Depois de quatro meses encoberto por andaimes, o Cristo Redentor está sendo devolvido esta semana à paisagem do Rio.
O Cristo livre dos andaimes: retorno aos tons esverdeados originais. (Foto: Oscar Cabral)
A maior restauração da história do monumento, inaugurado em 1931, será percebida, por quem for ver o Cristo de perto, pela volta da tonalidade esverdeada da estátua - resultado da limpeza e da recuperação de todo o revestimento e da eliminação de manchas causadas por reformas anteriores. A conclusão dos trabalhos está prevista para o dia 29 deste mês e, a reinauguração oficial, para o dia 30.
Por mais que as dimensões do Redentor sejam grandiosas, devolver as características originais ao monumento de 38 metros e mais de mil toneladas foi um trabalho de minuciosa recuperação de detalhes.
O restaurador argentino Pablo Romero Cardozo falou a VEJA.com enquanto recolocava, com argamassa, os pequenos triângulos de pedra-sabão na ponta do dedo médio da mão direita do Cristo. “Não posso errar a mão. Tenho que esquecer essa vista e quase não olho para trás”, explicou, dando as costas, ao mesmo tempo, para toda a orla da zona sul, o Pão de Açúcar, a Lagoa e o verde intenso da Floresta da Tijuca.
Foi de Pablo a responsabilidade de remodelar, com uma mistura de cimento e areia, partes do Cristo que, expostas a chuvas, vento, raios e variações de temperatura, foram danificadas desde a última reforma, em 2000. As pedrinhas, chamadas tesselas, foram todas inspecionadas e, quando necessário, substituídas.
“A cabeça e as extremidades eram as partes mais danificadas”, diz a arquiteta Márcia Braga, que coordenou o mapeamento de danos e comandou as equipes envolvidas na restauração. Ao todo, 30% da parte externa da estátua tinham algum tipo de dano físico. Na cabeça, por exemplo, foram reparadas rachaduras causadas por raios. Por todo o corpo, havia pedras que se soltaram, partes desgastadas ou deformadas pela erosão.
A boa notícia é que a estrutura de concreto armado, que sustenta as 1.145 toneladas do Redentor, está em boa forma. “O engenheiro Heitor da Silva Costa calculou a estrutura para suportar 20 vezes os ventos fortíssimos do alto do Corcovado. É uma obra absolutamente sólida”, diz Márcia.
A análise química e a investigação detalhada do corpo da estátua elucidaram mistérios. “Descobrimos a origem de algumas manchas pelo corpo do Cristo. Na década de 80, foram recolocadas tesselas feitas com uma pedra-sabão de composição ligeiramente diferente da original. O resultado era uma coloração mais puxada para o azul, destoando da cor esverdeada do Cristo”, detalha a arquiteta Letícia Pimentel, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
As equipes envolvidas diretamente na restauração trabalharam quatro meses de sol a sol, enfrentando os ventos inclementes no alto dos 710 metros do Corcovado. Mas a visão que os operários, arquitetos e restauradores tiveram nesse período é invejável.
Há minúcias que parecem reservadas aos escolhidos que, de tempos em tempos, vão se aproximar do Cristo. De longe, não são notadas, por exemplo, as chagas representadas por cavidades em forma de losango nas palmas das duas mãos. A parte mais funda das duas cavidades têm o tamanho da mão de um adulto. Só do último patamar de andaimes - ao todo foram 13 - vê-se, em detalhes, os contornos que moldam os cabelos do Redentor, divididos ao meio e com quatro camadas sobre a face.
Os andaimes também acabaram servindo a vândalos. Na manhã de 15 de abril, a face esquerda amanheceu rabiscada e com inscrições feitas por pichadores. Felizmente, os jatos de vapor d’água, que já estavam a postos para a reforma, foram suficientes para limpar a pedra-sabão e remover todos os vestígios da tinta.
A pichação foi só um dos percalços ocorridos durante a reforma. A enxurrada que atingiu o Rio no início de abril atrasou os trabalhos e danificou seriamente as estradas das Paineiras e do Corcovado - acesso para carros e vans. Os mais de 200 pontos de deslizamento estão sendo recuperados, mas a passagem já foi liberada para vans - carros continuam impedidos de subir até o Cristo, por enquanto. A Estrada de Ferro do Corcovado está interrompida desde abril e ainda não há prazo para que o trenzinho, forma mais charmosa de visitar o Cristo, seja reativado.
Fonte: VEJA/João Marcello Erthal
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