Cantor pop afegão usa música para incentivar votação no país

Farhad Darya ficou 13 anos no exílio e hoje mora e trabalha em Cabul.
Segundo ele, país é menos violento do que parece.

Ouça as músicas de Farhad Darya


Poster de turnê deste ano de Farhad Darya (Foto: Divulgação

No dia em que a capital do Afeganistão se viu livre do controle dos talibãs, em 13 de novembro de 2001, a primeira música tocada nas rádios do país foi "Kabul Jaan", que significa "Minha querida Cabul". A letra fala sobre a resistência de um povo sofrido, em agonia. "Soube que eles deram a notícia da queda do regime com a minha música de fundo e depois a tocaram toda. Fui bombardeado com ligações e e-mails e me senti muito orgulhoso. É algo que não consigo explicar", disse em entrevista ao G1, por telefone, o cantor e compositor afegão Farhad Darya.

Nessa época, Darya, de 46 anos, estava no exílio. Hoje, ele usa sua música para passar mensagens de força e união e, nestas últimas semanas, incentivar o povo a votar nas eleições de domingo (20). "Votar é uma experiência relativamente nova para nós e teremos problemas, é certo que sim. Mas temos que ser pacientes", disse o cantor.

Na quinta-feira, ele irá à urna com um grupo de intelectuais num esforço para mostrar envolvimento e comprometimento com o pleito.Temos que pensar no no país em si e não em aspectos que nos separam, como a língua e a etnia. Precisamos ver o que é melhor para a nação."


Farhad Darya faz show em Cabul, em março de 2008 (Foto: Divulgação)

Quase 17 milhões de afegãos são esperados para decidir, pela segunda vez desde a invasão americana em 2001, o presidente do país. Concorrem 41 candidatos, entre eles duas mulheres. O atual presidente, Hamid Karzai, concorre à reeleição e é o favorito, apesar das denúncias de corrupção em seu governo. Em segundo lugar nas pesquisas aparece o médico Abdullah Abdullah.

Darya não quis se pronunciar por um candidato específico, mas disse que gostaria que os afegãos votassem com sabedoria.

Carreira e exílio

Darya nasceu na província afegã de Kunduz e, aos 17 anos, mudou para a capital para estudar literatura na Universidade de Cabul. Ele conta que tinha 14 anos quando começou a compor e logo que gravou suas primeiras músicas já sofreu censura do governo. Depois de se formar e de dar aulas de música por dois anos, ele deixou o país, em 1990. Morou em países da Europa e nos EUA. Em Paris, conheceu sua esposa.

Após a queda do Talibã pela aliança dominada pelos Estados Unidos, Darya voltou a Cabul. Era 2003 e ele conta que foi recebido com carinho e alegria pelos fãs em um grande show.

"Comecei a escrever letras políticas na época do regime comunista. Via que as pessoas sofriam e comecei a cantar como uma forma de ser a voz daquelas pessoas. Costumava cantar sobre união, esperança. Hoje tenho uma nova mensagem: as pessoas se concentram nas coisas ruins do Afeganistão e eu tento mostrar as coisas bonitas que existem no país. Dizer que sabemos o que é a paz, o que é um sorriso."

Suas músicas tem uma mistura de ritmos variados e Darya canta em diversas línguas, como farsi-dari, pashto, uzbek, urdu e inglês.

Violência

Darya foi nomeado Embaixador da Boa Vontade pelo Programa de Desenvolvimento da ONU no país, em 2006. Perguntado sobre a violência, ele diz que não sente que é tão ruim como imaginamos.

"Eu viajo por todo país, faço shows abertos, gratuitos e graças a Deus nunca aconteceu nada. Não é um país totalmente seguro, claro. A atenção do mundo está voltada para nós agora. Mas eu vivo no país e vejo que a situação e não é tão ruim quanto parece para vocês, de fora."

Fonte: G1/ Giovana Sanchez

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