Nas eleições legislativas deste domingo no Japão, a população poderá escolher entre o continuísmo na política externa japonesa e uma relação menos dependente em relação aos Estados Unidos. Mas é pouco provável que o próximo chefe de governo consiga dar ao ao país o peso que merece no cenário internacional.
O governista Partido Liberal-Democrático (PLD) e o opositor Partido Democrático (PD, favorito em todas as pesquisas), chegam às urnas com propostas já prontas sobre a relação do Japão com Washington, que considera Tóquio sua "pedra angular" na Ásia.
O candidato da situação defende o "status quo" entre os dois fortes aliados, visto pelos críticos como um servilismo da segunda maior economia do mundo.
A oposição, por sua vez, prega um distanciamento entre as partes, que incluiria o fim do apoio logístico japonês ao conflito no Afeganistão e a revisão do status dos cerca de 50 mil militares americanos no Japão.
Yukio Hatoyama, o candidato da oposição, abriu a campanha com o leve discurso antiamericanista que durante anos caracterizou o PD. Porém, desde que as pesquisas passaram a apontá-lo como vencedor do pleito, suavizou ainda mais suas declarações.
Divergências
Em uma recente entrevista coletiva concedida à imprensa estrangeira, Hatoyama disse que sua intenção é reorientar as relações com os EUA para que o Japão tenha "mais iniciativa". Outra intenção é reforçar o diálogo do país com seus vizinhos asiáticos, como China e Coreia do Sul.
O opositor também disse que se sente confortável com a figura do atual presidente americano, Barack Obama, a quem se referiu como "um homem corajoso" por pedir um mundo livre de armas nucleares.
Assim como o atual ocupante da Casa Branca, o líder da oposição japonesa se diz contra as armas nucleares, algo que considera uma "missão moral" para o único país do mundo atacado com bombas atômicas.
Hatoyama também fala de transformar em lei os três princípios "não-nucleares" do Japão: os de não-produção, não-circulação e não-armazenamento.
O PLD, de tendência conservadora, é mais ambíguo. Embora se oponha publicamente às armas atômicas, não fez muito para sair debaixo do guarda-chuva nuclear americano.
Ambos os partidos divergem ainda em relação à visão que têm do passado do Japão, sobretudo no que diz respeito ao polêmico templo Yasukuni, que honra a memória dos soldados japoneses mortos em conflitos, entre eles 14 criminosos de guerra.
Hatoyama quer um monumento sem alusões religiosas para honrar os militares mortos. Durante a campanha, ele chegou a afirmar que não visitará Yasukuni.
O atual primeiro-ministro, Taro Aso, também não o fez, mas a ida ao templo de membros de destaque do PLD, como o ex-premiê Junichiro Koizumi, irritou a China e a Coreia do Sul, os mais prejudicados pelo militarismo japonês no século 20.
No que se refere à imigração, Hatoyama acha "inevitável" que o Japão abra suas portas e favoreça o retorno de cerca de um milhão de estrangeiros com vistos de permanência --algo a que o PLD se opõe.
A mudança climática é outro tema em torno do qual os dois partidos mantêm divergências. Enquanto a legenda da situação propõe que até 2020 as emissões de CO§2§ sejam reduzidas em 15% em relação aos níveis de 2005, o PD defende uma redução de 25% frente aos patamares de 1990.
De um jeito ou de outro, é pouco provável que o próximo premiê japonês consiga, pelo menos de imediato, recuperar o peso internacional do país, um dos que mais dinheiro doa às instituições multilaterais, mas que sequer é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
Fontes: FOLHA/PATRICIA SOUZA - Efe
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