante a campanha, encerrar o conflito no Iraque que, em seis anos, já deixou mais de 4.000 soldados mortos e custou mais de US$ 1 trilhão aos cofres americanos.

Obama deve pedir sugestões de estratégias para a retirada "responsável" das tropas americanas do Iraque. No fim do ano passado, os EUA assinaram com o governo iraquiano um acordo que estende a presença das tropas até 2011 e o debate agora é até que ponto Obama pode avançar na retirada sem ferir o acordo fechado pelo seu antecessor.

O novo presidente deve discutir ainda estratégias para ampliar os esforços da coalizão americana no Afeganistão. Nos debates presidenciais, ele se comprometeu a enviar ao menos duas novas brigadas para o país, que teve em 2008 um dos anos com mais ataques contra soldados estrangeiros.

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