Luis Xipaia, da aldeia tukaia, diz que 4 mil índios estão prontos para lutar.
Ibama concedeu licença ambiental para obra da Hidrelétrica de Belo Monte.
Local da Hidrelétrica de Belo Monte (Foto: Editoria de Arte/G1 )
As lideranças das aldeias indígenas que serão afetadas pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no leito do Rio Xingu, no Pará, afirmam que vão usar todas as armas na luta para evitar que a obra seja concretizada.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu licença prévia para construção da usina nesta segunda-feira (1º). A decisão revoltou Luis Xipaia, cacique da aldeia tukaia e presidente do Conselho Indígena de Altamira (Coia). Ele disse que mais de quatro mil índios de nove aldeias da região estão prontos para "pegar em armas".
Governo autoriza leilão para a usina de Belo Monte
Xipaia afirmou ainda que vai receber uma lista de pedidos dos representantes de todas as aldeias da região contra a obra. Ele quer realizar uma assembleia nesta segunda-feira (8) para decidir quais as ações a serem tomadas para evitar que o projeto da hidrelétrica siga em frente. "O Governo federal só vai construir a usina se matar os índios que vivem aqui. O Rio Xingu vai ficar vermelho de sangue. Fomos esquecidos, deixados de lado e temos o direito de falar o que pensamos sobre essa barragem. A nossa resistência será maior do que a realizada na reserva Raposa Serra do Sol."
Nesta quinta-feira (4), entidades que compõem o Movimento Xingu Vivo para Sempre fizeram uma vigília, em frente ao escritório regional do Ibama, em Altamira (PA), em repúdio pela liberação da licença prévia para construção da usina. Outras manifestações foram realizadas em Santarém (PA) e Belém.
“O ato serve para mostrar aos governantes e autoridades que não nos intimidamos com a forma pela qual eles estão conduzindo este processo, de forma antidemocrática, ditatorial, desrespeitosa e sem ouvir as populações locais, principalmente as comunidades indígenas,” disse Antonia Melo, uma das coordenadoras do movimento.
Áreas afetadas
Os índios consideram que o alagamento previsto na obra da usina vai extinguir cemitérios indígenas, templos sagrados e sítios arqueológicos na região. "Querem acabar com a cultura e a história dos índios do Xingu", disse Xipaia. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, apenas as cidades de Brasil Novo (PA), Altamira e Vitória do Xingu (PA) serão atingidas pela obra. As lideranças indígenas dizem que também serão afetadas as cidades de Senador José Porfírio (PA) e Anapu (PA).
Segundo o Ibama, há 40 pontos abrangendo questões relativas à qualidade da água, fauna, saneamento básico, população atingida, compensações sociais e recuperação de áreas já degradadas a serem resolvidos antes do início da obra. O projeto da usina sofreu alterações e uma delas teria sido a redução de áreas alagadas, de acordo com nota divulgada pelo instituto.
Índios temem que parte do leito do Rio Xingu fique seco com a construção da Hidrelétrica de Belo Monte (Foto: Pedro Martinelli/Instituto Socioambiental/Divulgação)
Processo em andamento
O governo quer realizar o leilão de concessão da usina hidrelétrica de Belo Monte até o dia 12 de abril, segundo informação divulgada no balanço de três anos do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC).
Especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), da Universidade Federal do Pará, do Museu Paraense Emílio Goeldi, do Instituto Sócio Ambiental (ISA) e do Fundo Mundial para a Natureza (WWF, pela sigla em inglês) realizaram um estudo apontando impactos ambientais da construção da usina para a vegetação local, animais e até sobre as populações indígenas que habitam um trecho do rio conhecido como Volta Grande do Xingu.
O cacique Xipaia disse que os índios "não vão assistir passivamente a transformação do território em um imenso canteiro de obras para a construção de uma usina, que produzirá no máximo 4.000 MW de energia, que nem será barata e muito menos limpa."
Trecho do leito do Rio Xingu em Altamira (Foto: André Villas-Bôas/Instituto Socioambiental/Divulgação)
Energia x impacto ambiental
O estudo de impacto ambiental indica falhas na previsão de geração de energia da usina, que seria maior do que a capacidade real do projeto. Os estudos preliminares para a construção de uma hidrelétrica no Rio Xingu foram feitos na década de 1980. O projeto da barragem e de canais desviam parte do leito do rio. O cálculo prevê que cerca de 100 quilômetros do curso d'água fiquem secos.
A obra prevê a capacidade de geração de 4.719 megawatts (MW) no período seco e 11.181 MW com a usina em plena capacidade. A Usina de Itaipu – a maior do Brasil – tem capacidade para 14 mil MW. Os reservatórios de Belo Monte, incluindo os canais, ocuparão uma área de 516 km², o equivalente a um terço do município de São Paulo.
Povos ribeirinhos temem ser atingidos pela obra da Hidrelétrica de Belo Monte (Foto: Klinton Senra/Instituto Socioambiental/Divulgação)
Desenvolvimento econômico
O Fórum Regional de Desenvolvimento Econômico e Sócio Ambiental da Transamazônica e Xingu, que congrega mais de 170 entidades da região, considerou a licença prévia do Ibama positiva, mas apontou a necessidade de que o restante do projeto seja desenvolvido de maneira sustentável.
De acordo com Vilmar Soares, coordenador do fórum, a usina é considerada vital para a região e deve colaborar para resolver problemas como a falta de regularização fundiária e licenciamento ambiental das atividades produtivas.
“Esperamos também que a usina traga investimentos nas áreas da saúde, educação e de infraestrutura. Esta é uma região que viveu durante décadas em abandono."
Especialistas questionam projeto de hidrelétrica no Rio Xingu
Usina de Belo Monte ficará no PA e será uma das maiores do país.
Grupo de cientistas mostra impactos negativos do empreendimento.
Um grupo de 40 especialistas protocolou no Ibama um documento questionando os estudos e a viabilidade da usina hidrelétrica de Belo Monte, que pode ser construída no Rio Xingu, no Pará. O empreendimento está previsto para ser oferecido em leilão em novembro.
No parecer, estudiosos classificam a possível hidrelétrica como “uma intervenção de obras civis sobre um monumento da biodiversidade”, e avaliam que a movimentação de terras para a construção da obra seria equivalente às escavações do Canal do Panamá, com 200 milhões de m³ de terra e pedras remexidas.
Para gerar energia será represada a maior parte do Rio Xingu em um trecho conhecido como Volta Grande, no Pará. Canais levarão a água até uma casa de máquinas, enquanto uma porção do rio ficará com o fluxo de água reduzido. (Foto: EIA-RIMA/Montagem Globo Amazônia)
A maior preocupação dos especialistas são os impactos sobre plantas, animais e populações indígenas que habitam um trecho do rio conhecido como Volta Grande do Xingu, onde se pretende construir a usina.
Os acadêmicos também afirmam que há falhas no estudo de impactos ambientais da obra, onde haveria exageros na previsão de geração de energia e ao mesmo tempo números inferiores à realidade em relação ao impacto às populações vizinhas.
O estudo, protocolado no Ibama em 1º de outubro e divulgado nesta segunda-feira (12), foi realizado por pesquisadores voluntários de diversas instituições de pesquisa brasileiras, como o Inpa (instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), a Universidade Federal do Pará e o Museu Paraense Emílio Goeldi. Grandes ONGs brasileiras, como o Instituto Sócio Ambiental (ISA) e o WWF também apoiaram a confecção do documento.
Plano antigo
Os primeiros estudos para a construção de uma hidrelétrica no Rio Xingu são de 1980. Na última concepção do projeto, foi planejada uma barragem e canais que desviam parte leito do rio e levam a água para uma casa de força. Por conta disso, um pedaço do curso d’água de cerca de 100 km ficará mais seco.
A obra prevê a capacidade de geração de 4.719 MW no período seco e 11.181 MW com a usina operando em plena capacidade. Para se ter uma ideia, a usina de Itaipu – a maior do Brasil – tem capacidade para gerar 14 mil MW. Os reservatórios, incluindo os canais, ocuparão uma área de 516 km², o equivalente a um terço do município de São Paulo.
Leia na íntegra o estudo protocolado no Ibama
Fonte: G1 / Glauco Araújo - Globo Amazônia - TV Globo
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