Obama anuncia "nova arquitetura" de defesa antimísseis na Europa

Nova arquitetura para a defesa da Europa

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, confirmou na manhã desta quinta-feira uma "nova arquitetura" do plano antimísseis na Europa e afirmou que as mudanças no plano herdado do governo anterior levaram a uma estratégia "mais forte, moderna e mais rápida" de proteção aos americanos e aos aliados europeus.

O anúncio de Obama foi feito horas depois que o premiê tcheco, Jan Fischer, afirmou em entrevista coletiva que os EUA desistiram do projeto de escudo antimísseis na Europa central. Obama não citou diretamente o escudo na República Tcheca, mas afirmou que a nova configuração do plano antimísseis incluiria um investimento em tecnologia mais moderna, bases marítimas em vez de apenas terrestres e interceptores móveis --capazes de se adaptar às ameaças quando e onde estiverem.

"Para dizer de maneira mais simples, nossa nova arquitetura de defesa de míssies na Europa proporcionará uma defesa mais forte, inteligente e rápida para as forças americanas e os aliados dos Estados Unidos que o programa de 2007", disse Obama, em anúncio na Casa Branca.


Presidente Barack Obama fala sobre as mudanças no plano de defesa em uma das salas da Casa Branca

Segundo o acordo fechado pelo governo de George W. Bush entre Varsóvia e Washington, dez interceptores de mísseis balísticos de longo alcance seriam instalados até 2013 na Polônia. O projeto inclui ainda um potente radar na República Tcheca.

Obama explicou que a revisão no plano de defesa foi incentivada juntamente pela mudança na ameaça de mísseis balísticos iranianos que inspirou o projeto de Bush. Segundo o presidente, o governo iraniano investiu no desenvolvimento de mísseis balísticos de curto e médio alcance e afastou a ameaça de mísseis de longo alcance que parecia iminente quando o plano foi criado.

"O novo plano traz o avanço na tecnologia de defesa de mísseis e nos interceptores em terra e em mar. É um novo enfoque com tecnologias aprovadas e efetivas", explicou Obama, que enfatizou diversas vezes o fato do programa investir em tecnologias mais modernas.

O novo plano, acrescentou o democrata, ajusta não apenas a defesa dos americanos como dos aliados europeus da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

"O plano é sustentado no compromisso dos Estados Unidos de defender os americanos e os aliados da Otan da ameaça de mísseis balísticos", ressaltou o presidente, dizendo que o país mantém o respeito ao artigo 5º da aliança militar no qual "um ataque a um é um ataque a todos".

Obama reiterou ainda que a mudança no plano de defesa não exclui a cooperação com os aliados, incluindo a Polônia e a República Tcheca, que foram notificadas anteriormente sobre a revisão nos planos e sobre a manutenção dos "laços próximos" com Washington.

Rússia

O escudo é duramente criticado pela Rússia, que vê a proteção na vizinha Europa como uma ameaça a sua própria segurança.

Recentemente, o presidente russo, Dmitri Medvedev, recebeu Obama no Kremlin para uma retomada das relações, mas deixou claro que Moscou continua rejeitando a proposta do escudo.

Obama aproveitou o anúncio para ressaltar que a preocupação de Moscou com o plano anterior eram infundadas e que, mesmo sob a nova configuração, "o nosso foco continua sendo apenas a ameaça iraniana".

O presidente pediu ainda a cooperação dos russos para ampliar a proteção da região contra os mísseis.

Irã

Obama afirmou ainda que a mudança no plano antimísseis na Europa não muda o esforço da comunidade internacional, liderada por Washington, em dialogar com Teerã pela desnuclearização do regime.

"O plano vai lidar melhor com a ameaça imposta pelo programa iraniano [...] mas não há mudança na pressão pela desnuclearização do Irã", disse o presidente.

"Estou confiante de que, com os passos de hoje, fortalecermos a segurança dos Estados Unidos e aumentaremos a capacidade de enfrentar os desafios do século 21", concluiu Obama.

Análise: Fim de escudo marca novo rumo na política externa dos EUA
PAUL REYNOLDS
analista de assuntos internacionais da BBC News

A decisão dos Estados Unidos de abandonar os planos de instalar um sistema de defesa antimísseis na Polônia e na República Tcheca é uma grande mudança de rumo nas políticas externa e de defesa americanas, por parte do governo do presidente Barack Obama. A notícia foi dada nesta quinta-feira pelo diário americano "The Wall Street Journal" e confirmada pelo governo americano.

A decisão traz consigo várias implicações. Primeiramente, seria um grande sinal de que os EUA estão adotando uma política externa muito mais cautelosa sob a administração Obama do que sob o comando do ex-presidente George W. Bush (2001-2009).

Bush estava determinado em manter o escudo baseado na Europa, e seu governo já tinha fechado acordos com a Polônia para instalar dez interceptores antimísseis no país, e com a República Tcheca, que abrigaria o radar do sistema.

Obama pediu uma revisão dos planos quando tomou posse, e aparentemente não vê a necessidade para tanta pressa. Seus conselheiros parecem estar dizendo a ele que o Irã --que era a principal causa dessa movimentação-- não está afinal tão avançado em sua tecnologia para mísseis balísticos.

Rússia

O segundo efeito estaria nas relações entre os EUA e a Rússia. Os russos ficarão satisfeitos e, por isso, as relações entre os dois países podem ficar mais relaxadas. Os russos haviam alegado que o sistema poderia ser uma ameaça a eles, apesar de os Estados Unidos negarem. Os americanos acreditavam que os russos estavam apenas procurando uma desculpa para se meter nos negócios de seus vizinhos.

Mas os russos também podem se sentir triunfantes e concluir que sua maneira dura de tratar os assuntos é a que traz mais respeito e resultados.

Em terceiro lugar, a notícia pode indicar que a equipe de Obama estaria cética diante das alegações de que o Irã está desenvolvendo armas nucleares. Isso significaria uma relutância em atacar as usinas nucleares iranianas sem informações confirmadas com segurança, apesar de isso não necessariamente impedir os israelenses de fazê-lo.

Em quarto lugar, os governos polonês e tcheco poderão reagir de maneira indefinida à decisão. Eles investiram um capital considerável ao concordar com a instalação do escudo. Alguns membros mais linha-dura dos governos poderão se sentir decepcionados. Outros poderão se sentir aliviados. Haverá debates sobre os compromissos de longo prazo dos EUA com a Europa.

Em quinto lugar, no lado militar, o fato anuncia uma mudança na ênfase de toda a estratégia de defesa antimísseis dos EUA.

Segundo o "Wall Street Journal", a ênfase agora seria na defesa regional. Tomemos como exemplo a situação de Israel, que está recebendo ajuda dos EUA para a construção do míssil antimísseis Arrow e de outro interceptor de curta distância, conhecido como David's Sling. Sistemas de defesa baseados em navios, como o Aegis, já estacionado próximo ao Japão, também terão sua importância renovada.



Saiba mais sobre o novo plano de defesa antimísseis dos EUA

Ameaça

O plano revisado pelo governo Obama responde aos dados da inteligência americana que apontam que a ameaça de mísseis balísticos de curto e médio alcance iranianos cresceu mais rapidamente que o desenvolvimento de mísseis de longo alcance pelo país.

Assim, a ameaça iraniana nos próximos anos será maior para os aliados dos Estados Unidos na Europa e no Oriente Médio do que para território americano.

Tecnologia

O projeto revisado pelo governo Obama inclui novos interceptores marítimos e terrestres com base essencialmente na evolução do míssil antibalístico Standard Missile-3 (SM-3) e uma nova linha de sensores para detectar e rastrear mísseis na Europa.

A ideia é investir em uma nova arquitetura de distribuição de interceptores e sensores que não exige um único radar fixo como o planejado na República Tcheca.

O sistema usa ainda uma nova tecnologia de interceptores que não exige mais a instalação de 10 bases terrestres na Polônia.

Fases

O plano do governo Obama para a construção de um sistema de defesa antimísseis na Europa inclui quatro fases:

* Fase 1

Prevista para 2011, a primeira fase do projeto posiciona os sistemas já existentes e de eficácia comprovada na Europa para proteger os aliados e os militares americanos na região. Esta tecnologia inclui o sistema com base marítima Aegis Weapon System, o interceptor SM-3, conhecido como Block IA, e sensores como o Sistema de Vigilância Transportável por Radar do Exército e da Marinha.

* Fase 2

Prevista para 2015, a segunda fase do plano inclui a adoção de uma nova versão do interceptor SM-3, conhecida como Block IB, em bases terrestres e marítimas. Inclui ainda sensores mais avançados para expandir a defesa contra a ameaça de mísseis de curto e médio alcance.

* Fase 3

Prevista para 2018, depois de completada a fase de desenvolvimento e estes, uma nova geração dos mísseis SM-3 --Block IIA-- será adotada para impedir mísseis de alcance intermediário.

* Fase 4

Prevista apenas para 2020, novamente após uma bateria de testes e investimento em desenvolvimento, a última fase do plano revisado inclui a adoção do SM-3 --Block IIB-- para interceptar mísseis de médio e intermediário alcance de maneira mais efetiva, além de preparar o sistema para futura defesa contra ameaças mais sofisticadas.

Rússia diz que novo plano dos EUA não exclui escudo na Europa


O embaixador russo na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Dmitri Rogozin, advertiu nesta quinta-feira que o anúncio do presidente americano, Barack Obama, sobre a "nova arquitetura" do plano de defesa antimísseis na Europa não exclui o posicionamento de um escudo, apenas muda sua configuração.

Segundo o acordo fechado pelo governo de George W. Bush entre Varsóvia e Washington, dez interceptores de mísseis balísticos de longo alcance seriam instalados até 2013 na Polônia. O projeto inclui ainda um potente radar na República Tcheca.

O escudo é duramente criticado pela Rússia, que vê a proteção na vizinha Europa como uma ameaça a sua própria segurança. A mudança prevista por Obama elimina o radar e os interceptores fixos por nova tecnologia em bases marítimos e bases terrestres móveis.

"Quem considerar que os americanos cederam em suas posturas, cometem um erro", disse Rogozin à agência oficial russa Itar-Tass.

Segundo o diplomata, "os EUA simplesmente chegaram à conclusão de que o que atende a seus interesses é outra configuração de sistema antimísseis, por isso renunciam ao terceiro setor posicional e o trocam por uma defesa escalonada".

"Não se trata de enterrar um radar sob concreto e colocá-lo perto das fronteiras russas. Agora, os americanos estudam colocar os elementos do escudo em plataformas móveis que possam se deslocar na zona onde for necessário", disse.


Acordo

Andrei Nesterenko, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, negou nesta quinta-feira que houve qualquer tipo de acordo secreto com os EUA para a mudança no plano para o escudo antimísseis americano.

"Alguns meios de comunicação afirmam que existe um suposto acordo sobre o escudo antimísseis. Posso afirmar que isto não corresponde a nossa política, nem com a maneira de abordar qualquer tipo de problemas com qualquer país. São meras conjecturas", afirmou Nesterenko.

A medida de Obama deve facilitar e acelerar a retomada das relações bilaterais Washington-Moscou, afetadas durante o governo de Bush. Alguns veículos de imprensa disseram que Obama teria afirmado às autoridades russas que o sistema de defesa antimísseis seria desnecessário se Moscou convencesse o Irã a não produzir mísseis de longo alcance e armas nucleares.

O porta-voz do Pentágono, George Morrell, ressaltou que os novos planos da Casa Branca não têm relação com a Rússia.

Fontes: FOLHA - Efe - France Presse - BBC - AP

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