China reforça segurança na Praça da Paz Celestial pelos 20 anos de massacre

Policiais impedem o trabalho de jornalistas e controlam a entrada de visitantes e turistas no local em Pequim


Policiais não uniformizados, 'armados' com guarda-chuvas, obstruíam o trabalho da imprensa

PEQUIM - A China reforçou a segurança para evitar qualquer evento lembrando o massacre de 20 anos atrás na Praça da Paz Celestial. Policiais revistavam mochilas e até os bolsos de milhares de chineses e turistas estrangeiros, em postos de controle perto da grande praça, e impediram o trabalho de jornalistas. Em várias cidades pelo mundo, dezenas de milhares de pessoas realizaram manifestações, pedindo transparência e criticando a repressão do regime comunista chinês.

Policiais não uniformizados, "armados" com guarda-chuvas, ficaram na frente de cada fotógrafo ou câmera que tentava tirar fotos ou obter vídeos da célebre praça. Não era possível sequer obter imagens do popular retrato de Mao Tsé-tung, que milhares de turistas imortalizam todos os dias. A praça, fechada na quarta-feira aos visitantes, era acessível para o público, mas era necessário passar por controles e análise de qualquer garrafa de bebida. Além disso, os estrangeiros tinham que mostrar o passaporte antes de chegar à praça.

Enquanto isso, o governo chinês manteve o mesmo silêncio oficial dos últimos anos e respondeu hoje, em entrevista coletiva, às perguntas relativas ao aniversário, repetindo o comunicado que utiliza ano após ano. "Com relação ao incidente político ocorrido no final dos anos 80 do século passado, o partido e o governo já chegaram a uma conclusão. Ao longo de 30 anos de reforma e abertura, a China foi testemunha de um progresso econômico e social", disse o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Qin Gang.

Diante das perguntas sobre o aniversário, Qin - visivelmente incomodado - se limitou a afirmar que o governo chinês "já respondeu a essas questões em muitas ocasiões", e se recusou a entrar em qualquer tipo de detalhes.

Enquanto isso, diversas organizações de direitos humanos e civis denunciaram os esforços de Pequim em apagar qualquer lembrança do incidente, incluindo vários abusos contra os ativistas que vivem na China. A Human Rights in China (HRIC), com sede em Hong Kong, e um dos participantes tradicionais na vigília anual (no parque Vitória da ex-colônia britânica) pelos mortos na Praça da Paz Celestial, ressaltou a vigilância e a prisão domiciliar contra os dissidentes e peticionários chineses.

A Anistia Internacional (AI) denunciou também ter "recebido informações sobre graves acossamentos a ativistas de direitos humanos", afirmou em comunicado. Já a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) se referiu ao "blecaute informativo" aplicado "eficientemente (pelo governo) durante 20 anos", o que levou a que "a maior parte dos jovens chineses não conheça este evento", um bloqueio que se intensificou nos dias prévios ao aniversário.

A ausência total de menções na imprensa ou na televisão sobre o incidente dominou o dia, no qual uma anunciada concentração de familiares de vítimas prevista para a noite de quarta-feira no local onde estas morreram acabou não acontecendo. Houve nos últimos dias um aumento da já habitual censura na internet, com bloqueio de páginas como o Twitter e o Hotmail, e um cerco a ativistas e dissidentes, diante do temor das autoridades em relação a protestos ou manifestações que não aconteceram.

Na madrugada de 4 de junho de 1989, o Exército chinês entrou em Tiananmen para reprimir as manifestações de estudantes e intelectuais que lutavam por democracia. Tanques do Exército chinês entraram na Praça da Paz Celestial para reprimir manifestações pró-democracia que já duravam semanas. O saldo da matança até hoje é desconhecido, mas estimativas calculam entre centenas e milhares de mortos.


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