Governo interino de Honduras pede que o Brasil entregue presidente deposto

Zelaya voltou de surpresa ao país e está abrigado na Embaixada do Brasil.
Se houver violência, responsabilidade é do Brasil, diz presidente interino.

O presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, pediu na noite desta segunda-feira (21) que o governo brasileiro entregue o presidente deposto do país, Manuel Zelaya, que está abrigado na Embaixada do Brasil, em Tegucigalpa, para que ele seja submetido à Justiça.

O governo interino protestou contra o Brasil por ter abrigado Zelaya e o responsabilizou por qualquer ato de violência que possa acontecer perto da sede diplomática, que está cercada de manifestantes favoráveis ao presidente deposto.

Zelaya voltou clandestinamente ao país e está abrigado na Embaixada do Brasil. Ele está acompanhado de assessores e de sua mulher, Xiomara Castro.

Milhares de seus partidários se aglomeram em frente ao prédio, em Colonia Palmira, na capital hondurenha. Zelaya os saudou e pediu que eles tivessem "calma", segundo imagens mostradas pela TV local.

Toque de recolher

O governo de facto de Honduras decretou toque de recolher em todo o território nacional. A medida foi anunciada em rede nacional de rádio e TV. Ele já vigora, das 16h desta segunda às 7h de terça (entre 19h e 10h de terça em Brasília).

Em um breve comunicado, o governo interino indicou que a medida é "devida a eventos ocorridos nas últimas horas", com o objetivo de "proteger a tranquilidade, a vida e os bens das pessoas".

Brasil

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, falando a jornalistas em Nova York, onde está para a Assembleia Geral da ONU, confirmou que falou por telefone com Zelaya sobre a sua volta.

Amorim negou que o Brasil tenha participado do planejamento da volta de Zelaya. O presidente deposto chegou ao prédio da embaixada "por meios próprios e pacíficos", de acordo com o ministro, e foi recebido porque o Brasil o considera o presidente legítimo de Honduras.

Segundo o chanceler brasileiro, a volta de Zelaya a Honduras representa "um novo passo" nas negociações para tentar encerrar a crise política do país, iniciada com o golpe militar de 28 de junho que o expulsou do país, mandou-o para a Costa Rica e colocou o poder interinamente nas mãos de Micheletti, presidente do Congresso.

Amorim afirmou que o Brasil deseja encontrar "uma solução pacífica e rápida" para a situação.


Agradecimento

Falando por telefone à agência EFE, Manuel Zelaya agradeceu ao apoio do governo brasileiro e pediu a seus seguidores que se reúnam próximo ao prédio, para "protegê-lo".

Ele também pediu às Forças Armadas de Honduras para que não tentem para impedir sua presença, interrompendo assim sua busca pelo diálogo.

Em uma outra entrevista à TV, Zelaya disse que teve a autorização do presidente Lula para se refugiar na embaixada.

A informação da presença de Zelaya na Embaixada brasileira havia sido divulgada inicialmente pela mulher dele.

Antes da confirmação,o paradeiro de Zelaya foi centro de uma "guerra de versões" nesta segunda-feira.



OEA

O Conselho Permanente da OEA reuniu-se extraordinariamente em Washington para debater a crise política hondurenha após o fato novo da volta de Zelaya.

O secretário-geral da OEA, José Miguel Inzulza, pediu ao governo interino que garanta a segurança do presidente deposto. Ele também disse que pretende viajar ao país "o mais rapido possível" para ajudar a negociar uma solução para a crise.

EUA

Os EUA reagiram com cautela ao anúncio de seu retorno ao país.

O porta-voz do Departamento de Estado, Ian Kelly, voltou a pedir aos dois lados em conflito que evitem "qualquer ação que possa derivar em um surto de violência".

Honduras, um dos países mais pobres da América Central, foi um aliado importante dos norte-americanos na época da Guerra Fria.

O presidente da Guatemala, Álvaro Colom, também aliado do presidente deposto, previu que retorno de Zelaya "será o fim da crise política".



Chávez

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que é aliado político de Zelaya, disse ter falado com o presidente deposto pelo telefone, e confirmado que ele estava de volta ao seu país. As imagens foram transmitidas pela TV na Venezuela.

Segundo Chávez, Zelaya, que estava na Nicarágua, voltou a Honduras por terra, depois de dois dias de viagem cruzando rios e montanhas e "arriscando sua vida".

O golpe

Zelaya foi derrubado em 28 de junho e obrigado a deixar o país rumo à Costa Rica. O governo interino que o derrubou tem uma ordem de prisão contra ele por crime de traição e prometeu prendê-lo caso ele voltasse ao país.

Os golpistas acusam Zelaya de corrupção e de ter tentado mudar a Constituição para obter mais uma reeleição -acusações que o presidente deposto nega.

O golpe criou uma grave crise em Honduras e foi condenado pelo presidente norte-americano, Barack Obama, pela União Europeia e por governos latino-americanos, representados pela OEA.

Washington tem defendido a volta de Zelaya ao poder e a restituição da normalidade democrática, mas alguns governos esquerdistas latino-americanos, como o de Cuba, acusam Obama de não se mostrar suficientemente crítico ao golpe.

Zelaya, que mantém seu tom desafiador desde sua derrubada, se refugiou a maior parte do tempo na Nicarágua. Enquanto isso, o governo de facto que apoiou sua derrocada se fortificou no poder, desafiando pedidos internacionais para que permitisse a volta do presidente deposto.

Em 24 de julho, Zelaya já havia tentado voltar ao país para tentar retomar o poder, mas foi barrado pelo Exército na fronteira e teve de recuar.

Fontes: G1 - Reuters - AP

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