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'Efeito Bradley' pode tornar resultado das urnas incerto na terça-feira
Barack Obama discursa em Springfield, Missouri, neste sábado (1). (Foto: AFP)
Em 1982, 'medo de parecer racista' fez urnas desmentirem pesquisas. Analistas divergem sobre se isso poderia acontecer nestas eleições.
A menos de dois dias da votação que vai escolher o novo presidente dos Estados Unidos, a vantagem do candidato democrata, Barack Obama, nas pesquisas de intenção de voto é tão grande, que muitos já poderiam contar como certa sua vitória. Poderiam, no condicional, pois a história norte-americana mostra que nem sempre se pode confiar nas pesquisas de intenção de voto, especialmente quando um dos candidatos é negro.
Segundo a média nacional de pesquisas calculada pelo site Real Clear Politics, até este domingo (2), Obama tem 6,8 pontos percentuais a mais de que o republicano John McCain. No Colégio Eleitoral, as pesquisas já dão como certos 311 votos para o democrata, 41 a mais de que o mínimo para vencer a disputa. Mas o “efeito Bradley” torna o resultado final incerto.
Vinculado ao racismo ainda presente na sociedade norte-americana, este efeito recebe o nome de um ex-prefeito de Los Angeles, Tom Bradley, um político negro que concorreu ao governo da Califórnia em 1982. Na época, todas as pesquisas de intenção de voto apontavam ampla vantagem de Bradley, e todos esperavam uma vitória tranquila. Quando o resultado saiu, entretanto, Bradley havia sido derrotado pelo republicano George Deukmejian, que era branco.
A explicação geral para o erro das pesquisas não foi de que houve uma avaliação equivocada. Os principais analistas da época diziam que as pessoas respondiam às pesquisas a favor de Bradley para não soarem racistas, mas acabaram preferindo o republicano na hora em que escolhiam secretamente. Segundo estudiosos do caso, em pesquisas realizadas após a eleição, muitos eleitores preferiram não dizer em quem haviam votado.
Em entrevista recente ao G1, o professor da Universidade Estadual de Michigan Ronald Hall, autor do livro “Racismo no século XXI”, já apontava a existência do problema na atual eleição. “Não tenho certeza de que Obama de fato é aceito pela sociedade. Se ele fosse branco, estaria muito à frente de John McCain nas pesquisas. Muita gente que diz que apóia Obama agora não vai votar nele quando estiver sozinha na frente da urna de votação. Elas continuam presas ao racismo, mas têm vergonha de admitir”, disse.
O candidato e sua campanha, entretando, negam a possibilidade de uma derrota por conta do racismo. Antes mesmo de vencer as prévias do partido, que disputou com a ex-primeira-dama Hillary Clinton, Obama já negava a existência de questões de raça.
"A raça ainda é um fator na nossa sociedade? Sim. Não acho que alguém negue isso", disse então ao canal Fox News. "Será isso determinante na eleição geral? Não, porque estou absolutamente confiante de que o povo norte-americano está procurando alguém que possa resolver seus problemas", completou. "Se eu perder, não será por causa da raça. Será porque cometi erros na campanha, não comuniquei efetivamente meus planos em termos de ajudar (as pessoas) nas suas vidas cotidianas."
Tratando mais especificamente do “efeito Bradley”, Michelle Obama, mulher do candidato democrata, disse recentemente à rede de TV CNN que muito mudou desde os anos 80, quando aconteceu o caso na Califórnia.
“Isso foi há muitas décadas, e acho que houve um grande crescimento desde então. Acredito que os temas da campanha vão pesar mais nos corações das pessoas quando elas entrarem nas cabines de votação dessa vez.”
Efeito contrário
Alguns analistas acham imporvável que o “efeito Bradley se repita neste ano e consideram até mesmo a possibilidade de ele estar presente de forma inversa. Segundo Douglas Wilder, prefeito de Richmond, na Virgínia, e primeiro negro a se eleger governador de um Estado no país, alguns eleitores podem mentir para esconder racismo, mas outros vão apoiar Obama em silêncio. “Alguns republicanos não vão ter coragem de admitir apoiarem Obama, mas na hora de votar vão preferir o democrata por saberem que ele é melhor para a economia do país”, disse à CNN, se refefrindo ao principal tema da atual eleição.
Ainda durante as prévias democratas, o pesquisador de relações raciais nos Estados Unidos Shelby Steele disse ao G1 que Obama se beneficia eleitoralmente do fato de ser negro. Segundo ele, uma “culpa branca” faz com que o eleitorado queira superar a história de racismo que o país viveu.
“Os Estados Unidos estão desesperados por um presidente negro, e Obama se beneficia disto”, disse Steele.
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