Planeta similar à Terra é descoberto e tem potencial para conter vida

Detecção foi feita por equipe de astrônomos norte-americanos. Astro está localizado a 20 anos-luz de distância do Sol.

Um astro com apenas três vezes a massa da Terra foi detectado a 20 anos-luz, orbitando uma estrela da constelação de Libra conhecida como Gliese 581, uma anã vermelha. Astrônomos da Universidade da Califórnia e da Carnegie Institution de Washington afirmam que o planeta é o primeiro a apresentar potencial real para conter vida.

A descoberta foi divulgada nesta quarta-feira (29) pela Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos. O astro, chamado Gliese 581g, fica em uma região na qual os astrônomos julgam que um planeta pode apresentar água líquida para formar oceanos, rios e lagos. No local, a distância da estrela permitiria um ambiente com clima ameno, nem tão frio, nem tão quente.

A ilustração mostra um formato possível para o exoplaneta que orbita a estrela Gliese 581, a apenas 20 anos-luz de distância da Terra. (Crédito: AP / Zina Deretsky / National Foundation of Science)

A órbita do planeta ao redor da estrela Gliese 581 dura pouco mais de um mês terrestre, com as possíveis estações de ano durando apenas dias.

Não é o primeiro planeta a ser descoberto na "zona habitável" da estrela. Em 2007, um outro exoplaneta, localizado próximo a mesma estrela, foi catalogado, também com potencial para ser conter vida.

Cientistas também estimam que a temperatura média na superfície varia de 31 a 12 graus Celsius negativos. A equipe também afirma que o planeta orbita com uma face sempre voltada à estrela, de forma similar a como a Lua sempre mostra uma face à Terra.

Para os astrônomos, o planeta pode "sustentar vida", o que significa que ele tem potencial para reunir condições de vida. Os seres vivos podem não ser necessariamente parecidos com humanos.

Segundo Steven Vogt, coordenador da pesquisa que contou com 11 anos de trabalho no Observatório W. M. Keck, localizado no Havaí, a descoberta é um indício de que podem existir muitos outros corpos similares no Universo. O exoplaneta ao redor de Gliese 581 é encarado como o primeiro com potencial real para apresentar vida.

Os resultados serão publicados na revista científica Astrophysical Journal, mas estão disponíveis online no site arXiv.org. Até setembro, 490 planetas foram descobertos fora do Sistema Solar.

A zona habitável

A zona habitável é definida como a distância da estrela onde a energia que atinge o planeta é suficiente para manter água em estado líquido, na superfície ou logo abaixo do solo.

O planeta é um de dois novos astros encontrados em órbita da estrela Gliese 581, a 20 anos-luz da Terra. Chamado Gliese 581g, o planeta tem um período orbital de 36,6 dias, uma massa que pode estar entre 3,1 vezes e 4,3 vezes a massa da Terra e um raio até 50% maior que o terrestre, diz, por meio de nota, um dos autores da descoberta, Paul Butler, da Pesquisa de Exoplanetas Lick-Carnegie. A gravidade na superfície deve ser de menos que o dobro da terrestre.

O planeta fica bem perto de sua estrela - a distância que o separa dela é apenas 14% da que separa a Terra do Sol -, mas como Gliese 581 é muito mais fraca que o Sol, tem uma zona habitável que começa e termina a uma distância muito menor de sua superfície.

Os autores da descoberta, descrita no Astrophysical Journal, especulam que o planeta pode ter uma face permanentemente voltada para sua estrela. Trata-se do mesmo fenômeno que ocorre na Lua, que apresenta sempre o mesmo lado para a Terra. Se esse for o caso, Gliese 581g teria um lado extremamente quente e o outro, completamente congelado, com uma faixa potencialmente habitável na linha que separa os hemisférios quente e frio.

Gliese 581g não é o primeiro planeta encontrado dentro da zona habitável dessa estrela: outro mundo, Gliese 581d, descoberto em 2007, tem a maior parte de sua órbita dentro dessa região do espaço. No entanto, Gl 581d tem sete vezes a massa terrestre, o equivalente a metade da massa do planeta gigante Urano.

A despeito disso, no ano passado a revista australiana Cosmos coletou mensagens para serem enviadas ao espaço na direção desse planeta, na esperança de que seres vivos de lá, caso existam, sejam inteligentes e possam reconhecer o sinal da Terra.

A estrela também abriga um dos planetas extrassolares de menor massa, Gliese 581e, com 90% mais massa que a Terra. Mas Gl 581e fica muito perto do astro - a distância que o separa da estrela é de apenas 3% da que existe entre a Terra e o Sol.

Com os dois novos planetas encontrados, a estrela agora passa a ter seis mundos conhecidos. De acordo com a nota dos autores da descoberta, o sistema da estrela Gliese 581 sugere que a proporção de estrelas da Via Láctea com planetas potencialmente habitáveis pode ser maior do que se pensava, chegando a algumas dezenas de 1%.

Pode parecer pouco, mas o total de estrelas da galáxia é estimado como algo entre 200 bilhões e 400 bilhões - se 20% delas tiverem pelo menos um planeta habitável, haveria de 40 bilhões a 80 bilhões de mundos onde a vida poderia florescer.

Até hoje, foram descobertos cerca de 490 planetas localizados fora do Sistema Solar.

O artigo científico que descreve a descoberta

Descoberta de planeta habitável é iminente, dizem astrônomos

Astrônomos afirmam que estão à beira de encontrar planetas semelhantes à Terra em órbita de outras estrelas, um passo essencial para determinar se estamos sozinhos no Universo.

Um alto funcionário da Nasa e outros importantes cientistas dizem que, dentro de quatro ou cinco anos, o primeiro planeta semelhante à Terra e capaz de abrigar vida deve ser encontrado, ou talvez até já tenha sido. Um planeta com o tamanho aproximado da Terra pode até mesmo ser anunciado ainda este ano, se certas pistas detectadas por um telescópio espacial se confirmarem.

Na reunião anual da Associação de Astronomia dos Estados Unidos, cada uma das descobertas a respeito de "exoplanetas" - os localizados fora do Sistema Solar - aponta para a mesma conclusão: planetas onde a vida pode surgir provavelmente abundam, a despeito da violência do ambiente espacial, repleto de explosões, buracos negros e colisões.

Ilustração mostra como pode ser um planeta semelhante à Terra. Reprodução/Nasa

O novo telescópio espacial Kepler, da Nasa, e diversas novas pesquisas do campo, que de repente se tornou altamente competitivo, da exoplanetologia geraram um notável burburinho na convenção. Cientistas falam que hoje estão num "ponto incrivelmente especial da história", e perto de descobrir a resposta para a pergunta que incomoda a humanidade desde os primórdios da civilização.

"A pergunta fundamental é: estamos sós? Pela primeira vez, há otimismo de que em algum ponto, dentro de nosso tempo de vida, vamos chegar à resposta para isso", disse Simon Worden, astrônomo e chefe do Centro de Pesquisa Espacial Ames, da Nasa. "Se eu fosse de apostar, e sou, apostaria que não estamos sós, que há um monte de vida".

Até mesmo a Igreja Católica realizou conferências científicas sobre a possibilidade de vida extraterrestre, incluindo um simpósio em novembro passado.

"Estas são grandes questões que refletem sobre o significado da raça humana no Universo", disse o padre José Funes, diretor do Observatório do Vaticano, que participa da reunião de astrônomos dos EUA.

Worden disse que "com certeza, espero que dentro de quatro ou cinco anos teremos um planeta do tamanho da Terra dentro de uma zona habitável".

O centro dirigido por Worden controla o telescópio Kepler, que está fazendo um intenso recenseamento planetário.

Diferente do Telescópio Espacial Hubble, que é um instrumento genérico, o Kepler é um telescópio especializado na caça de planetas. Seu único instrumento é um fotômetro que mede o brilho de mais de 100.000 estrelas simultaneamente, em busca de qualquer coisa que faça uma estrela perder brilho. Esse enfraquecimento pode ser sinal de um planeta passando diante da estrela.

Qualquer planeta apto a abrigar vida quase que certamente será rochoso, não gasoso. E precisaria estar no lugar certo. Planetas muito próximos de uma estrela seriam quentes demais, e os muito distantes, excessivamente frios.

"Para todo lugar que olhamos, achamos um planeta", disse o astrônomo Scott Gaudi, da Universidade Estadual de Ohio. "Eles aparecem em todo tipo de lugar, em todo tipo de ambiente".

Pesquisadores estão encontrando planetas num ritmo alucinante. Nos anos 90, eram descobertos um ou dois planetas ao ano. Na maior parte da década passada, a taxa chegou a um ou dois planetas ao mês.

Neste ano, os planetas estão surgindo num ritmo diário, graças ao Kepler. O número de exoplanetas descobertos já supera os 400. Mas nenhum deles tem as características corretas para a vida.

Isto tende a mudar, afirmam os especialistas.

"Do Kepler, temos fortes indicações de planetas menores em grande quantidade, mas elas não foram verificadas ainda", disse Geoff Marcy, da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Mas há uma importante ressalva. A maioria dos primeiros candidatos a exoplaneta do Kepler estão se revelando outras coisas que não planetas, como uma segunda estrela passando na frente da primeira, disse o cientista Bill Borucki.

O Kepler está se concentrando em cerca de 0,25% do céu noturno, analisando estrelas a distâncias de centenas a milhares de anos-luz. Os planetas descobertos por ele são muito distantes para que se possa viajar até eles, e não podem ser observados diretamente, como os que se encontram no Sistema Solar.

Se houver um planeta como a Terra na área de busca do Kepler, o telescópio o encontrará, disse Marcy. Mas podem ser necessários até três anos para confirmar a órbita de um planeta.

O que o Kepler confirmou até agora aponta para a ideia de que há muitas outras Terras. Antes do telescópio espacial, esses corpos eram pequenos demais para serem vistos. Borucki, nesta semana, anunciou a descoberta de cinco novos exoplanetas, em apenas seis semanas de observações. Mas esses planetas são muito grandes e estão no lugar errado para serem como a Terra.

Quando o Kepler olhou para 43.000 estrelas que são praticamente do mesmo tamanho que o Sol, determinou que cerca de dois terços delas parecem ser tão amigáveis para a vida e estáveis como a nossa.

Marcy, que anunciou a descoberta de um planeta apenas quatro vezes maior que a Terra, não gosta de especular sobre quantas estrelas podem ter planetas semelhantes à Terra. Mas, quando pressionado, disse, na quinta-feira, 7: "70% de todas as estrelas têm planetas rochosos".

Embora os astrônomos da convenção estejam otimistas, Marcy é mais cético, assim como Jill Tarter, diretora do Instituto SETI, que busca vida inteligente fora da Terra. Eles dizem que, a despeito de todo o otimismo, ainda é possível que a busca deixe todos de mãos vazias.

Fonte: G1 - Agências - O ESTADO DE S PAULO/Carlos Orsi - AP

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