Com cerveja na Casa Branca, Obama tenta encerrar polêmica racial


Obama (à dir.) toma cerveja com policial, professor de Harvard e vice, Joe Biden (dir. à esq.), na Casa Branca

Com canecas de cerveja e um bate-papo, o presidente Barack Obama tentou tirar o país e a si mesmo de uma polêmica, promovendo nesta quinta-feira uma conversa com o professor negro e o policial branco cuja disputa acendeu um inflamado debate sobre racismo nos Estados Unidos, especialmente depois que Obama, ao comentar o episódio, usou palavras que ele mesmo disse depois que poderiam ter sido mais cuidadosamente escolhidas.

"Eu sempre acreditei que o que nos aproxima é mais forte do que aquilo que nos separa", disse Obama, o primeiro presidente negro dos EUA após o encontro. "Estou confiante que isto aconteceu aqui hoje e espero que todos possamos tirar uma lição positiva deste episódio"

No jardim da Casa Branca no começo da noite, Obama reuniu-se com os protagonistas da história que abalou o governo nos últimos dias: o professor da Universidade Harvard Henry Louis Gates Jr. E o sargento da polícia de Massachusetts James Crowley. O vice-presidente, Joe Biden, também se sentou com eles em volta de uma pequena mesa.

Há três semanas, o professor, negro, foi preso dentro da própria casa pelo sargento, branco, depois de forçar a entrada por ter tido um problema com as chaves.

A polícia foi chamada por vizinhos, que imaginaram que se tratava de uma tentativa de roubo. O professor considerou que a ação policial era uma manifestação de racismo e, segundo o policial, reagiu com palavras agressivas, se recusando a apresentar provas de que era o dono da casa. Gates acabou sendo preso, mas foi liberado em seguida, depois de ser fichado na delegacia.

Questionado sobre o incidente em uma entrevista coletiva na semana passada, Obama, o primeiro negro eleito para a Presidência americana, disse que considerava a prisão estúpida.

O comentário causou a reação de policiais em todo o país e elevou a temperatura do debate, devido às implicações raciais do episódio e à amizade entre Obama e o professor, o que levou o presidente a fazer uma declaração dizendo que devia ter escolhido com mais cuidado as palavras e a convidar os dois protagonistas do episódio a tomar uma cerveja na residência oficial.

Obama, que durante a campanha e os primeiros seis meses no cargo evitou polêmicas raciais, tentou conter a reação causada por suas declarações de que agentes da polícia tinham "agido estupidamente" ao prender Gates.

"Nós concordamos em seguir em frente", disse o sargento após o encontro, quando questionado se algo tinha sido resolvido. "Acho que o que tivemos hoje foram dois cavalheiros concordando em discordar sobre uma questão específica. Penso que não passamos muito tempo lidando com o passado. Passamos muito tempo discutindo o futuro."

O professor divulgou uma declaração após o evento na qual disse que esperava que a experiência se revelasse uma "oportunidade para a educação, e não para a recriminação."

Ele disse que o ônus está agora com ele e com o sargento para que utilizassem a chance que o destino lhes deu para promover a atenção e simpatia do público para os perigos enfrentados pelos policiais e os receios de que algumas pessoas negras têm de ser abordadas pela polícia devido à cor da pele.

Embora Obama tenha convidado Crowley e Gates como parte do que ele chamou de um "momento pedagógico", o encontro não foi muito acessível para o grande público. A cobertura permitida limitou-se a vídeos e fotos do encontro amistoso, como planejado pela Casa Branca, mas com a conversa mantida privada.

Crowley e Gates usaram ternos escuros no encontro, bem mais formais que Obama e o vice-presidente, que usaram apenas camisa. O encontro durou cerca de 40 minutos.

Diante da grande atenção da imprensa americana, o presidente e a Casa Branca tentaram durante esta quinta-feira diminuir as expectativas em torno do encontro, dizendo que não haveria grandes anúncios e definindo-o o como apenas três pessoas bebendo uma cerveja.

"Eu quero dizer que estou fascinado com o fascínio sobre esta noite", disse Obama antes do encontro. "Eu notei que isso tem sido chamado de cúpula da cerveja. É uma expressão inteligente, mas isso não é uma cúpula, pessoal. Trata-se de três pessoas tomando uma bebida no fim do dia."

Dois dos principais canais de televisão dos EUA, CNN e MSNBC, mostraram na tela um relógio que marcava a contagem regressiva para o começo da reunião.

O encontro despertou tanta atenção da imprensa que o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que esperava não receber no futuro mais perguntas sobre que cerveja cada um dos participantes iria beber.

Obama bebeu Bud Light, o professor Gates escolheu a Sam Adams Luz, o sargento Crowley tomou a Blue Moon e o vice-presidente bebeu a cerveja não alcoólica Buckler. Algumas organizações reclamaram que definir a reunião na Casa Branca como um encontro em torno da cerveja poderia ser visto como um estímulo ao uso da bebida alcoólica.

Um dos objetivos paralelos de Obama ao tentar encerrar a polêmica é tentar mover a atenção de volta para sua tentativa de reformar o sistema nacional de saúde, que era o tema central da entrevista coletiva na qual ele se manifestou sobre a prisão de Gates.

A Casa Branca diz que não pagou qualquer transporte ou outros custos de alojamento para Gates ou Crowley. Os dois puderam levar as famílias e passearam pela Casa Branca antes de se reunir com Obama.



Fontes: FOLHA- AP - Reuters- Efe

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