Sonda da Nasa revela 'cordilheiras' nos anéis de Saturno

Nas novas imagens, partículas parecem acumular-se em formações verticais em todos os anéis


Saturno visto no equinócio pela sonda Cassini, que revelou irregularidades nos anéis. Nasa


SÃO PAULO - Os cientistas da Nasa estão maravilhados com a extensão das ondulações e nuvens de poeira nos anéis de Saturno durante o equinócio do planeta, registrado no mês passado. Astrônomos costumavam acreditar que os anéis eram perfeitamente planos, mas novas imagens, divulgadas ao público nesta segunda-feira, 21, mostram que a altitude de algumas irregularidades recém-descobertas é comparável á das Montanhas Rochosas do oeste dos EUA.

"É como pôr óculos 3D e ver a terceira dimensão pela primeira vez", disse, em nota divulgada pela agência espacial, Bob Pappalardo, cientista do projeto Cassini. "É um dos eventos mais importantes que a sonda já nos mostrou".

Em 11 de agosto, a luz do Sol atingiu diretamente a borda dos anéis de Saturno, causando um efeito óptico que fez com que eles praticamente desaparecessem. Isso ocorre duas vezes em cada órbita do planeta, que se completa em cerca de 11 mil dias, ou 30 anos terrestres.

Na Terra, o equinócio de primavera (outono, para o hemisfério norte) ocorre nesta terça-feira, 22 de setembro, quando os raios do Sol brilham diretamente sobre o equador terrestre.

Durante cerca de uma semana, cientistas usaram a Cassini para observar elevações que se projetassem no brilho da iluminação paralela ao plano dos anéis. Os cientistas já sabiam das projeções verticais, mas não eram capazes de medir diretamente a altitude e largura das ondulações sem a ajuda das sombras projetadas pelo equinócio.

"A maior surpresa foi enxergar tantos locais de relevo vertical acima e abaixo de anéis que, de resto, são finos como papel", disse Linda Spilker, cientista do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa.

Os blocos de gelo que compõem os anéis principais (chamados A,B, C e D, pela ordem em que foram descobertos) espalham-se por 140.000 quilômetros além do centro de Saturno, mas acreditava-se ocupassem uma faixa de apenas 10 metros de espessura.

Nas novas imagens, partículas parecem acumular-se em formações verticais em todos os anéis. Ondulações corrugadas - que a Cassini já tinha visto estenderem-se por mais de 800 km no anel D - parecem ondular um total de 17.000 km pelos anéis C e B.

A altitude de algumas das protuberâncias descobertas são comparáveis à elevação de cordilheiras na Terra. Uma onda de partículas de gelo, criada pela atração gravitacional da lua Dafne, chega a 4 km de altitude.

Descobertos 'morros' nos anéis


As ondas no Anel A, com a lua Dafne entre elas,, na Falha de Keeler. Imagem: Nasa

As novas descobertas foram apresentadas no fim da última semana em artigo publicado no Astronomical Journal.

A busca por material dos anéis que se projetasse perceptivelmente acima ou abaixo do plano era um dos principais objetivos da equipe responsável por analisar as imagens produzidas pela Cassini durante a chamada "Missão Equinócio", o período de dois anos que contém o equinócio - isto é, o momento exato em que o Sol está exatamente no alto do céu ao meio-dia, sobre o equador.

Nas últimas semanas, a Cassini captou não apenas as sombras de algumas luas, mas também as sombras nunca antes vistas de estruturas nos anéis.

Segundo os autores da descoberta, essas observações apoiam a ideia de que pequenas luas, em lacunas diminutas dos anéis, podem ter efeitos complexos sobre a borda do plano ao redor.

A lua Dafne, de 8 km de diâmetro, orbita dentro da Falha de Keeler, um vão de 42 km de extensão no interior do Anel A, o maior de Saturno. Sua atração gravitacional perturba as partículas que formam as bordas da falha.

Os cientistas estimaram, com base no comprimento das sombras, que as ondas atingem grandes altitudes, chegando a 1,5 km acima do plano geral dos anéis, ou 150 vezes a espessura do anel, que é de 10 metros.

"Achávamos que essa estrutura vertical era muito legal quando ela apareceu nas simulações", disse o principal autor do artigo, John Weiss, segundo nota divulgada pela Nasa. "Mas é um milhão de vezes mais legal ver a teoria receber apoio de imagens tão maravilhosas. Faz você desconfiar que talvez esteja certo".

Fontes: O ESTADO - NASA


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