Tecnologia e estratégia política marcam relação Brasil-Ucrânia

Ucranianos marcam posição frente à Rússia e Brasil quer aproveitar tecnologia barata

País que até 1991 fazia parte da antiga União Soviética, a Ucrânia não parece ter grande importância na agenda externa brasileira. Mas os dois países mantêm uma relação estratégica: Brasília tira proveito da avançada tecnologia nuclear e espacial ucraniana (herança soviética), enquanto os ucranianos procuram diversificar suas relações para marcar posição frente à Rússia, que ainda tenta dar as cartas no país 18 anos após sua independência.

Segundo o pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Pedro Silva Barros, professor da PUC-SP, a Ucrânia é um dos países que mais desenvolveram a tecnologia espacial e nuclear. Ele diz que boa parte da energia usada no país vem de usinas nucleares. Mas, mais que importância econômica, a tecnologia tem um forte apelo político no país, que vive em constante tensão.

Lançamento de foguete na base de Alcântara, no Maranhão; empresa binacional ACS quer explorar comercialmente a base com tecnologia ucraniana e investimento brasileiro, aproveitando localização privilegiada/Radiobrás


- Em alguns momentos, o país pende para o leste, para a Rússia. Em outros, para o oeste, para a União Europeia. Para manter uma certa autonomia em relação à Rússia, faz-se necessário manter o desenvolvimento da tecnologia espacial e nuclear, o que para eles é quase uma questão de identidade nacional, de não submissão à Rússia.

Segundo o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Paulo Edgar Resende, o desenvolvimento nuclear da Ucrânia aconteceu junto com o da Rússia, no tempo da União Soviética:

- Para o Brasil, a aproximação da Ucrânia é um jeito de tirar proveito de uma alta tecnologia. O Brasil poderia ter escolhido a Rússia, mas talvez uma aliança com os russos fosse despertar mais atenção de países como os Estados Unidos.

Lula visitou o país em novembro

Em novembro do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a Ucrânia para discutir o futuro da empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), responsável por boa parte do programa espacial brasileiro.

A ACS foi criada em 1996, mas só foi saiu do papel em 2006. O investimento inicial de cada país foi de R$ 8,5 milhões (US$ 4,5 milhões). E o plano dos dois governos é aumentar seu capital para até R$ 709 milhões (US$ 375 milhões), segundo a própria empresa.

Lula foi à Ucrânia justamente para não deixar o programa naufragar, oferecendo financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para os ucranianos manterem seus investimentos. O país europeu foi atingido em cheio pela crise global e viu sua economia derreter, com a queda de 15% de seu PIB (Produto Interno Bruto) em 2009.

Em linhas gerais, a Ucrânia entra com a tecnologia e o Brasil cede sua base de lançamento de foguetes em Alcântara, no Maranhão - o que não é pouca coisa. A base está situada próxima à linha do Equador, onde a rotação terrestre facilita, por questões de física, a chegada dos satélites em órbita. Só por causa da localização privilegiada, a ACS prevê gastar 30% menos combustível nos veículos aeroespaciais. Com isso, espera ganhar competitividade e operar o lançamento de satélites de outros países.

Além disso, o comércio entre Brasil e Ucrânia cresceu dez vezes entre 2002 e 2008, enquanto que o fluxo comercial com o resto do mundo cresceu em 3,5 vezes no período, segundo dados do Ipea. O pesquisador Pedro Silva Barros lembra, no entanto, que os negócios despencaram com a crise:

- A corrente de comércio (exportações mais importações) entre os dois países em 2002 foi de US$ 111 milhões (R$ 210 milhões), já em 2008 foi de US$ 1,175 bilhões (R$ 2,221 bilhões). Mas a crise bateu forte no comércio Brasil-Ucrânia e a corrente caiu para US$ 400 milhões (R$ 756,4 milhões).

Fontes: R7/ Maurício Moraes

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