Presidente pede reunião para discutir paz na região e que Uribe reflita sobre estratégia militar contra tráfico
BARILOCHE - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso pacificador durante sua participação na reunião extraordinária da União das Nações Sul-americanas (Unasul) nesta sexta-feira, 28, e pediu "garantias jurídicas" de que o convênio militar que a Colômbia assinou com os Estados Unidos não afetará a região. "Respeitamos o acordo, mas queremos nos resguardar", afirmou o presidente, que insistiu na necessidade de que os países da região possam "ter a segurança" de contar com instrumentos jurídicos que garantam que o acordo "é específico para o território colombiano".
"Podemos propor a Rafael (presidente do Equador, Rafael Correa) uma pequena reunião que poderia discutir a respeito da paz no continente. Nunca falamos sobre isso e, às vezes, escutamos que a tensão na região aumentou e isso me preocupa", afirmou Lula. "Ninguém nunca deu nada de presente para mim quando eu era sindicalista e ninguém vai dar nada de presente à Unasul. A solução dos nossos problemas está dentro de nosso continente, não fora", opinou.
O presidente Lula lamentou a ausência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que não se encontrava na sala de reuniões no momento de seu discurso e lhe mandou um recado: "é uma pena que o companheiro Chávez não esteja presente porque creio que poderíamos discutir uma política de paz no continente entre Uribe (Álvaro Uribe, presidente da Colômbia), Correa e Chávez". Segundo ele, estes países precisam se reunir "para definir claramente os parâmetros que permitam transmitir ao mundo uma imagem de que realmente queremos paz, democracia e desenvolvimento social e, por isso, o povo votou em nós".
"Não está (no acordo), mas também não é proibido, o que não é proibido é permitido, temos que ter cuidado com isso", afirmou. "Ter cuidado e tomar sopa não fazem mal a ninguém", brincou o governante. Lula disse que ainda aguarda uma resposta do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a sua proposta de convocar uma reunião com os membros da Unasul para debater o tema. Ele destacou a importância de "provocar uma boa discussão com Obama para discutir qual é o papel dos EUA para a América Latina", mas admitiu que "é difícil que um presidente em começo de mandato tenha o controle de tudo".
O presidente, que se mostrou partidário de convocar o Conselho de Defesa Sul-americano para fazer um "estudo real" sobre a situação das fronteiras dos 12 membros da Unasul, admitiu que a soberania nacional "é algo sagrado", mas pediu que Uribe reflita sobre a eficácia da via militar para combater o narcotráfico em seu país. Para ele, se realmente existem bases estrangeiras estabelecidas no país desde então e isto não foi suficiente para solucionar o problema do narcotráfico, seria necessário repensar o recurso à estratégia militar.
"O que queremos é que quando o companheiro Uribe tenta mostrar que as bases (dos EUA) já existem na Colômbia desde 1952, eu queria dizer de maneira muito carinhosa, se as bases americanas estão na Colômbia desde 1952 e ainda não há soluções ao problema deveríamos pensar em outra coisa que pudéssemos fazer em conjunto para resolver os problemas", ressaltou. "Uma decisão da Unasul é uma garantia institucional coletiva de nosso continente de que poderíamos solucionar este problema se nos abríssemos à discussão com toda a verdade absoluta deste problema", ressaltou.
Lula admitiu que os traficantes de drogas utilizam as fronteiras dos países do Cone Sul, mas lembrou que "os grandes consumidores não estão" na região. "Seria extremamente importante que o mundo rico, além de querer combater o narcotráfico em nossas fronteiras, o combatesse dentro das suas fronteiras", defendeu.
Ele também expressou preocupação com as consequências do acordo para áreas vulneráveis para a América do Sul, como a Amazônia. "Às vezes, me dá a impressão de que a Amazônia é dos países ricos e que eles querem decidir a política na Amazônia", denunciou.
Lula propôs a seus parceiros "construir um melhor padrão de relação" e disse que a única forma de evitar conflitos precipitados é conter as palavras. "Cada um de nós deve chegar às portas destas reuniões com a decisão de se queremos construir um clima de paz ou um clima de guerra", afirmou.
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Fontes: ESTADO/Marina Guimarães - ANSA - EFE
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