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Governo não autorizou tiro em Lindemberg, afirma promotor
Eloá Pimentel, 15, que morreu baleada pelo ex-namorado em Santo André
O promotor Antonio Nobre Folgado disse ontem que os integrantes do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) não tinham autorização do gabinete de crise e de seus superiores para realizar o "tiro de neutralização" contra Lindemberg Fernandes Alves, 22 anos, que manteve por cem horas como refém Eloá Cristina Pimentel, 15, antes de matá-la em Santo André (Grande São Paulo).
Mas o grupo tinha autorização para invadir o cativeiro. Na sexta-feira, antes do desfecho do caso, o Gate decidiu que era hora de invadir o apartamento e começou a preparar a ação, que iria ocorrer de qualquer maneira naquele dia ou na manhã seguinte, mesmo se não houvesse disparo por parte do seqüestrador, diz o promotor. As informações constam nos depoimentos de PMs que atuaram na operação e dos comandantes da Tropa de Choque, coronel Eduardo Félix, e do Gate, Adriano Giovaninni, anexados no inquérito da Polícia Civil.
O gabinete de crise era constantemente informado sobre o andamento da situação e seria formado pelo governador José Serra (PSDB), o secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, e a cúpula da Polícia Militar.
"O Gate estava preparando a invasão para algum momento, ela iria ocorrer de qualquer forma porque o Lindemberg não apresentou disposição para se entregar. Isso não precisa ser autorizado por um agente externo, é decisão deles no hora. A equipe tática esperava apenas o momento oportuno. Para disparar, eles já não tinham permissão", afirma Folgado.
Conforme o promotor, a decisão de que a invasão poderia ocorrer na sexta-feira foi comunicada ao gabinete de crise e decorreu de uma "seqüência de fatos diferentes" naquele dia. Segundo ele, os PMs entenderam que "aquele era o momento oportuno porque algum fator, e invadiram". "Se houve ou não o tiro, não vou entrar no mérito." Segundo Folgado, a barricada feita pelo seqüestrador pode ter sido o que definiu a decisão de invadir.
Após receber alta médica e depor à polícia, Nayara Rodrigues deixa o hospital acompanhada do padrasto e da mãe, Andréa Araújo
Em depoimento, a jovem Nayara Rodrigues, 15, que também foi mantida como refém e sobreviveu ao ser alvejada na boca, disse que Lindemberg arrastou uma mesa e um rack para trás da porta minutos antes da invasão do Gate. Policiais confirmam que perceberam a barricada cerca de três minutos antes da invasão.
Segundo Folgado, o jovem pode ter previsto que a invasão ocorreria naquele dia e por isso fez a barreira.
A data da reconstituição do assassinato de Eloá continua indefinida. Nayara, amiga da estudante morta, deve participar da encenação. O delegado-seccional de Santo André, Luiz Carlos dos Santos, disse que precisa receber os laudos e localizar a adolescente, que está no interior.
Outro lado
A Secretaria de Estado da Segurança Pública afirmou ontem que o Gate tinha total liberdade de ação durante os cinco dias do seqüestro e negou que houve qualquer interferência do titular da pasta, Ronaldo Marzagão, no desdobramento do caso.
A secretaria confirmou, porém, que o secretário e o governador José Serra (PSDB) eram informados constantemente sobre a situação, mas negou também que ambos não tenham autorizado o Gate a disparar contra Lindemberg, afirmando que a decisão, em última instância, cabe ao comando da operação no local e aos policiais, que possuíam melhor campo de visão sobre se poderiam acertar ou não Lindemberg.
A assessoria do Palácio dos Bandeirantes não respondeu se Serra estava ciente de que a invasão ocorreria, mesmo o fato tendo repercussões políticas.
A ação ocorreu um dia após um confronto entre as polícias Civil e Militar e uma semana antes do 2º turno das eleições municipais. A PM disse que só irá se manifestar após o fim das investigações.
TAHIANE STOCHERO, do Agora
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