Opositores trazem na camisa a frase 'Lute com seu voto'/Eduardo Mayorca/Efe
SÃO PAULO - A Venezuela renova neste domingo, 26, as 165 cadeiras de sua Assembleia Nacional.
A eleição marca o retorno da oposição partidária à cena política do país. Nas últimas eleições parlamentares, em 2005, os opositores boicotaram a votação, o que deu ao presidente Hugo Chávez o controle pleno do Legislativo.
Unificado sob a Mesa de Unidade Democrática (MUD), o antichavismo lançou candidatos a 162 assentos do Parlamento (três são reservados a candidatos indígenas) e elegeu como bandeira o combate a criminalidade - um dos principais problemas do país.
Segundo analistas, o desafio do chavismo será o relacionamento com essa oposição, que deve ter no Congresso um foco de resistência. " A Venezuela não é uma democracia normal. Pelo histórico de Chávez, dificilmente ele negociaria com a oposição, como seria o correto. Mas também acho improvável que ele opte pela ditadura aberta", diz o professor Sadio Garavini di Turno, da Universidade Central da Venezuela (UCV).
O professor cita como exemplo o corte nas verbas federais para estados governados pela oposição e o fortalecimento das 'comunas' - assembleias populares comandadas por chavistas - como alternativas às ações da oposição no Congresso.
De acordo com as últimas pesquisas, no entanto, Chávez deve obter a maioria de 2/3 necessária para aprovar leis no Congresso. Graças a uma mudança nas regras eleitorais, que redesenhou distritos e deu mais deputados a regiões afeitas ao chavismo, deve haver uma diferença entre o número de deputados eleitos pelo governo e o voto popular.
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Queda na popularidade
Segundo o analista da UCV, as regras foram alteradas por causa da queda na popularidade de Chávez. Em agosto, uma pesquisa da consultoria Keller e Associados estimou a aprovação do presidente em 37%, uma queda de 20 pontos percentuais em relação a 2009.
No referendo do ano passado, que permitiu ao líder venezuelano concorrer a um terceiro mandato em 2012, o "sim" ganhou - 54% contra 45%. Nas eleições presidenciais de 2006, Chávez obteve 62,8% dos votos, contra 36,9% do oposicionista Manuel Rosales.
De acordo com Garavini di Turno, a queda na popularidade do chavismo se deve essencialmente a três fatores: queda na receita obtida com petróleo, decorrente da crise mundial de 2009; colapso dos serviços públicos, inchados pelas estatizações; e aumento da violência urbana. Isso fez com que o presidente perdesse o apoio de moradores das áreas pobres das grandes cidades, principalmente na capital, Caracas.
"Chávez teve muito dinheiro. Mais do que ocorreu na ditadura. Mas, em vez de exigir uma contrapartida, como mandar o filho à escola, ele apenas estimulou o assistencialismo e o clientelismo", explica o professor. "Além disso, a ineficiência dos serviços públicos e a violência ajudaram a derrubar sua popularidade", completa.
Violência urbana
Em 2009, a Venezuela teve uma taxa de 75 homicídios por 100 mil habitantes, segundo pesquisa divulgada este mês. Em Caracas, o número chega a 200.
Para efeito de comparação, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2007 a taxa do homicídio no País era de 25,4 por 100 mil habitantes. Em Alagoas, o Estado mais violento, esse índice é de 58 por 10 mil. Em São Paulo, está em 15,4 por 100 mil.
Eleição na Venezuela tem ar de Brasil
A eleição deste domingo na Venezuela "tem um certo ar de Brasil", afirma Clóvis Rossi, colunista da Folha, enviado a Caracas.
O presidente Hugo Chávez, assim como Lula, não é candidato, mas é onipresente na campanha e tem aquele estilo de incontinência verbal que o presidente brasileiro adota nas imediações de eleições.
"Se fosse no Brasil, no entanto, Chávez correria sério risco de virar candidato nanico: ele acaba de atacar a cerveja", destaca o jornalista.
A oposição venezuelana quer obter nas eleições legislativas pelo menos um quinto das cadeiras em jogo, para evitar a marcha ao socialismo de Chávez. Para tanto, precisaria de dois quintos da Assembleia Nacional.
"São esses, na prática, os números cabalísticos em jogo na eleição porque até a oposição assume que o partido de Chávez fará a maioria --e com certeza vai festejar com muita cerveja", afirma Rossi.
Fontes: O ESTADO DE S PAULO/Luiz Raatz - FOLHA
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