YGOR SALLES
da Folha Online
Apesar de o nível de atividade da indústria paulista ter avançado em setembro, o próximo mês poderá trazer um tom mais pessimista por causa da chegada efetiva da crise financeira global, disse nesta terça-feira o diretor do Depecon (Departamento de Pesquisas Econômicas) da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Francini.
Francini baseia sua opinião no Sensor Fiesp de outubro, que tem como objetivo antecipar como será a atividade industrial no Estado para o mês que ainda não acabou. O indicador principal ficou em 50,4 pontos, bem menor que os 54,8 pontos da pesquisa de setembro. A queda mostra uma quebra da seqüência de otimismo dos industriais paulistas, já que há pelo menos cinco meses o indicador estava próximo dos 55 pontos.
Leia a cobertura completa da crise nos EUA
Entenda a evolução da crise que atinge a economia dos EUA
Veja os países e instituições financeiras afetados diretamente pela crise
Além disso, dos cinco sub-itens da pesquisa, quatro (mercado, vendas, estoque e investimentos) tiveram retração de setembro para outubro, e um (emprego) se manteve estável.
"Esses números chamam a atenção por causa da variação em relação aos meses anteriores", disse Francini. "A perspectiva positiva desapareceu." Com isso, diz o diretor da Fiesp, é muito provável que o INA (Indicador do Nível de Atividade), que subiu 3,7% em setembro e não deu sinais de crise, traga números menos otimistas em outubro.
Previsões obscuras
Por causa da crise, Francini informou que a Fiesp ainda não fez a revisão de suas projeções para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e da atividade industrial para 2008 e 2009.
Sobre 2008 o número não deve mudar muito. "Temos que lembrar que três quartos do ano já passaram. Mesmo que o quarto trimestre tenha um desempenho pior que o esperado, não deve afetar muito", disse. Por isso, explicou, a previsão de 5,4% para o PIB não deve oscilar muito.
Já as previsões para 2009 devem ser mais complicadas porque ninguém sabe qual é o tamanho do problema. "Sabemos que será pior do que 2008, o que não responde muita coisa", disse. Para ele, as únicas coisas certas sobre a crise é que é grave, que todos os países serão afetados e que é longa, a ponto de ser medida "por semestres ou até por anos."
Sobre como o Brasil ficará diante dessa situação, Francini apenas ressaltou que o país pode aspirar ter um desempenho melhor que a média. "Mas isso não é esclarecedor. Se o mundo crescer 4% menos, podemos ter retração de 2%. Seremos melhores, mas ainda assim teríamos um resultado ruim", disse.
Crédito
A principal fonte de estresse causado pela crise para a indústria paulista e o empresariado em geral, diz Francini, é a redução do crédito. "A percepção [sobre o efeito da falta de crédito] ainda é difusa. Só está claro, por enquanto, o aumento do custo", disse o diretor da Fiesp.
Ele ressaltou que a falta de recursos externos pressionou ainda mais o sistema creditício porque quem captava no exterior teve que se voltar ao mercado interno. "O resultado foi o aumento generalizado do custo do crédito, que foi o que os empresários perceberam", disse. Um exemplo é o custo do ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio), linha muito usada por empresas exportadoras, que "no mínimo dobrou."
O outro motivo para a dificuldade de obter financiamentos é a "desconfiança generalizada" causada pelas perdas que algumas empresas tiveram com apostas no mercado cambial. "Seria bom se resolvessem isso logo porque é mais uma nuvem na atual situação", disse o diretor da Fiesp.
Nenhum comentário:
Postar um comentário