Após a tragédia, homenagem e sorrisos na cerimônia de abertura em Vancouver

Com 55 mil pessoas no estádio BC Place, festa dos Jogos de Inverno apresenta delegações animadas e show gráfico com belas imagens

Poucas horas antes da cerimônia de abertura, a morte trágica do atleta georgiano Nodar Muaritashvili lançou uma sombra de apreensão nas Olimpíadas de Inverno. A festa para 55 mil pessoas no estádio coberto BC Place, no entanto, soube contornar a dor e, com uma homenagem da delegação do país e um belo espetáculo de imagens, arrancou sorrisos das equipes e do público em Vancouver.

Um snowboarder salta no meio dos aros olímpicos e dá início à cerimônia de abertura dos Jogos

Durante três horas, a cerimônia uniu momentos comoventes, como a entrada dos atletas da Geórgia, a outros descontraídos, como os shows musicais e as impressionantes projeções no chão do estádio. A delegação brasileira não conseguiu conter os sorrisos, sob a liderança da snowboarder Isabel Clark, que carregou a bandeira do país.

Foi o snowboard, por sinal, que abriu a festa. Um atleta da modalidade saltou no meio dos aros olímpicos e desceu uma rampa de gelo montada perto da arquibancada, para delírio dos espectadores. Pouco depois, quatro totens gigantes se ergueram no centro do estádio, e atores tomaram o palco representando os povos indígenas que habitavam o Canadá antes da colonização.

O presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, logo foi anunciado e muito aplaudido. Mais cedo, ele havia se emocionado no pronunciamento oficial sobre a morte de Muaritashvili. Quando as delegações começaram a entrar no estádio, o clima já era mais leve do que foi ao longo do dia. Os atletas não economizaram nos sorrisos, como convém a uma cerimônia de abertura olímpica.

Com Isabel Clark de porta-bandeira, a delegação do Brasil foi muito além dos cinco atletas

O Brasil foi o 14º quarto país a entrar no BC Place, e a delegação de cinco atletas se multiplicou com a presença de treinadores e outros integrantes das comissões. Isabel Clark carregava a bandeira, seguida por Jaqueline Mourão, Leandro Ribela (os dois do esqui cross country), Jhonathan Longhi e Maya Harrison (ambos do esqui alpino). Todos vestiam agasalhos brancos com detalhes em verde.

Geórgia entra de luto

Momento de emoção: atletas da Geórgia entram no estádio durante a cerimônia de abertura / Reuters


O momento mais emocionante da festa foi quando a delegação da Geórgia entrou no estádio. Após cogitar abandonar os Jogos, o Comitê Olímpico do país decidiu continuar na competição. Com fisionomias sérias, os atletas, alguns emocionados, vestiam roupas vermelhas com faixas pretas de luto no braço direito e cachecóis pretos. A bandeira do país também trazia uma faixa negra pendurada. O público soube respeitar e aplaudiu de pé.

A delegação mais animada era a dos EUA, que entrou vibrando, sob muitos aplausos. A festa só foi maior com o Canadá, que fechou o desfile levando o estádio à loucura.

O que se viu em seguida foi uma mescla de shows musicais com projeções gráficas e coreografias no centro do estádio. Quem assumiu o microfone primeiro foi uma dupla de ídolos canadenses: os cantores Bryan Adams e Nelly Furtado. Com lanternas, o público ajudava a compor a imagem da festa.

Um urso polar gigante surgiu do chão iluminado, e baleias foram projetadas em telas que desciam do teto, quase tocando o chão. A lua, as árvores, os barcos... elementos diversos ajudavam a mostrar ao mundo a cultura do Canadá. Um dos momentos mais exuberantes foi quando, suspenso por fios, um garoto começou a voar pelo estádio. A plateia "virou" o céu, com nuvens projetadas sobre as arquibancadas, e o chão representava um enorme campo de trigo.

Os totens de gelo levaram o fogo olímpico até a pira na parte final da cerimônia de abertura

Na parte final da cerimônia, após uma apresentação da cantora KD Lang, veio o grande momento: a entrada da chama olímpica no estádio. Após 106 dias de trajetória, a tocha ainda passou por atletas como o jogador de basquete Steve Nash (companheiro de Leandrinho no Phoenix Suns), a esquiadora Nancy Greene, a lenda do hóquei Wayne Gretzky e a patinadora Katrina LeMay Doan. Cada um deles passou o fogo para os totens de gelo, que levaram a chama até a pira olímpica.

Ao fim da festa, o público e os organizadores trocaram a fantasia pela realidade: a partir deste sábado, será preciso superar a dor da tragédia para dar início à luta por medalhas.

PROTESTO

Cerca de mil manifestantes se concentraram a poucos metros do estádio BC Place de Vancouver para protestar contra os Jogos Olímpicos de Inverno que começaram nesta sexta-feira na cidade canadense.

Os manifestantes foram controlados por cerca de 150 policiais para evitar que se aproximem mais do estádio olímpico por temor de que pudessem causar algum tumulto durante a cerimônia de abertura dos Jogos, da qual participam as principais autoridades canadenses assim como do Comitê Olímpico Internacional (COI).

O protesto, contra a despesa de cerca de US$ 6 bilhões nos Jogos e em favor de investimentos sociais, começou no início da tarde nas cercanias da Galeria de Arte de Vancouver.

Dali a multidão se dirigiu lentamente em direção ao estádio o tempo todo controlada de forma próxima por um forte desdobramento policial.

Os organizadores da manifestação, convocada sob o lema "Recuperem nossas ruas", disseram que o protesto foi pacífico.

Atleta da Geórgia morre após acidente no primeiro dia das Olimpíadas de Inverno

Nodar Muaritashvili, do luge, saiu da pista a 140km/h durante um treino e bateu a cabeça num poste de metal. Foi o 12º acidente só nesta semana

Um trágico acidente marcou o início das Olimpíadas de Inverno de Vancouver nesta sexta-feira. Durante um treino de luge na cidade de Whistler, o georgiano Nodar Muaritashvili morreu após sair do traçado a 140km/h e bater a cabeça em um dos postes de metal que sustentam a cobertura da pista. O atleta ainda foi reanimado no local com massagem cardíaca e respiração boca a boca antes de ser levado de helicóptero para um hospital, mas não resistiu.

O atleta da Georgia no momento exato do acidente, quando bateu no poste de metal fora da pista

A competição de luge foi suspensa por tempo indeterminado, e o episódio imediatamente levantou um debate na imprensa internacional sobre as condições de segurança da prova. Pioneiro da modalidade no Brasil, o comentarista do SporTV Ricardo Raschini afirmou que a tragédia talvez fosse evitada se o poste não estivesse posicionado ali.

Muaritashvili, de 21 anos, já tinha batido seu trenó no treino de quarta-feira, no mesmo Olympic Slide Center. Durante a semana de treinamentos, houve 12 acidentes na pista em Whistler. É a quarta vez que um atleta morre nos Jogos de Inverno - dois foram em 1964, e outro em 1992.

O atleta da Geórgia foi socorrido no local do treino e levado para um hospital de helicóptero

Nesta sexta, por volta das 17h (de Brasília, 11h locais), o atleta da Geórgia estava na última de suas seis sessões de treino em Whistler. Ele fazia uma curva de 270 graus a 140km/h quando perdeu o controle do trenó, bateu na parede e foi lançado para fora da pista, colidindo com um poste de metal. O trenó e a viseira do capacete continuaram descendo o traçado.

O acidente ocorreu a poucos metros do Centro Médico, e o atleta foi atendido imediatamente. Após a tentativa de reanimação, ele foi levado de helicóptero para um hospital, mas sua morte só foi confirmada oficialmente uma hora e meia depois.

Muaritashvili durante a sessão de treinos nesta sexta-feira, pouco antes do acidente

Muaritashvili competiu em quatro etapas da Copa do Mundo nesta temporada, terminando em 44º lugar no ranking mundial.

No luge, o atleta guia um trenó de 23kg com movimentos das pernas e do tronco. Após largar sentado no trenó, o atleta se deita completamente para o decorrer da prova, vencida por quem descer a pista quatro vezes totalizando o melhor tempo.

Em 2005, um acidente no luge tirou um atleta brasileiro dos Jogos de Inverno de Turim, no ano seguinte. Um defeito na pista fez Renato Mizoguchi bater durante treino para a Copa do Mundo. Ele teve traumatismo craniano e ficou dez dias em coma.

Duas das três mortes anteriores de atletas nos Jogos de Inverno foram em 1964, em Innsbruck, na Áustria. O polonês naturalizado britânico Kazimierz Kay-Skrzypeski, também do luge, morreu em situação semelhante à do atleta da Geórgia, quando seu trenó saiu da pista durante um treino. Era a estreia da modalidade nos Jogos. No mesmo ano, o esquiador Ross Milne bateu numa árvore durante um treinamento e também não resistiu.

Em 1992, o suíço Nicolas Bochatay, de 27 anos, morreu na estação francesa de Les Arcs, quando treinava para a prova de esqui de velocidade, esporte de exibição naquele ano. Em Calgari-1988 houve outra morte, mas não de atleta. Um médico da delegação austríaca morreu ao ser atropelado por uma máquina que preparava o gelo nas pistas.

Muaritashvili logo após o acidente de quarta-feira, quando deixou a pista meio tonto, mas sem lesões

Fontes: G1 - O ESTADO - Agências

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