De acordo com o presidente, "não tem explicação para a sociedade você derrubar tantos pés de laranja"
Tânia Monteiro, de O Estado de S.Paulo
O presidente Lula, durante coletiva no Itamaraty/Ed Ferreira/AE
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta sexta-feira, 9, a ação de um grupo ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), acusado de depredar a Fazenda Santo Henrique, da empresa Cutrale, em São Paulo, no último dia 28. O presidente, que sempre contou com o apoio de líderes do movimento, classificou a ação como uma cena de "vandalismo"
Na ação, os sem-terra arrancaram cerca de 7 mil pés de laranja, destruíram ou danificaram 28 tratores e depredaram instalações. "Todo mundo sabe que sou defensor das lutas sociais. Agora, (é diferente) uma manifestação reivindicando alguma coisa e aquela cena de vandalismo feita na televisão", desabafou Lula, em entrevista coletiva concedida no Itamaraty, ao ser questionado sobre a violência dos atos do movimento na fazenda em São Paulo.
O presidente cobrou punição aos responsáveis. "Todo mundo já aprendeu que neste País tem lei, tem Constituição. Se estiver dentro da lei, pode qualquer coisa. Se não, vai pagar o preço."
No Rio Grande do Sul, o ministro da Justiça, Tarso Genro, também defendeu punição aos responsáveis pela violência. "A lei é feita para todos, de maneira indistinta; ela é feita para o pessoal do Opportunity, para as pessoas de classe média e também para as pessoas, sejam camponeses ou operários, que cometem delitos e ações ilegais que violentam o direito dos outros", advertiu.
Apesar da condenação pública do presidente Lula à atitude do MST, o governo não vai retaliar o movimento ou criminalizá-lo. O governo entende que atitudes como esta enfraquecem o MST, que já chegou a ter apoio de parte da classe média e, agora, é alvo de críticas. Auxiliares do presidente consideraram "muito fortes" as imagens divulgadas pelas emissoras de TV.
Nos últimos cinco anos, o governo repassou a nove entidades que seriam ligadas ao MST um total de R$ 115 milhões.
Na coletiva desta sexta-feira, o presidente afirmou ainda não concordar com a atitude do MST "porque não tem explicação para a sociedade você derrubar tantos pés de laranja apenas para demonstrar que você está reivindicando". "Você podia demonstrar sem precisar destruir máquinas nem pés de laranja”, disse.
Atitude ingênua
Assessores do presidente comentam que os repasses de recursos que chegam ao movimento são legais e que não se pensa em suspendê-los por causa desse tipo de ação. A justificativa de integrantes do Palácio é que um aperto no torniquete dos recursos públicos não evitaria as invasões do MST.
O governo, internamente, considerou ingênua politicamente a ação do MST. De acordo com assessores de Lula, a invasão a uma propriedade produtiva e a depredação do laranjal com um trator, no último dia 28, ocorreu no momento em que setores do Congresso articulavam a criação de uma CPI para investigar os repasses para entidades ligadas ao MST.
Da invasão até a divulgação das cenas, o Planalto conseguira "matar" a CPI, ao comandar uma operação de retirada de assinaturas. No entanto, com a divulgação das cenas da depredação nesta semana, ruiu a estratégia do governo, que contara com a bênção do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Nesta sexta-feira, membros da oposição no Congresso afirmaram já ter todas as assinaturas necessárias para garantir a instalção da comissão.
Em nota divulgada nesta sexta-feira, a direção nacional do MST lamentou os atos de vandalismo e classificou como "desvios de conduta" às ações do último dia 28. E atribuiu a violência a "infiltrados".
"Lamentamos muito quando acontecem desvios de conduta em ocupações, que não representam a linha do movimento. Em geral, eles têm acontecido por causa da infiltração dos inimigos da reforma agrária, seja dos latifundiários ou da policia", diz a nota.
O movimento defendeu que os atos de vandalismo sejam apurados. De acordo com a nota, quando os militantes deixaram a fazenda, em cumprimento a uma determinação judicial, "não havia ambiente de depredações".
"Os companheiros e companheiras do MST de São Paulo reafirmam que não houve depredação nem furto por parte das famílias que ocuparam a fazenda da Cutrale. Quando as famílias saíram da fazenda, não havia ambiente de depredações, como foi apresentado na mídia. Representantes das famílias que fizeram a ocupação foram impedidos de acompanhar a entrada dos funcionários da fazenda e da PM, após a saída da área. O que aconteceu desde a saída das famílias e a entrada da imprensa na fazenda deve ser investigado"
Rastro de destruição
Imagens feitas a partir de um helicóptero mostraram o momento em que um trator derrubou tudo o que encontrou pela frente. De acordo com a polícia, pelo menos mil árvores foram danificadas pelos sem-terra. Na fazenda há um milhão de pés de laranja plantados.
Os manifestantes alegam que apenas cortaram algumas árvores para plantar feijão, justificando que "ninguém vive só de laranja". Depois da determinação da Justiça, os integrantes do MST deixaram a fazenda deixando os rastros de destruição no local.
Assentados criticam ação do MST no interior de SP
Luciana Nunes Leal, da Agência Estado
RIO - Produtores rurais que vivem em assentamentos e participam no Rio da 6ª Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária criticaram a destruição promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na fazenda da empresa Cutrale nesta semana em São Paulo e disseram que a ação não reflete a linha de atuação dos movimentos sociais.
Os expositores aguardavam nesta sexta-feira, 9, a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cancelada por causa da chuva forte que caiu durante todo o dia na cidade. A feira é organizada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ao custo de R$ 11 milhões, com patrocínio de instituições públicas e privadas. Dos 650 expositores, pelo menos 80 vivem em assentamentos.
Integrante da cooperativa do assentamento Vista Alegre, à beira do Rio Acre, em Rio Branco, o produtor Cícero Medeiros Brandão, que vendia polpa de fruta congelada, disse que a atuação do MST no interior paulista "não pode acontecer". "Lá (na fazenda) tem um plantio, não pode destruir. Esse tipo de coisa atrapalha as organizações sociais", criticou Cícero, filiado ao PT.
"Acredito que a via não é a da violência, mas o MST e todos os movimentos sociais precisam, sim, mostrar que as políticas sociais ainda não foram totalmente concretizadas", disse Valdener Miranda, da Associação de Assentamento do Estado do Maranhão.
Fonte: O ESTADO
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