Fusão entre Itaú e Unibanco quer ser banco global em 5 anos




SÃO PAULO - O presidente do Unibanco, Pedro Moreira Salles, afirmou nesta segunda-feira, 3, que quando teve início as negociações com o Itaú, em agosto do ano passado, o primeiro objetivo definido foi que a nova instituição possa ser considerada um competidor global no mercado financeiro. Segundo ele, o objetivo da fusão é que o novo banco seja global player em cinco anos.

Além disso, o presidente do Itaú, Roberto Setubal, reconheceu que a fusão com o Unibanco pode despertar aquisições entre outras instituições financeiras, o que segundo ele, é natural dentro do processo de consolidação vivido pelo setor financeiro. O executivo acredita que futuramente o Brasil terá cinco ou seis bancos muito fortes disputando o mercado e o Itaú/Unibanco será um deles.

Bradesco vai correr atrás para acompanhar Itaú, diz economista

A fusão entre Unibanco e Itaú deve fazer com que outras instituições que operam no País, principalmente o Bradesco, corram atrás de novas de novas aquisições para se equipararem à nova instituição. Nicholas Barbarisi, diretor de operações da Hera Investment, citou que, nos últimos anos, Bradesco e Itaú vêm acompanhando as incorporações do rival e agora não deve ser diferente. "Porém, dificilmente ele vai conseguir", afirmou.

Isso porque, segundo Barbarisi, não há nenhum outro banco no País que tenha a mesmo posição de mercado que o Unibanco tinha. "Possivelmente ele vai tentar crescer parte organicamente e parte através de aquisições de bancos médios", disse. O Bradesco, contudo, informou, por meio de nota à imprensa, que a fusão entre Itaú e Unibanco não altera a estratégia do banco e que essa operação irá ampliar a disputa no mercado financeiro brasileiro.

A instituição resultante da união anunciada nesta segunda-feira entre Itaú e Unibanco terá ativos totais consolidados de R$ 575,1 bilhões, considerando os números divulgados pelo bancos nos balanços do terceiro trimestre. A cifra é 33% maior do que no mesmo período do ano passado.

O banco dispara em primeiro lugar no ranking das instituições financeiras privadas, conforme levantamento da Austin Ratings. O Bradesco fica em segundo lugar, com ativos totais de R$ 422,7 bilhões, o que significa uma diferença de R$ 152,4 bilhões para o novo líder. O terceiro colocado, com R$ 301,7 bilhões é o Santander, já incorporando o Real. Juntas, as três instituições somam ativos consolidados de R$ 1,299 trilhão.

Ele afirmou que há perspectivas de novas fusões e aquisições em razão do anúncio. "Essa fusão deve impulsionar outros concorrentes a irem na mesma linha", disse. "Existem uma série de bancos médios que são possíveis alvos de aquisição. Elas (as aquisições) ficaram um pouco adormecidas em 2007, em função da facilidade de crédito no mercado de capitais, mas isso tende a voltar agora."

O professor da PUC-RJ e economista da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo, concordou. Para ele, a união do Itaú com o Unibanco deve estimular outros bancos a realizarem um movimento de concentração, dado que a fusão realizada pelas duas instituições criará um banco muito forte, que será a maior do gênero no Hemisfério Sul.

Liquidez

Sobre a afirmação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que a fusão pode ajudar a aumentar a liquidez no sistema financeiro brasileiro, que sofre com a crise internacional, Barbarisi afirmou que a nova instituição deve ter mais facilidade de captação e de distribuição deste crédito no mercado.

Na avaliação de Camargo, o acordo deve ajudar a melhorar a liquidez do sistema financeiro no médio prazo. Camargo destaca, contudo, que a retomada da plena concessão de crédito entre bancos e de instituições financeiras para empresas vai ocorrer aos poucos e deve atingir um nível de normalização em meados do segundo trimestre de 2009.

"Esse será um processo gradual, que vai melhorar. Mas é bom lembrar que o patamar de liberação de crédito será mais baixo em relação ao que vimos antes da piora mais vigorosa da crise internacional", ponderou.

Segundo ele, como os dois bancos estão confiantes no cenário favorável para o Brasil no longo prazo, esta fusão pode incentivar empresários a ficarem mais otimistas com a economia. Assim, a melhora das expectativas dos dirigentes de companhias poderá encorajá-los a retomar programas de investimentos que estavam temporariamente paralisados em função dos desdobramentos da crise financeira internacional.

Crise

A fusão do Unibanco e Itaú foi vista como positiva pelo economista e ex-ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira. "É uma boa notícia. Teremos um banco nacional muito grande, o que é importante para o País. Acho que todos os bancos de varejo deviam ser nacionais", opinou.

Segundo ele, no entanto, a fusão não tem nada a ver com a crise global. Apesar de as negociações terem começado há 15 meses, alguns analistas avaliam que ela teria sido acelerada pela crise. "Não creio que essa fusão seja conseqüência da crise. Até porque isso não se resolve de um dia para outro".

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