Itajaí espera que sede da Brasil Foods ajude a recuperar prejuízo das enchentes

Sadia e Perdigão anunciaram que município terá matriz da nova empresa. No ano passado, cidade sofreu com inundações em Santa Catarina.


Vista aérea das cidades de Navegantes e Itajaí, em Santa Catarina, em 24 de novembro de 2008. (Foto: Filipe Araújo/Agência Estado)

A criação da Brasil Foods, ‘gigante’ dos alimentos que resultará da fusão da Sadia com a Perdigão - caso a operação seja aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) – trouxe ânimo e expectativa especial à cidade de Itajaí, em Santa Catarina.

A notícia de que a cidade será a sede da nova companhia – que prevê receita de mais de R$ 20 bilhões – é encarada como a oportunidade de resgatar a economia do município dos dias de dificuldade e prejuízos vivenciados pela população desde as enchentes que atingiram o estado em novembro do ano passado.

“O anúncio de que a nova empresa se instalará em Itajaí foi uma compensação que o município teve com a tragédia. A vinda da empresa com certeza vai ser um momento muito importante pra nossa economia”, afirmou o prefeito de Itajaí, Jandir Bellini (PP), que tem demonstrado total disposição para receber e oferecer infra-estrutura à empresa.

As inundações, que chegaram a deixar 80% da cidade embaixo d'água em 2008, segundo a prefeitura - deixaram marcas visíveis até hoje e ainda sentidas no caixa do município.

"Eu diria que nós perdemos, com certeza, cerca de R$ 1 bilhão, entre prejuízo e o que se deixou de faturar. Todo o nosso comércio e a indústria foram prejudicados", disse o prefeito, também sócio de uma empresa de frangos em Itajaí, a Frigovale.

Somaram-se à catástrofe climática os efeitos da crise financeira mundial, que diminuiu o comércio entre países e, junto com as chuvas, acertaram em cheio o "coração" econômico de Itajaí: o porto, que responde por 60% da produção de riqueza da cidade.

Dois berços de atracação de navios foram destruídos pelas enchentes e estão sendo reformados, mas ainda não estão em operação; além disso, o acúmulo de material sólido no mar causado pelos deslizamentos fez com que a região do porto perdesse profundidade e impediu os navios com cargas de atracarem, sob o risco de ficarem atolados.

"(O porto) ficou entre uma semana a dez dias sem atividade nenhuma, porque aqueles morros caíram na água", explica o ditetor comercial do porto de Itajaí, Robert Grantham.

Atualmente, Grantham diz que o porto tem apenas 60% do movimento que tinha no ano passado. Com verbas do governo federal, já retomou quase toda a profundidade necessária para a circulação dos navios. A região opera com dois berços disponíveis, mais três do terminal de Navegantes, cidade vizinha.

"O motivo da redução é metade o problema da profundidade do canal, metade crise", afirma.

Outro ponto favorável à virada na economia itajaiense, segundo a prefeitura, deve ser a localização geográfica e infra-estrutura do município.

Além do porto, a região tem um aeroporto em Navegantes e três saídas para a BR-101. Além disso, há o projeto da criação de uma via expressa que ligue a rodovia ao porto, e desvie o tráfego de caminhões de contêineres do centro da cidade - atual queixa dos moradores locais.

Mais congelados

Segundo Grantham, diretor do porto, a expectativa é de que a nova sede ajude a alavancar os negócios aos níveis pré-crise e pré-chuvas e consolide a posição da cidade como via exportadora de congelados.

Mesmo antes da fusão, Sadia e Perdigão já mantinham uma filial de vendas e um centro de serviços, respectivamente, no município.

A Seara Cargill, outro nome importante no setor, também tem sede em Itajaí. As três são as principais exportadoras que utilizam o complexo portuário catarinense: Perdigão (60%), Seara (16%) e Sadia (9%).

"Houve uma depressão muito grande na cidade, armazéns frigoríficos (que atuam no porto) começaram a dispensar muita gente na época das chuvas. Essa notícia foi uma injeção de ânimo na cidade, tanto que a prefeitura colocou anúncio no jornal no dia, saudando a decisão da empresa", diz.

Esperança de trabalho

A vinda da sede da nova empresa é também aguardada com ansiedade pelos trabalhadores que atuam no porto sem vínculo empregatício.

Saul Airoso, presidente da Intersindical Portuária, que representa cerca de 800 trabalhadores, é estivador há 29 anos e diz esperar bons resultados da vinda da nova empresa.

"Eu vejo com bons olhos. Acho que poderá ajudar a incrementar as cargas pelo nosso porto", diz ele, que afirma que o setor tem vivido dias de dificuldade e renda muito reduzida.

"Estamos passando muito mal. Para você ter uma idéia, os [total dos] salários dos trabalhadores, com encargos sociais, caiu de R$ 4,5 milhões por mês para R$ 650 mil. Houve mês, em dezembro, janeiro, em que ninguém ganhou nada", diz.

Demanda por imóveis

O setor de imóveis de Itajaí também espera, com a movimentação em torno da nova sede, impulsionar os negócios e ocupar a grande oferta de imóveis disponíveis na cidade, motivada pela queda no movimento desde o ano passado.

"O que o mercado espera é semelhante ao que aconteceu quando a Perdigão veio para cá, quando houve uma diferença notável. Prevemos um aquecimento no mercado residencial, na parte de locação, e no médio prazo também no mercado de vendas. Temos oferta para atender esse movimento extra", diz Diego Rauber, sócio de uma das principais imobiliárias da região.

Outros setores da economia também devem ser beneficiados, segundo expectativa local.

"Uma empresa com um faturamento desses necessita de bons profissionais, com salários mais qualificados. Isso vai gerar economia em todo um sistema, transportadores, logística, hotel para receber negócios, lanchonetes, restaurantes, bar, despachante, frigorífico", diz o prefeito.

Segundo ele, já é forte o interesse de prestadoras de serviços e até construtoras em lançar novos projetos na cidade, desde o anúncio.

"Já recebemos propostas de investidores, fornecedores, prestadores de serviços e construção civil apresentando projetos na área habitacional".

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