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De olhos abertos
Graças ao observatório de Paranal, no Chile, começamos a conhecer mundos muito além do nosso sistema solar. Galileu foi até lá para desvendar as engrenagens dessa fábrica de conhecimento.
Pablo Nogueira
Fotos Nasa
Paranal é o nome de uma montanha pequena e íngreme, escondida na vastidão desértica do Atacama, no norte do Chile, 2.600 m acima do nível do mar. Paranal também é o nome do observatório construído no seu cume, equipado com os mais poderosos telescópios ópticos do mundo, e que, após uma década de atividades, já entrou para a história da astronomia. Os dados gerados pelos seus quatro telescópios principais e três secundários encheram as páginas de mais de 2 mil artigos, publicados nas principais revistas científicas do planeta. A torrente de informações continua fluindo, resultando em um novo trabalho a cada dia. De há muito que a ciência produzida por lá ultrapassou os limites da comunidade astronômica. Feitos como a confirmação da existência de um superburaco negro no centro na Via Láctea, o cálculo da idade do Universo e a identificação de um planeta extra-solar com potencial para abrigar vida carregaram o nome do observatório para a mídia. Mas talvez a façanha que mais impressionou tenha sido a primeira foto infravermelha de um planeta fora do nosso Sistema Solar.
Foi apenas nos anos 1990, após ter vagado por décadas num limbo entre a ciência e a ficção, que a busca de planetas ao redor de outras estrelas se firmou como uma movimentada área de pesquisas. Em 1995, Michel Mayor e Didier Queiloz anunciaram a detecção de um objeto orbitando a estrela 51 Pegasi a. Nos três anos seguintes, o feito foi repetido dezenas de vezes. Usando uma combinação de telescópios sofisticados e matemática, os astrônomos mediam variações no comprimento de onda da luz emitida pelos astros. Por trás dessas variações estava um puxão gravitacional sentido pela estrela. Os registros permitiam estimar o tamanho do sujeito que estava dando o puxão (um planeta), bem como sua distância da estrela. Como todas as descobertas haviam sido feitas com métodos indiretos, os astrônomos se referiam a elas como "detecções". Ninguém havia realmente visto um mundo alienígena até então e a realização da primeira foto era um troféu que mais cedo ou mais tarde seria reclamado por alguém. Juntamente com a glória científica.
Dez anos atrás, a astrônoma francesa Anne Marie Lagrange tinha 35 anos, um emprego no Observatório Astrofísico de Grenoble e uma idéia para pesquisar extra-solares. Ela sonhava em ultrapassar as detecções indiretas e chegar a enxergá-los de verdade. Para isso tinha um plano: procurá-los junto a estrelas jovens que estivessem nas redondezas do Sistema Solar. Redondezas, no sentido cósmico da palavra, significam uma distância de até 200 anos-luz. Em 1998, sabia-se apenas de dois aglomerados de estrelas situados a essa distância, e nenhum parecia abrigar astros muito novos. Ali estava, então, um programa de pesquisa com possibilidades de gerar descobertas em várias áreas.
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