Apoiadores do presidente deposto de Honduras sentam-se em frente a soldados perto do aeroporto internacional de Tegucigalpa
Deposto, presidente Zelaya saiu de Washington em direção à capital. Hondurenhos dizem que não autorizarão voo e avião ficará em El Salvador.
Choques entre as tropas de Honduras e um grupo de manifestantes a favor do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, deixaram feridos neste domingo (5) em frente ao aeroporto internacional de Toncontin em Tegucigalpa, capital hondurenha.
Segundo informou um oficial de polícia à agência de notícias France Presse, há mortos e feridos em razão dos confrontos. "Temos dois mortos e dois feridos", disse o comissário Mendoza.
Manifestantes enfrentam a polícia com bandeiras do país (Foto: Dario Lopez-Mills/AP)
O confronto ocorre em meio à expectativa enquanto o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, partiu de avião de Washington para Tegucigalpa, capital hondurenha, com a intenção de retomar seu cargo após um golpe no país da América Central. A informação é da rede televisiva venezuelana Telesur, que tem jornalistas a bordo do avião.
No entanto, o diretor da Aeronáutica Civil de Honduras, Alfredo San Martín, assegurou que o avião que transporta Zelaya aterrissará em El Salvador e não chegará a seu destino, porque não tem autorização para pousar em território hondurenho. Segundo San Martín, o controle aéreo de Honduras não recebeu os dados técnicos do avião, indispensáveis para a autorização do pouso.
'Pare o massacre'
Ao saber do confronto no avião, Zelaya se dirigiu ao general Romeo Vásquez, chefe do Estado Maior das Forças Armadas hondurenhas, pedindo que ele "pare o massacre". "Não destrua o seu povo e a sua família. O povo está nas ruas. Pare essas tropas, general. Pare esse massacre", declarou Zelaya.
Companhia
O presidente equatoriano, Rafael Correa, disse que Zelaya irá acompanhado do presidente da Assembleia Geral da ONU, Miguel D'Escoto. "Há muita mobilização em Tegucigalpa e nós não sabemos se o governo interino ou o chefe do Exército vai ousar repreender essas pessoas. Então decidimos que a coisa mais prudente a fazer seria que Miguel D'Escoto fosse com ele." O aeroporto internacional da capital está tomado por forte presença militar.
Correa, junto com o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Jose Miguel Insulza, a presidente argentina, Cristina Kirchner, e o presidente paraguaio, Fernando Lugo, irão viajar a El Salvador para monitorar o retorno de Zelaya.
Pedido
Zelaya convocou seus apoiadores no país a comparecerem ao aeroporto para lhe receber. O arcebispado da Igreja Católica no país pediu que Zelaya não volte, pois isso poderia dar início a confrontos sangrentos. No sábado (4), quase 10 mil pessoas protestaram em frente ao palácio presidencial.
Zelaya postou uma mensagem de vídeo na internet pedindo que os apoiadores compareçam ao aeroporto de Tegucigalpa. "Eu peço a todos os trabalhadores do campo, das cidades, índios, jovens, amigos, que me acompanhem em meu retorno a Honduras. Não tragam armas. Pratiquem o que eu sempre preguei: a não-violência."
Polícia joga gás em manifestantes em Honduras
Soldados hondurenhos dispararam gás lacrimogêneo para dispersar parte dos milhares de manifestantes reunidos em frente ao aeroporto internacional de Tegucigalpa para esperar o retorno ao país de Manuel Zelaya. O presidente deposto está em um voo a caminho da capital, apesar da proibição de pouso de seu avião, determinada pelo governo interino de Honduras.
Falando por telefone direto do avião, cedido pelo governo venezuelano, Zelaya disse que está a cerca de 30 minutos do espaço aéreo hondurenho. Em declarações à rede de TV Telesur, concedidas durante o voo, o presidente deposto no último domingo disse que volta ao país "em missão de paz e dialogo".
"Estou disposto a ir em frente e pedir a reconciliação aos soldados", disse Zelaya durante o voo. Ele pediu que os hondurenhos fiquem em torno do aeroporto de forma pacífica
Segundo a rede de TV CNN em Espanhol, a calma foi restaurada em frente ao aeroporto pouco depois do lançamento de gás lacrimogêneo. A agência Efe informou que a mobilização de milhares de pessoas favoráveis a fez o aparato de segurança estabelecido por policiais e militares perante o aeroporto retroceder. No entanto, os manifestantes não entraram no aeroporto, que segue sob controle das forças de segurança.
A multidão cobre uma grande parte de uma avenida em frente ao aeroporto internacional Toncontín. Após passar por uma blitz, os seguidores de Zelaya cantaram o hino nacional com o punho esquerdo levantado e marcharam enquanto policiais e militares se posicionaram em uma calçada da rua e em partes altas da área.
As forças de segurança chegaram a ser aplaudidas por terem permitido a passagem. Entre os manifestantes foram vistos funcionários do governo deposto, como Rodolfo Pastor, que ocupava a pasta de Cultura, Artes e Esportes.
O aeroporto da capital segue aberto ao tráfego aéreo, embora algumas companhias tenham suspendido seus voos. No início do voo, Zelaya "ordenou" às Forças Armadas que liberassem o pouso de seu avião, dizendo ser ainda o presidente do país.
"A Constituição proíbe que um hondurenho seja expulso do país", disse Zelaya à rede CNN em Espanhol, falando por telefone em pleno voo. "Sou um hondurenho legítimo e estou voltando para o país", disse o presidente deposto.
Pouco antes, o diretor da Aeronáutica Civil de Honduras, Alfredo San Martín, assegurou que o avião que transporta Zelaya aterrissará em El Salvador porque não tem autorização para pousar em território hondurenho.
Zelaya está acompanhado do presidente da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), o ex-chanceler nicaraguense Miguel D'Escoto, e de jornalistas, mas, diferentemente do que havia anunciado neste sábado, nenhum presidente o está acompanhando.
Enquanto Zelaya partia de Washington, o presidente interino, Roberto Micheletti, concedia uma entrevista coletiva em Tegucigalpa, ao lado de várias autoridades do novo governo, que assumiu no último domingo, após a deposição de Zelaya pelo Exército, com apoio da Suprema Corte e do Congresso.
Ele justificou a proibição de retorno de Zelaya ao país como uma forma de evitar "derramamento de sangue". Anteriormente, o governo havia informado que o presidente deposto seria preso se voltasse a Honduras, acusado de abuso de autoridade, violação dos deveres dos funcionários e traição, entre outros crimes, mas Micheletti disse que o melhor no momento é evitar qualquer confronto.
"Nós temos insistido que não queremos conflitos internos, não queremos derramamento de sangue", afirmou Micheletti.
O presidente interino também denunciou a mobilização de tropas da Nicarágua perto da fronteira dos dois países e apelou para que não haja intervenção externa em Honduras.
"Pedimos ao presidente Ortega que, por favor, respeite nossa soberania e a Hugo Chávez [presidente da Venezuela] que deixe de agredir nosso país, como tem feito, por meio dos meios de comunicação que possui", disse Micheletti. "Somos um país pequeno, respeitoso das leis nacionais e internacionais."
Questionando sobre a natureza da mobilização, ele disse que são pequenos grupos de tropas nicaraguenses que estão se movimentando e que não poderia dizer se o fazem por ordem do governo ou se há perigo real de que cruzem a fronteira.
"É uma invasão psicológica, estão de todas as formas tentando intimidar a nação", disse, afirmando que Honduras está preparada para responder a qualquer agressão. Mas ele repetiu que espera que o país e tranquilize, "para que não se derrame uma gota de sangue".
Em um possível sinal de fragilidade do governo interino diante da reação internacional e da suspensão determinada neste sábado pela OEA (Organização dos Estados Americanos), a vice-chanceler hondurenha, Martha Lorena Alvarado, disse na entrevista coletiva que está constituindo uma comissão para negociar com as organizações internacionais. Nenhum país reconheceu a legitimidade do novo governo, que está enfrentando também o corte de ajuda financeira vital de organizamos internacionais.
Ela disse que, após um "consenso" entre os poderes de Honduras, o novo governo propôs à OEA "a adoção de um diálogo de boa fé entre uma delegação da República de Honduras [...] e uma delegação de representantes de Estados membros, com a participação de funcionários da secretaria-geral", destacou Alvarado.
"Mas enquanto este diálogo de boa fé estiver em curso não poderão ocorrer atos ou situações que possam colocar em risco a paz social da República e comprometer o esforço das conversações", afirmou a vice-chanceler.
Apesar do isolamento externo, o governo busca dar mostras de unidade. O presidente defendeu várias vezes a legitimidade de seu mandato, reforçando que foi eleito pelo Congresso, com autorização da Suprema Corte, e que Zelaya foi retirado do cargo por infringir a Constituição.
Neste sábado, o cardeal Oscar Andrés Rodríguez, a mais alta autoridade católica de Honduras, reconheceu o novo governo e apelou ao "amigo José Manuel Zelaya" para que não retornasse ao país neste domingo.
"Pensemos se um regresso precipitado ao país, neste momento, poderia desencadear um banho de sangue. Eu sei que você ama a vida, eu sei que você respeita a vida. Até hoje ninguém morreu em Honduras. Por favor, medite, porque depois seria tarde demais", disse o cardeal.
Segundo a rede CNN, muitos dos líderes dos protestos contra o novo governo e em favor do retorno de Zelaya são padres católicos, o que sinaliza uma divisão entre a alta hierarquia da igreja no país e parte da base de religiosos, influenciada pela Teologia da Libertação, corrente de inspiração marxista que defende um papel ativo da igreja em questões sociais.
Golpe
Zelaya foi derrubado do poder no último domingo (28) em um golpe orquestrado pela Justiça e pelo Congresso e executado por militares, que o expulsaram para a Costa Rica. O golpe foi realizado horas antes do início de uma consulta popular sobre uma reforma na Constituição que tinha sido declarada ilegal pelo Parlamento e pela Corte Suprema.
"Fui retirado da minha casa de forma brutal, sequestrado por soldados encapuzados que me apontavam rifles", contou o presidente deposto, após chegar ao exílio na Nicarágua.
"Diziam: 'se não soltar o celular, atiramos'. Todos apontando para minha cara e o meu peito. [...] Em forma muito audaz eu lhes disse: 'se vocês vêm com ordem de disparar, disparem, não tenho problema de receber, dos soldados da minha pátria, uma ofensa a mais ao povo, porque o que estão fazendo é ofender o povo'."
Imagens
Fontes: Folha - G1- AP
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