Doze integrantes devem votar pela resolução que pune programa nuclear. Brasil e Turquia podem ser contrários às punições, e Líbano pode se abster.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) vai se reunir nesta quarta-feira (9), em Nova York, para votar o pacote de sanções proposto pelos Estados Unidos contra o Irã.
Vai ser a quarta rodada de medidas para tentar coibir o programa nuclear iraniano, que, segundo EUA, França, Rússia, Alemanha e China, teriam como objetivo a fabricação de armas. O Irã nega e diz que o programa tem apenas fins civis.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse nesta terça-feira (8) que a nova rodada de sanções da ONU contra o Irã é a "mais significante" que o país já enfrentou. A declaração foi feita em Quito, no Equador.
A secretária de Estado dos EUa, Hillary Clinton, acena nesta terça-feira (8) no palácio presidencial em Quito, no Equador. (Foto: AP)
O embaixador mexicano na Organização das Nações Unidas (ONU), Claude Heller, atual presidente do Conselho de 15 nações, disse a repórteres que a reunião irá ocorrer às 11h desta quarta-feira, após ter sido fechado um acordo sobre a lista dos alvos das sanções.
O texto estabelece que o Irã não poderá investir no exterior em certas atividades sensíveis, como minas de urânio, e que os navios iranianos poderão ser inspecionados em alto mar. O projeto proíbe também a venda ao Irã de oito novas categorias de armamento pesado, incluindo carros de combate.
Diplomatas ocidentais esperam que 12 membros do Conselho, incluindo todos os cinco com poder de veto, votem pela resolução. Brasil, Turquia e Líbano devem ser contrários às sanções. O Líbano pode se abster.
Mais cedo nesta terça-feira, na Turquia, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou que o acordo nuclear firmado pelo país com mediação de Brasil e Turquia, e reprovado pelos EUA, é uma oportunidade única e não vai voltar a se repetir.
Irã alerta Rússia
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, alertou a Rússia contra possíveis sanções da ONU por programa nuclear da República Islâmica/AFP
O Irã já alertou a Rússia, sua parceira comercial, para não apoiar as medidas punitivas. Diplomatas ocidentais esperam que os 12 dos 15 membros do Conselho (incluindo os cinco membros permanentes), votem pela resolução. Brasil, Turquia e Líbano, contrários às sanções, podem votar contra ou se abster.
A lista negra do rascunho das sanções inclui 41 instituições além do diretor de um centro nuclear iraniano, Javad Rahiqi, segundo fontes diplomáticas.
Aqueles incluídos na lista negra da ONU por laços suspeitos com os programas nuclear e de mísseis do Irã podem enfrentar limitações em viagens internacionais e congelamento de bens.
O esboço da resolução foi resultado de meses de conversas entre EUA, Reino Unido, França, Alemanha, China e Rússia. As quatro potências queriam medidas mais duras, mas China e Rússia trabalharam para suavizar as propostas.
Possíveis medidas (segundo fontes diplomáticas):
- Limitação das transações bancárias de instituições iranianas no exterior
- Vigilância sobre transações de bancos iranianos, inclusive do Banco Central
- Embargo ao comércio de armas com Irã
- Restrições a pessoas, empresas e entidades ligadas à Guarda Revolucionária
Irã diz que pode mudar relação com AIEA
Uma fonte iraniana de alto escalão alertou para uma "reação apropriada" por parte do país contra as potências mundiais. Um parlamentar disse que Teerã vai reconsiderar sua cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) se as sanções forem aprovadas.
O Irã insiste que seu programa nuclear tem fins pacíficos, apesar das suspeitas ocidentais. O país já desafiou cinco resoluções do Conselho de Segurança exigindo que paralise suas atividades de enriquecimento de urânio, processo que pode gerar combustível para reatores civis ou para armas nucleares.
Em 17 de maio, o Irã assinou com o Brasil e a Turquia um acordo para a troca o enriquecimento de urânio em território turco, proposta feita originalmente pela AIEA. EUA e outras potências ocidentais, no entanto, ignoraram o acordo e prosseguiram com o plano de punição ao Irã.
Horas antes de votação na ONU, potências rejeitam acordo com Irã
Horas antes da votação de uma quarta rodada de sanções contra o programa nuclear iraniano no Conselho de Segurança da ONU, potências ocidentais rejeitaram oficialmente o acordo entre Brasil, Irã e Turquia, transmitindo sua posição à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
Rússia, EUA e a França enviaram sua resposta oficial ao acordo de intercâmbio de urânio assinado pelo Irã com o Brasil e a Turquia em 24 de maio passado, indicou nesta quarta-feira um diplomata ligado ao órgão da ONU.
O diretor da AIEA, o japonês Yukiya Amano, se reuniu com o enviados das três nações, que entregaram diretamente a ele suas respectivas respostas.
Três diplomatas envolvidos nas negociações disseram que as respostas oficiais das três potências contêm uma série de questões que impedem discussões com o Irã e devem levar às sanções como única maneira de lidar com a República Islâmica.
Arma nuclear
De acordo com a posição divulgada pelos EUA, Rússia e França, a proposta de acordo acertada entre Brasil, Irã e Turquia deixaria o país com material suficiente para fabricar uma arma nuclear. A informação tornada pública pelo Irã de que o pacto não impediria de continuar enriquecendo urânio também preocupa as potências.
Para os três países ocidentais o acordo, que derivou de uma oferta similar feita pela AIEA ao Irã ainda no ano passado, não esclareceu dúvidas importantes sobre o programa nuclear do país, que eles acreditam estar desenvolvendo armas nucleares. O Irã nega e diz que enriquece urânio somente para fins pacíficos.
Em um comunicado, a AIEA não revelou mais detalhes das repostas transmitidas por Washington, Moscou e Paris, mas disse que o documento tem o título de "Preocupações sobre a Declaração Conjunta enviada pelo Irã à AIEA".
"Continuarei contando com meu escritório para dar prosseguimento a este novo desdobramento com os governos que estão preocupados", disse o chefe da AIEA, Yukiya Amano.
Os EUA indicaram que a decisão de Teerã ao aceitar a oferta de acordo com o Brasil e a Turquia é na verdade uma medida para tentar evitar novas sanções no Conselho de Segurança da ONU.
Grande impacto
A embaixadora dos EUA perante a ONU, Susan Rice, afirmou que as novas sanções que o Conselho de Segurança da ONU pode impor nesta quarta-feira ao Irã terão um "grande impacto" na República Islâmica.
A diplomata disse que está satisfeita com a "dureza" das medidas incluídas no projeto de resolução proposto por seu país, apoiado pelos outros membros permanentes do principal órgão das Nações Unidas (China, Rússia, França e Reino Unido).
"É uma resolução firme e ampla em todas suas categorias, e terá um impacto autêntico e importante", disse Rice ao fim de uma reunião do Conselho de Segurança.
Além disso, ela assegurou que o objetivo das sanções é "persuadir ao Irã que detenha seu programa nuclear e negocie de forma séria e construtiva com a comunidade internacional".
A embaixadora americana indicou que as potências do Conselho seguem comprometidas com a chamada "política das duas vias", que impulsiona de maneira paralela o diálogo e as medidas de pressão.
Entre outras coisas, destacou que são vetados investimentos exteriores iranianos em atividades e instalações relacionadas com a produção de urânio, serão estabelecidas restrições na venda de armas convencionais ao Irã. Além disso, o país será proibido de fabricar mísseis balísticos com capacidade de carregar ogivas nucleares.
Também foram destacadas novas restrições às operações financeiras e comerciais com o Irã, além do reforço do regime de inspeções das cargas dos navios e aviões iranianos para evitar que burlem o embargo internacional.
Nas duas reuniões a portas fechadas, as delegações expuseram, a pedido do Brasil e Turquia, suas posições em respeito à disputa sobre o programa nuclear iraniano.
Os dois países, membros não-permanentes do Conselho de Segurança, consideram que deve ser dado mais tempo à diplomacia depois do acordo que foi assinado em maio com o Irã para troca de combustível nuclear.
O embaixador adjunto da Turquia perante a ONU, Fazli Corman, advertiu na saída da reunião que uma nova rodada de sanções poderia endurecer a posição iraniana e travar as negociações.
Na segunda-feira, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) voltou a pedir ao Governo iraniano que dê provas conclusivas de que não pretende adquirir armamento atômico.
Fontes: O ESTADO - FOLHA - G1- TV Globo - R7 - AFP e demais agências
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