Centro e periferia II

Alexandre Teixeira

O BC não se arrependeu, constrangido, do aperto monetário que vem impondo ao Brasil desde abril. Só interrompeu a alta dos juros porque há incerteza demais no cenário para tomar decisões agora. Mas deixou claro que pode retomar o processo de alta dos juros, se a inflação voltar a ser uma ameaça.

É claro que, se outros países cortaram os juros para reanimar suas economias, a postura do Banco Central brasileiro deve ser vista como mais conservadora. Mas a parada técnica desta quarta-feira não indica nenhuma mudança nessa postura.

Nesse sentido, afirmações como “A manutenção da Selic deve ser bem recebida, desde que seja vista como o início de um processo de queda” - esta feita por Paulo Skaf, presidente da Fiesp - são ingênuas ou, mais provavelmente, populistas. A Fiesp tem todo o direito de espernear, “denunciando” que a taxa real do Brasil é a maior do mundo. Analistas menos preocupados em jogar para a platéia contra-argumentarão que a alta do dólar colocará pressão sobre os preços a partir do início de 2009. E a única maneira de evitar uma nova alta da inflação é enfraquecer a demanda.

A situação é, portanto, diferente da que se vê nos EUA. Lá, não faz sentido falar em reprimir a demanda. A queda na atividade econômica já é uma realidade, e os gastos dos consumidores já entraram em declínio, apesar dos seguidos cortes nas taxas de juros. Há 13 meses, o juro básico americano estava em 5,25%. Hoje, está em 1%. E o mundo inteiro duvida de que, mesmo assim, os EUA possam se safar de uma recessão.

Mais produtiva é a discussão sobre o fato de a decisão do Brasil, de manter seus juros altos, destoar também da de outros países emergentes. A começar pela China, que nesta quarta-feira anunciou o segundo corte da taxa básica neste mês.
30 de Outubro de 2008

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