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Senado dos EUA aprova pacote de ajuda bilionária a setor financeiro
Para alívio, ainda que momentâneo, dos mercados mundiais, o Senado dos Estados Unidos aprovou na noite desta quarta-feira o pacote de ajuda ao setor financeiro, de US$ 700 bilhões, proposto pelo Departamento do Tesouro e defendido intensamente pelo presidente americano, George W. Bush. Submetido a reformas depois de ter sido rejeitado pela Câmara dos Representantes (deputados), o novo texto finalmente obteve apoio para ser aprovado.
No Senado, o texto recebeu 74 votos a favor e 25 contra. Agora, o projeto, com as reformas incluídas no Senado após as negociações entre republicanos e democratas, deve seguir para a Câmara, cuja votação está prevista para esta sexta-feira (3).
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Entre os senadores que aprovaram o pacote estão os candidatos à Presidência dos EUA, Barack Obama e John McCain. Apenas o senador Edward Kennedy, que está sob tratamento de um câncer, não votou.
A decisão de hoje deve causar euforia no mercado financeiro, reação oposta à que se viu logo após a rejeição, última na segunda-feira. Anunciada durante o horário de funcionamento do pregão nas Bolsas em Wall Street, o efeito entre os investidores foi devastador: o Dow Jones teve uma queda recorde em pontos, 777,68. No Brasil, a Bovespa chegou a perder mais de 13%.
A crise financeira, que já dura mais de um ano, vem causando quebras, prejuízos e problemas a instituições de alcance global, como os bancos Citigroup, UBS, Lehman Brothers, Washington Mutual, Bear Stearns, Fortis, Merrill Lynch, Wachovia, AIG, além das duas principais empresas do setor hipotecário americano, Fannie Mae e Freddie Mac.
Se não agirmos com responsabilidade hoje, nos arriscamos a [entrar em] uma crise na qual aposentados em todo o país perderão seus benefícios, pequenos empresários não poderão pagar seus empregados (...) e famílias não conseguirão obter hipotecas para suas casas ou financiamentos para seus carros", disse o líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, pouco antes da votação.
A jornada acerca do pacote bilionário começou no último dia 19 de setembro, quando o secretário do Tesouro, Henry Paulson, disse que o governo empregaria "centenas de bilhões de dólares" para responder à crise financeira, e que isso incluiria um aumento nas ações do governo no mercado imobiliário --a raiz dos problemas financeiros dos Estados Unidos.
No dia seguinte, o pacote foi preparado pelo Tesouro: um documento de três páginas, sem muitos detalhes, com uma cifra considerável (US$ 700 bilhões) para comprar títulos "podres", aqueles cuja expectativa de pagamento é baixíssima --e, como conseqüência, correm risco sério de calote.
Durante as negociações, o presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano), Ben Bernanke, compareceu ao Congresso para tentar mostrar a necessidade do pacote.
Bernanke, que foi chefe dos conselheiros econômicos da Casa Branca e é especialista na Grande Depressão de 1929, pintou um cenário preocupante, principalmente em período de campanha para eleições legislativas: "Acredito que se os mercados de crédito não estiverem funcionando, empregos serão perdidos, nossa taxa de crédito vai aumentar, mais despejos vão ocorrer, o PIB [Produto Interno Bruto] vai contrair e a economia não vai conseguir se recuperar de um modo normal, saudável", disse.
O próprio Bush, antes do fracasso da medida na segunda-feira, havia feito três apelos em rede nacional de TV aos congressistas para que o pacote fosse aprovado. No primeiro, no dia 24, Bush assumiu que o país está "imerso em uma grave crise financeira" e que a não-aprovação da ajuda mergulharia o país em "uma longa e dolorosa recessão". No dia 26, o presidente reconheceu haver desacordos sobre determinados aspectos do pacote, mas não sobre a necessidade de se fazer algo para evitar maiores danos à economia.
No dia 29, horas antes da votação na Câmara, Bush voltou à TV para dizer que a aprovação do pacote deveria ser difícil, mas que deveria passar. O governo, bem como todo o mercado financeiro, foi surpreendido.
"Cheque em branco"
Alguns sinais de que o governo deveria estar ao menos preparado para o que aconteceu na segunda-feira já haviam surgido antes da votação.
A líder democrata na Câmara, Nancy Pelosi, disse: "Não vamos mandar um cheque em branco para Wall Street". O presidente do Comitê de Bancos do Senado, Christopher Dodd, reconheceu "a gravidade da situação", mas definiu a crise como uma combinação de "cobiça privada e negligência pública".
Nas fileiras dos próprios republicanos --que, embora em minoria no Congresso e membros do mesmo partido do presidente Bush, foram maioria na rejeição da medida na Câmara-- o senador Richard Shelby disse: "Não recebemos nenhuma garantia digna de crédito de que esse plano vá funcionar. Podemos bem mandar US$ 700 bilhões, ou US$ 1 trilhão, e não ver a crise resolvida".
Logo após a rejeição, Paulson disse que os Estados Unidos precisam "o mais rápido possível" de um plano de resgate do sistema financeiro. Segundo ele, o que está em jogo é importante demais para que o projeto fracasse. A Casa Branca, por sua vez, informou estar "muito desapontada" com a decisão.
Pós-fracasso
Ontem, Bush voltou à TV pela quarta vez em menos de uma semana. No pronunciamento, disse que a demora na aprovação do pacote pioraria a cada dia a situação de crise no país.
"Precisamos de um projeto que realmente enfrente os problemas que estão prejudicando o sistema financeiro, que ajude a retomar o fluxo de crédito no país, para quem empresta, para quem toma o empréstimo, a fim de fazer a economia andar de novo", afirmou.
O apelo de Bush aparentemente convenceu os congressistas a atenderem o chamado à ação. O senador democrata John Kerry já ontem cogitava a votação do pacote no Senado, antes de ser avaliado mais uma vez pela Câmara. "É possível que o Senado americano proceda a isso amanhã (quarta) à noite (...). É uma das opções', disse o senador (que foi o oponente de Bush na eleição presidencial em 2004).
Hoje, deputados e senadores dos dois partidos já davam sinais de serem favoráveis ao pacote, na nova versão --depois de um dia de negociações de bastidores, o texto a ser levado ao Senado deve incluir descontos de impostos para empresas e ampliação das garantias do governo a depósitos bancários, dos atuais US$ 100 mil para US$ 250 mil.
O líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, disse que "a melhor coisa a fazer é seguir adiante", segundo o diário americano "The New York Times" ("NYT"). O líder da minoria republicana, Mitch McConnell, disse, por sua vez, acreditar que "preparamos um modo de seguirmos adiante e de colocar o país de volta nos trilhos".
O deputado republicano Roy Blunt disse ao programa de TV "Today", da rede americana NBC, que a perspectiva de aprovação havia melhorado com as mudanças efetuadas no Senado, ficando mais atraente para suas bases eleitorais.
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