Apoiada explicitamente pelo BNDES, a fusão entre os frigoríficos JBS-Friboi e Bertin é a quinta operação para criação de uma empresa gigante realizada com o apoio do banco nos últimos 18 meses. Desde então, já foram desembolsados R$ 5,1 bilhões para fortalecer e estimular a formação de grandes grupos, o equivalente a 6% de seu orçamento em 2008.
Se for considerado o esforço do banco nos últimos dois anos para fortalecer o caixa dos dois frigoríficos no período anterior à fusão, os desembolsos chegam a R$ 8 bilhões. Em 2007, o BNDES comprou 14% do JBS e, em 2008, 27% do Bertin. As participações valiam, no fim de 2008, R$ 1,4 bilhão e R$ 2,4 bilhões, respectivamente.
O valor não contabiliza o que o BNDES desembolsará para a nova JBS-Bertin, que nasce com o epíteto de maior processador de carnes do planeta. A quantia será conhecida quando o megafrigorífico fizer uma oferta de ações.
O BNDES tornou-se dono de 22,4% da nova companhia. A maior parte dos rearranjos ocorre entre empresas que já têm o BNDES como sócio. Um dos argumentos é que, mais fortes, as empresas podem resistir à tentativa de compra por estrangeiros. Os outros motivos são reduzir custos e tornar-se um competidor global.
Em abril do ano passado, o BNDES liberou R$ 2,5 bilhões para a compra da Brasil Telecom pela Oi. Com o dinheiro, os donos da Oi (os grupos Andrade Gutierrez e La Fonte) adquiriram a participação do GP, além do controle na BrT dos fundos de pensão e do banqueiro Daniel Dantas. O negócio forjou a gigante brasileira das telecomunicações.
Em julho de 2008, foi a vez de a Totvs receber R$ 405 milhões para comprar a Datasul e, assim, criar a maior companhia nacional do setor de software.
No propósito, o BNDES contou ainda com uma providencial ajuda da crise.
Em janeiro, Votorantim Celulose e Aracruz ressuscitaram uma fusão que tinha sido enterrada depois da crise, criando a Fibria. A Votorantim aumentou a participação já existente na Aracruz e assumiu seu controle. A Aracruz estava mergulhada em perdas de R$ 4 bilhões depois de operar com derivativos (antes da crise, esperava lucrar apostando na queda do dólar, quando acabou ocorrendo o contrário), que também trouxeram prejuízos de R$ 2 bilhões à Votorantim.
O BNDES apoiou com uma injeção de R$ 580 milhões no capital da nova empresa (passando, assim, a deter 34% dela) e, dias depois, liberou um empréstimo de R$ 661 milhões para o grupo se expandir.
Outra vítima dos derivativos, com perdas de R$ 2 bilhões, a Sadia não tinha outra saída a não ser se juntar à Perdigão, formando em maio último a Brasil Foods, maior processadora de frangos no mundo.
Mais uma vez, o BNDES apoiou a negociação, mostrando fôlego para entrar na oferta de ações da nova empresa. Estava disposto a pagar até R$ 1,5 bilhão, mas, como a procura pelos investidores foi forte, gastou R$ 400 milhões e ficou com 3% da companhia.
Também em maio, o BNDES estimulou as conversas entre os frigoríficos Bertin e Marfrig, nos quais já tinha participação. Os dois estavam numa situação ruim, com prejuízos, em 2008, de R$ 681 milhões e R$ 35 milhões, respectivamente, devido à queda nas exportações.
As negociações fracassaram em agosto, mas, um mês depois, o Bertin se acertou com outra empresa do portfólio do BNDES, a gigante JBS Friboi. À Marfrig restou comprar a Seara, por R$ 1,8 bilhão, e adquirir outros 11 frigoríficos a preço não revelado, em setembro.
Nos R$ 5 bilhões usados em fusões não está incluído o que o BNDES deverá gastar para adquirir parte das novas ações que a empresa espera emitir para pagar a compra.
Empresas competitivas
O BNDES informou que "o desenvolvimento de companhias competitivas e de classe mundial é um dos objetivos da política de desenvolvimento produtivo" em setores "em que o Brasil tem excelentes condições de competitividade". Afirmou ainda que a ação é aliada "a melhorias de governança, de gestão e de responsabilidade socioambiental".
Para Francisco Barone, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas, o banco deve estimular o desenvolvimento empresarial. "Com isso, as empresas criam empregos e desenvolvem inovação, o que é bom para o país."
Segundo o professor, ter empresas brasileiras compradas por multinacionais "não é necessariamente ruim". "Mas é bom para a marca "Brasil" termos empresas globais."
Gilberto Braga, professor de governança corporativa do Ibmec-Rio, afirma acreditar que o incentivo às consolidações é válido se fizer sentido econômico e não se basear em aspectos ideológicos. "Não é válido apenas para ter grandes grupos nacionais ou quando aumenta a presença do Estado no controle das empresas."
Dentre as operações, a única em que vê pouco sentido é a fusão entre a Oi e a BrT. "Teria sido mais salutar se a empresa tivesse feito sozinha a reestruturação societária."
Fonte: FOLHA/SAMANTHA LIMA
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