A reação não é das mais comuns após uma eleição, mas, a considerar os discursos do governo e da oposição depois da publicação dos resultados da votação do domingo (26), na Venezuela, todos ganharam e ninguém perdeu. As primeiras declarações tanto dos chavistas do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) quanto dos partidos opositores foram de comemoração pelos resultados, considerados uma vitória pelos dois lados.
Os candidatos ligados ao presidente Hugo Chávez ganharam a maioria das cadeiras da Assembleia Nacional, que foi escolhida nessas eleições. O PSUV elegeu 95 dos 165 deputados, e manteve a maioria no Parlamento. A oposição, em contrapartida, conquistou 61 lugares no Congresso do país, e conseguiu retirar do governo a maioria qualificada de mais de dois terços da Casa -também chamada, simplificadamente, de 'maioria absoluta' por analistas e jornalistas locais-, que permitia a Chávez fazer as principais mudanças nas leis do país sem ter de negociar.
Até o meio dia desta segunda-feira (27) ainda não havia sido finalizada a contagem dos votos, e sete vagas da Assembleia continuavam indefinidas.
Eleita, a candidata oposicionista Mara Corina Machado posa para fotos com eleitores. (Foto: AP)
Logo que foi divulgado o primeiro boletim oficial do Conselho Nacional Eleitoral, durante a madrugada, o presidente Hugo Chávez declarou que a vitória do seu partido foi suficiente para aprofundar o socialismo no país. Segundo o presidente, o resultado foi "uma nova vitória do povo", e ele parabenizou a todos os eleitores.
Durante a tarde do dia da eleição, Chávez havia declarado que todos os votos seriam respeitados e que o governo aceitaria o resultado das urnas. O presidente convocou uma entrevista coletiva para a tarde desta segunda-feira, no Palácio presidencial de Miraflores, em Caracas.
Volta da oposição
Chavistas celebram o resultado eleitoral na madrugada desta segunda-feira (27). (Foto: AP)
Enquanto Chávez comemorava a manutenção de uma maioria simples no Parlamento, a oposição comemorava sua volta ao Poder Legislativo depois de cinco anos. Na eleição de 2005, os partidos de oposição do país boicotaram a votação numa tentativa de deslegitimar o governo Chávez. A medida fez com que os opositores não tivesses nenhuma força parlamentar desde então.
"Não tínhamos nenhuma representação, e agora temos mais de um terço dos votos da Assembleia", comemorou uma diretora de campanha da oposição, em entrevista ao G1.
Além da conquista de vagas no Parlamento, a oposição declarou ter saído vitoriosa na contagem geral dos votos nacionais.
Segundo a Mesa da Unidade, organização que agrupa os partidos de oposição, o grupo conquistou 52% dos votos totais da eleição. "No voto popular para a Assembleia Nacional, os candidatos apresentados pela Unidade receberam 52% dos votos", disse Ramón Guilherme Azerdo, líder da oposição.
Mesmo com mais votos, a oposição conquistou menos cadeiras na Assembleia porque a votação no país é feita por representação regional. Os opositores conseguiram votações expressivas em regiões mais populosas, enquanto o governo foi mais votado em mais regiões com menos pessoas.
A oposição voltou a denunciar, na manhã de segunda-feira, a mudança na lei eleitoral que permitiu essa forma de representação na Assembleia. Por mais que a estrutura da votação tivesse sido definida na constituição do país, da qual a oposição fez parte, os opositores acusaram o governo de acelerar a mudança para se favorecer na eleição deste ano. O governo diz que era o momento adequado de incorporar algo que está na lei do país.
Os novos deputados assumem seus cargos daqui a três meses, e a oposição promete fiscalizar o governo para evitar que o presidente Chávez tente acelerar mudanças no país aproveitando que ainda tem maioria absoluta na Assembleia.
Demora e ressaca
Apesar de uma grande discussão ideológica e partidária estar ligada à eleição na Venezuela, o clima político praticamente desapareceu das ruas um dia depois da votação. O G1 constatou que não há movimentações relacionadas às eleições na região central de Caracas, capital do país, que parece estar em ressaca política.
Mesmo na imprensa local, o processo de discussão das eleições se dá de forma lenta, se recuperando de uma longa madrugada de espera pelos resultados.
O primeiro boletim do Conselho Nacional Eleitoral com resultados da votação foi divulgado durante a madrugada, mais de oito horas após o fim da votação. Declarações anteriores do CNE indicavam que poderiam ser divulgados resultados até duas horas após a votação, mas o processo foi muito mais demorado para só divulgar números após haver resultados definitivos.
Participação
Além da comemoração partidária de conquistas na eleição, governo e oposição comemoram a grande participação de eleitores na escolha da Assembleia. Quase 70% dos 17,5 milhões de pessoas habilitadas a votar participaram, um total de quase 12 milhões de votos.
Trata-se de um número recorde para eleições legislativas. Na votação de 2005, quando a oposição fez o boicote, apenas 255 da população votou. Em 2000, a participação ficou em torno de 50%.
Fidel acusa EUA de impedir que Chávez tivesse maioria qualificada
O líder cubano Fidel Castro acusou nesta segunda-feira (27) os Estados Unidos de impedirem que o presidente venezuelano Hugo Chávez conseguisse os dois terços de cadeiras nas eleições parlamentares, apesar de seu aliado ter obtido uma 'grande vitória'.
"O inimigo conseguiu uma parte de seus propósitos: impedir que o Governo Bolivariano contasse com o apoio dos dois terços do Parlamento. O império talvez acredite que obteve uma grande vitória", afirmou Fidel em mais um artigo divulgado no site oficial Cubadebate.cu.
Partidária de Chávez espera pelos resultados eleitorais na madrugada desta segunda-feira (27) em Caracas. (Foto: AP)
No entanto, acrescentou, a participação dos eleitores na votação de domingo "subiu para o recorde de 66,45% e o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, no poder) obteve 94 deputados de um total de 165, apesar de ter de compartilhar o poder com a oposição".
"A Revolução Bolivariana tem hoje o Poder Executivo, ampla maioria no Parlamento e um partido capaz de mobilizar milhões de lutadores pelo socialismo", escreveu o líder comunista em seu texto intitulado "O que eles querem é o petróleo da Venezuela".
"Os Estados Unidos contam na Venezuela com fragmentos de Partidos, com medo da Revolução e grosseiras ambições materiais. Não poderão recorrer ao golpe de Estado, como fizeram no Chile em 1973 e em outros países da América", acrescentou.
O ex-presidente cubano ressaltou ainda que o partido de Chávez venceu as eleições, "apesar de um grupo de bastardos personagens que, na companhia de mercenários da imprensa local escrita e falada, chegaram a negar, inclusive a liberdade de imprensa na Venezuela durante a campanha eleitoral".
Comentário
Para os comunistas, tudo é culpa dos EUA. Patético e doentio isto.
Fontes: G1 /Daniel Buarque - AFP
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