Reserva de mercado nas vagas de estacionamento
De um lado, motoristas desesperados por vagas de estacionamento, mesmo que pagas. Do outro, garagens ociosas durante o dia em residências de ruas próximas à Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, no Brooklin, Zona Sul de São Paulo. Para as ‘pontas’ se unirem, bastou que a Prefeitura de São Paulo implantasse nas vias da região o sistema de rodízio, conhecido como Zona Azul, dos carros estacionados.
A consequência foi a criação de ‘estacionamentos informais’, que tentam atender esta demanda por vagas. Com a implantação da Zona Azul, o motorista que deixa o carro na rua paga pela folha unitária de Zona Azul R$ 1,80, podendo renová-la por apenas mais uma hora. Ou seja, depois de duas horas e de desembolsar R$ 3,60, o proprietário do veículo é obrigado a procurar outra vaga, para não ser multado.
Para que a conta não fique tão salgada ao final do mês, a solução encontrada foi apelar para os moradores da região, que passaram a alugar as garagens, desocupadas durante o dia. Cientes, no entanto, de que o ‘aluguel’ do espaço é ilegal, muitos evitam comentar o assunto abertamente.
“Eu não alugo, não. Eles deixam o carro aí durante o dia e me dão um agrado no final do mês. Eles me dão o que quiserem”, disse a aposentada e viúva Josefa Maciel, que mora sozinha em uma casa em uma travessa da Berrini. No quintal em frente à residência – ela pediu para que não se tirasse foto e nem que o endereço fosse revelado -, há espaço suficiente para estacionar ao menos cinco carros. Na casa geminada ao lado, mais cinco vagas.
A Subrefeitura de Pinheiros, responsável pela região da Berrini, confirma que a prática é irregular, mas afirma que a fiscalização é difícil e só ocorre mediante denúncia. Para que fique comprovada a irregularidade, é preciso provar que os veículos parados na casa não são dos moradores e que está sendo feita alguma cobrança pelo estacionamento. Neste caso, o morador seria autuado.
Depois da implantação da Zona Azul na região, Josefa Maciel conta que não teve mais sossego. “Todo dia vem gente aqui perguntar se tem vaga para alugar. O pessoal daquele prédio ali (e aponta para o prédio) ficou com todas. O carro fica aí durante o dia apenas”, contou. Em seguida, ressabiada, questiona: “Você não vai me prejudicar, não, né?” Diante da negativa, a aposentada relaxa: “Moro sozinha e uma graninha a mais sempre ajuda, né?”.
A opção por alugar garagens em residência sai mais em conta para o bolso do motorista. Foi o que constatou o comerciante Antônio Manoel Mendes de Oliveria, de 48 anos, que mora em Pirituba, na Zona Oeste de São Paulo, e trabalha em uma padaria na Avenida Berrini. Antes da implantação da Zona Azul, ele deixava o carro na rua. “Agora ficou complicado. Por aqui, não tem estacionamentos. E os poucos que têm cobram caro, R$ 240 por mês”, disse.
O jeito foi apelar à clientela da padaria. “Fui conversando com um e com outro para ver quem podia alugar. Como não tenho horário fixo aqui (na padaria), alugo integral. Pago R$ 150 por mês. E tem mais gente aqui que está atrás de garagem para alugar”, disse.
Assim como Josefa, a aposentada Fátima Conceição Coelho, que mora há 55 anos em outra travessa da Berrini, aluga a única garagem de casa. Ela também pede para que o local não seja fotografado e nem o endereço divulgado. “Um amigo me falou que tinha uma moça procurando. Ela costumava deixar o carro na rua antes da Zona Azul. Ela deixa o carro, mas nem combinamos preço algum”, ressalta, também não querendo evidenciar qualquer vínculo ‘comercial’ com a locatária da garagem.
Em frente à casa de Fátima, onde havia um sobrado, o terreno começa a ser preparado para ser pavimentado. “Vi construir e vi demolir a casa da minha amiga aí na frente. Ela demoliu para construir um estacionamento”, contou Fátima, deixando claro que, com o aumento da demanda por vagas de estacionamento na região, o negócio pode se tornar cada vez mais promissor – e descaracterizar de vez o então bucólico bairro que Fátima conheceu há 55 anos.
Comentário:
A Prefeitura considera alugar vagas como algo irregular por dois motivos: não quer concorrência para poder continuar a explorar os motoristas com o cartão da Zona Azul e para continuar a alimentar a verdadeira indústria de multas que existe nesta cidade.
Se a Prefeitura quisesse de fato, resolver a questão, ela criaria cartões de período maior, por exemplo, cartões para 5, 8 ou 10 horas, a preços justos e tudo se resolveria. Mas nao age assim porque alimenta-se das multas e autuações.
Não existe um vereador que seja capaz de levantar o traseiro da cadeira e propor uma solução que atenda ao povo e não à Prefeitura. Começo a achar a existência da Câmara Municipal, inútil e um desperdício de dinheiro do contribuinte, pois faz anos que lá nada produzem.
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Fonte: G1
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