MICHAEL BRISTOW
da BBC, em Pequim
Com quase US$ 2 trilhões em reservas de moeda estrangeira, a China é considerada por alguns como a potencial salvadora do sistema bancário ocidental. Para tentar resgatar as empresas do setor financeiro, os governos ocidentais precisam de dinheiro, e a China parece um bom lugar para consegui-lo.
Mas economistas chineses dizem que, mesmo se estiver mostrar disposto a fazer sua parte nos esforços de resgate, o país não passará cheques em branco.
Autoridades do governo chinês dizem estar mais preocupadas com seus próprios problemas como evitar a desaceleração de sua própria economia.
Qualquer ajuda oferecida pelo governo chinês para ajudar a solucionar a atual crise financeira deverá vir com amarras.
O florescimento das exportações chinesas nos últimos anos ajudou o país a construir a maior reserva do mundo em moeda estrangeira.
Segundo números divulgados na semana passada, o montante chega a US$ 1,9 trilhão.
Empréstimo Em artigo publicado no diário financeiro britânico "Financial Times", o economista Arvind Subramanian sugere que os Estados Unidos poderiam tomar algum dinheiro emprestado da China.
"O governo chinês poderia oferecer um empréstimo de até US$ 500 bilhões para o governo americano para ajudar a resgatar seu setor financeiro", disse Subramanian, do Instituto Peterson de Economia Internacional.
Na realidade, os chineses têm feito algo parecido com um empréstimo nos últimos anos. O governo de Pequim tem comprado parte da dívida americana, o que possibilitou aos Estados Unidos gastar além do que poderiam.
"A China já está ajudando a economia americana e, se possível, continuará a fazê-lo", disse Zhao Xiijun, da Universidade Remin, em Pequim.
Mas, para Zhao, a China não poderá, sozinha, resolver os problemas financeiros do mundo. Na opinião do economista, outros emergentes como Índia, Rússia e Brasil também terão de ajudar.
"Não será suficiente se as economias emergentes ou os países desenvolvidos fizerem isso sozinhos", acrescentou Zhao. "Eles deverão fazer isso juntos."
Agenda chinesa
Apesar de a China ter dinheiro para ajudar, não é certo que haja vontade política para colocar a crise financeira mundial no topo da agenda do país.
Os líderes chineses já sinalizaram que os governos do Ocidente devem sanar seus próprios problemas financeiros.
Yi Gang, vice-diretor do Banco Popular da China, levantou essa questão durante um encontro de líderes mundiais em Washington na semana passada.
"O Banco Mundial deveria pedir aos países desenvolvidos que carreguem nas costas suas responsabilidade por estabilizar a economia global", afirmou.
O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, também acrescentou seus comentários ao debate. Disse que seu país fará sua parte na crise, mas, em uma conversa telefônica com o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, deixou claro onde residem as prioridades da China.
"A coisa mais importante para a China agora é lidar com suas próprias questões", teria dito o primeiro-ministro, segundo relatos obtidos pela agência estatal chinesa Xinhua.
Há alguns dias, a China prometeu dobrar, nos próximos 12 anos, os salários dos moradores da zona rural, onde ainda vive a maioria de sua população.
O governo vai tentar cumprir a promessa, apesar de o economista chinês independente Andy Xie acreditar na desaceleração econômica do país.
Xie diz que a China escapou dos grandes problemas financeiros que afetaram os outros, mas terá de procurar outras áreas do mundo para gerar crescimento no futuro.
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