Símbolo de luxo e progresso, 1º trem-bala chinês vira atração turística


RAUL JUSTE LORES



Trem-bala que liga a capital Pequim ao porto de Tianjin é considerado o mais rápido do mundo, chegando a 350 km/h

Os passageiros parecem não estar nem aí com a viagem ou com o destino. Ao desembarcar do trem-bala que liga Pequim ao porto de Tianjin, boa parte dos 600 turistas continua na estação, tirando fotos da locomotiva, das comissárias de bordo, do novo terminal.

Inaugurado há dois meses, o primeiro trem de alta velocidade da China é motivo de orgulho nacional. É considerado o mais rápido do mundo: atinge 350 km/h em todas as viagens.

Ele percorre os 120 quilômetros entre as duas grandes cidades em 30 minutos (desconhecida no exterior, Tianjin tem 6 milhões de habitantes). Um terço do tempo necessário para percorrer a distância de automóvel.

"De carro levava uma hora e meia. Agora pretendo viajar mais vezes e até fazer negócios", diz Liu Chao, que trabalha em uma empresa de celulares. "Gastava 70 yuans (R$ 23) só em pedágios."

As passagens custam entre 58 yuans e 99 yuans (R$ 17 e R$ 27, respectivamente). Há dez trens fazendo 43 viagens por dia, com intervalos de 10 a 20 minutos. Cada um leva 600 passageiros. A estação recém-reformada e ampliada, Pequim Sul, é a maior da Ásia, com pé-direito altíssimo, teto de vidro e painéis solares. Tem 24 plataformas, já pensando nos futuros trens que pararão ali.

Pontual, limpo e confortável, mas sem os luxos do congênere japonês Shinkansen (que tem tomadas para laptops e para carregar bateria de celular e que oferecerá acesso à internet sem fio em março), ele virou programa por si só.

Muitos admitem que só embarcavam para Tianjin por causa do trem, retornando no mesmo dia, mas aproveitariam a viagem para comer frutos do mar.

Para um país onde carros particulares só começaram a se popularizar há cinco anos, o trem-bala é a prova do progresso chinês, colocando o país à altura da União Européia ou do Japão.

Projeto grandioso



Como quase tudo na China, o trem-bala é apenas o início de um projeto grandioso. O governo pretende inaugurar 16 deles até 2012, ano em que deve ser aberta a linha Pequim-Xangai. O trajeto passará a ser feito em quatro horas (a uma velocidade de 380 km/h), contra as dez horas atuais. Com 1.318 quilômetros, será a mais extensa linha direta de alta velocidade do mundo.

"Buscamos o desenvolvimento harmonioso do país, levando ferrovias para diferentes regiões", disse à Revista o porta-voz do Ministério das Ferrovias da China, Wang Yongping.

Apesar de ser apenas 10% maior que o Brasil em território, a malha ferroviária da China é quase o triplo da brasileira. Dos atuais 78 mil quilômetros, deve chegar a 100 mil em 2020.

O governo chinês investiu 960 bilhões de yuans (R$ 240 bilhões) em sua rede de ferrovias, em 40 parcerias entre o governo nacional e as Províncias chinesas.

Em tempos de desaceleração global, a China usa seus recheados cofres para incentivar o crescimento e dar empregos nas grandes obras.

Foi criada uma comissão interministerial no mês passado para estudar o financiamento de futuras linhas, a aquisição e a pesquisa interna de nova tecnologia para diminuir a dependência de fornecedores estrangeiros. O ministro da Ciência e Tecnologia, Wan Gang, que dirigiu o setor de veículos híbridos da Audi, encabeça o grupo.

Alta densidade




Passageiros se acomodam no primeiro trem de alta velocidade da China, que é símbolo do progresso e motivo de orgulho nacional
"Há 400 milhões de pessoas morando entre as regiões de Pequim e Xangai. É uma aposta alta, de risco, mas eles têm muito dinheiro para gastar e a escala chinesa ao lado deles", diz o consultor americano Richard Brubaker, especialista em logística, da Câmara de Comércio Americana em Xangai.

A linha de 120 quilômetros entre Tianjin e Pequim custou o equivalente a R$ 5 bilhões. A segunda linha em construção, de 300 quilômetros e que liga Xangai a Nanjing, está orçada em 40 bilhões de yuans (R$ 10 bi).

O trem de alta velocidade entre São Paulo, Rio de Janeiro e o aeroporto de Viracopos, de 500 quilômetros, deve custar R$ 20 bilhões.

Mas nem tudo é luxo na China. Na chegada à nova e reluzente estação ferroviária de Tianjin, os passageiros são assediados por dezenas de taxistas clandestinos e vendedores ambulantes bem humildes, retratos da desigualdade chinesa, que tentam pegar carona no desenvolvimento chinês.

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